quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quick wins

                                                                                                                                         
Diagnóstico


Não é muito frequente haver um acordo tão alargado nos vários setores de opinião do futebol português como aquele que existe hoje sobre o estado atual da seleção e, em particular, sobre a falta de capacidade que Paulo Bento está a revelar para liderar o tão aguardado processo de renovação da equipa portuguesa.

Há, no entanto, uma franja de opinion makers que se recusam a debater uma eventual troca no cargo de selecionador por, na sua opinião, existirem outras questões estruturais que deveriam ser abordadas em primeiro lugar - nomeadamente a falta de aposta no jogador português nas competições nacionais e a ausência de um plano integrado das seleções, que vá preparando - à margem do trabalho realizado nos clubes - um grupo de jogadores das camadas mais jovens que daqui a uns anos possa ser a base de recrutamento da seleção principal.

Confesso que estes tipo de analistas me fazem uma certa confusão: adoram assumir o papel de estrategas do edifício do futebol português, ao mesmo tempo que revelam um notório enfado quando são desafiados a comentar questões que para si são laterais - como a competência efetiva dos treinadores na gestão, liderança e aproveitamento do grupo de jogadores que têm à sua disposição. São uma espécie de masterminds do pontapé na bola.

Ou seja, este tipo de comentadores acha que não vale a pena estarmos a discutir a continuidade de Paulo Bento sem que se redefina toda organização das seleções. Ainda bem que são apenas de comentadores de futebol, e não médicos: se lhes aparecesse um paciente diabético a pedir-lhes um antibiótico para curar uma infecção, eram capazes de o mandar para casa sem medicamento porque não deixariam de ser doentes crónicos quando a infecção passasse. 


Separação dos problemas

Não vale a pena ignorar a situação em que estamos: Paulo Bento é um problema que urge resolver, a bem do curto / médio prazo da seleção. Não faz sentido adiar a resolução desta questão por estarmos à espera de um plano de ação de longo prazo que deveria ser conduzido pela estrutura federativa - independentemente de quem seja o treinador da seleção principal. O selecionador tem que ser, acima de tudo, alguém que saiba aproveitar os melhores recursos que tem à data de cada um dos compromissos da seleção, e colocá-los a render razoavelmente em campo dispondo apenas de um punhado de treinos. Uma pessoa adaptável e capaz de desencantar soluções rápidas e fáceis de implementar dentro de uma equipa de futebol. 

Não se pode colocar um plano diretor de gerações de futebolistas nas mãos de alguém que tem que apresentar resultados dentro das quatro linhas e cujo destino está, quer se queira quer não, agarrado à direção que a bola toma após bater na barra.

Concordo que devem ser pensadas e implementadas diretrizes de longo prazo a pensar na próxima década, mas isso não deve depender do selecionador nem o selecionador deve ser escolhido para liderar esse processo. O selecionador é um assalariado da Federação que deve acatar as linhas orientadoras definidas pela direção.


Quick Wins

A seleção está a viver uma crise profunda, e é imperativo que se tomem medidas imediatas. Em situações de crise numa empresa, um gestor deve ser capaz de delinear um plano macro que permita gradualmente a inversão da situação, mas também se espera dele que consiga um punhado de quick wins que permitam quase de imediato apresentar algumas melhorias visíveis.

É isso que a seleção está a precisar já: de quick wins que nos coloquem com maiores probabilidades de vencer os compromissos que se seguem, nomeadamente o desafio com a Dinamarca daqui a um mês. 

Assim de repente surgem-me duas hipóteses para ganhos imediatos:

a) Um selecionador novo que faça o corte as lealdades que Paulo Bento tem com o seu núcleo duro de jogadores, chamando os jogadores de maior valor ou em melhor forma - independentemente do seu nome, clube ou campeonato onde jogue). Abrir espaço a Danny, Adrien, Quaresma, Ronny Lopes, José Fonte, Rúben Neves, ou qualquer outro jogador que se destaque no futebol português em clubes que não os grandes e o Braga.

b) Admitir uma evidência que já nos foi útil no passado: o novo selecionador pode aproveitar, enquanto não tem tempo para implementar a sua ideia de jogo, o trabalho que é feito nos clubes. Assim como a seleção de 2004 deve o seu sucesso ao trabalho de Mourinho no Porto, porque não aproveitar já a base do Sporting nos próximos desafios enquanto os outros novos elementos não se integram com o resto dos companheiros?

Solução de recurso contra a Dinamarca

Não estou com isto a querer comparar estes jogadores com o Porto de Paulo Ferreira, Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Costinha, Maniche e Deco, mas perante o que temos disponível não seria certamente uma pior solução do que aqueles em quem Paulo Bento tem apostado. Mais: em termos de qualidade individual não vejo que se perdesse assim tanto. Cédric é melhor que João Pereira, Adrien nem vale a pena referir, Nani e William já são titulares, e Mané não é pior do que Vieirinha. O único caso mais discutível é André Martins por João Moutinho, mas a verdade é que o jogador do Mónaco está a atravessar uma baixa de forma bastante prolongada. Será que as rotinas adquiridas no Sporting não trariam outro tipo de ganhos imediatos? Não me refiro a isto como uma solução para o resto da qualificação, é só uma forma rápida de ganhar um onze com um certo nível de entrosamento num cenário em que existirão poucos treinos antes do jogo com a Dinamarca.


Bloqueio

Sei que se trata de uma ideia utópica. Nem a maior parte dos benfiquistas e portistas aceitaria uma medida destas - mesmo que fosse transitória e em circunstâncias de emergência - nem, acima de tudo, se poderia esperar que aqueles que mandam nas seleções alguma vez aceitassem 7 jogadores do Sporting no onze titular. Seria de esperar todo o tipo de bloqueios e aposto que haveria muita gente a desejar o insucesso da seleção, em nome do seu orgulho pessoal.