Enquanto conduzia de regresso a casa após o frustrante empate contra o Belenenses, fui ouvindo via rádio a conferência de imprensa de Marco Silva. Muitas das perguntas colocadas pelos jornalistas giraram à volta de média de idades da equipa, procurando ligar este mau arranque de campeonato à falta de experiência da maior parte dos jogadores do Sporting.
Estive a pensar sobre a questão da (in)experiência do plantel, e não me parece que seja por aí que se explique a perda de pontos neste início de temporada. Olhemos para os jogadores mais utilizados nos quatro jogos do campeonato: Rui Patrício, Maurício, Jefferson, William, Adrien, André Martins, Slimani, Nani, Carrillo, Montero e Capel transitaram do plantel da época passada, em que alguns deles são internacionais e têm experiência de fases finais de seleções, e quase todos eles com três ou mais épocas de primeira divisão.
Fora deste grupo ficam apenas Esgaio (que tem jogado devido à ausência por lesão de Cédric) e Sarr, o que deita por terra a teoria da inexperiência - e no sábado não foi certamente por eles que não ganhámos, tantas foram as oportunidades de golo que desperdiçámos ao longo do jogo. O problema não esteve no golo que sofremos, esteve principalmente naqueles que não conseguimos marcar.
Terá algum peso a candidatura declarada ao título nesta época, em oposição ao pensamento jogo-a-jogo da época passada? Sinceramente não me parece - o Sporting, no ano passado, a partir de outubro / novembro sentiu constantemente a pressão de ter que vencer. O discurso do jogo-a-jogo manteve-se mas não acredito que existissem jogadores que não ambicionassem o título. E não tenho sentido por parte dos adeptos neste início de temporada menos tolerância ao fracasso do que houve no ano passado.
Há também quem comece a apontar o dedo no sentido da falta de experiência de Marco Silva para estar à frente de um clube com a dimensão do Sporting. Efetivamente pode-se argumentar que treinar o Sporting é completamente diferente de treinar o Estoril - o que é indesmentível -, mas ainda é muito prematuro para podermos afirmar que a inexperiência do treinador nos está a custar pontos.
Admito, quanto muito, que essa inexperiência se note um pouco no contacto com os jornalistas. Por algumas vezes ouvi respostas de Marco Silva que, logo no momento, não me pareceram as mais adequadas - essencialmente por deixarem transparecer alguma insegurança sobre os temas em discussão. Nessas situações, Marco Silva não disse nenhuma mentira (por exemplo, quando afirmou que os episódios disciplinares de Rojo e Slimani poderiam ter impacto na equipa no jogo com a Académica), mas um treinador mais habituado à vida de um clube mediático provavelmente teria respondido de uma forma mais segura e afirmativa, desvalorizando o sucedido.
De qualquer forma, a qualidade de algumas respostas aos jornalistas não é de todo suficiente para duvidarmos da competência de Marco Silva para o cargo. Podemos falar, por exemplo, de Vítor Pereira, um treinador sofrível na comunicação (e com dificuldades em impôr-se como líder), mas que não deixou de realizar duas épocas muito acima da média. Ou então Jorge Jesus, um desastre a comunicar, cujas respostas a perguntas mais complicadas são normalmente exibições de egocentrismo prepotente em como ele, o mestre da tática, conseguirá sempre encontrar uma solução que salvará o clube dos contratempos que vão surgindo no seu caminho.
Muito mais importante do que as declarações aos jornalistas é competência técnica do treinador e a sua capacidade enquanto líder do plantel. E aí tenho confiança de que Marco Silva é efetivamente o homem certo para o lugar que ocupa. A competência técnica de Marco Silva é indiscutível - o trabalho feito em duas épocas consecutivas no Estoril não pode ter sido obra do acaso - e a liderança é algo que se constrói ao longo do tempo (a maior parte dos treinadores não é um Churchill ou um Kennedy que cative os seus homens com um par de frases inspiradoras).
Na minha opinião, os pontos que perdemos devem-se sobretudo à ineficácia na concretização. O entrosamento entre os centrais também é um problema a resolver (e em que Marco Silva tem poucas responsabilidades, pois viu Dier e Rojo saírem a poucos dias do início da época), e ainda há o subrendimento de William. No entanto, também há melhorias evidentes: Carrillo está transfigurado, Nani promete ser o fenómeno que todos nós desejávamos, e o Sporting tem conseguido chegar à baliza adversária com bastante mais facilidade do que na época passada.
Apesar disso, concordo com aqueles que dizem que talvez seja altura de se ousar cortar com um dos maiores dogmas jardinistas - a substituição do atual "10" (que não é 10 coisa nenhuma) por troca de um 2º homem com mais presença na área. A grande questão não é se Marco Silva o irá fazer - isso parece-me inevitável em função das muitas opções que ainda não mereceram a confiança do treinador e que poderão ajudar a fazer esse corte -, mas se, quando achar que é a melhor altura de o fazer, ainda estaremos na corrida pelo 1º lugar. Como é evidente, isso não depende apenas do treinador, mas também da capacidade de adaptação dos jogadores à nova realidade em que estão inseridos.
Acima de tudo, acredito que Marco Silva é parte da solução e não parte do problema. É um treinador jovem com enormes qualidades e que crescerá ao longo dos quatro anos de contrato, pelo que não nos fará bem nenhum estarmos a contestar a sua competência apenas ao fim de um mês de competição. A estabilidade é um valor importantíssimo, e estaremos a prestar um péssimo serviço a nós próprios se começarmos a ver no treinador a raiz de todos os males.