Olhando isoladamente para a venda de Bernardo Silva ao Mónaco por €15,75M, não é possível deixar de considerar que se trata de um negócio magnífico para o Benfica, falando apenas do ponto de vista financeiro.
Magnífico, mas também previsível. Em agosto, Vieira já tinha mencionado os €15M como um valor de referência, tal como já se falava desde fevereiro de 2014 na cedência do pack Silva / Cancelo / Cavaleiro, ou seja, meses antes de os empréstimos serem uma realidade.
E segue uma outra venda pré-anunciada desde o verão passado: Enzo Perez, jogador de quase 29 anos, foi transferido por €25M - o mesmo valor que uns meses antes o Real Madrid pagou ao Bayern por Toni Kroos, jogador de 24 anos com um mundial e uma champions no currículo.
Todas estas operações parecem obedecer a um roteiro pré-programado, o que é uma originalidade num mundo tão volátil e tão dependente de resultados como é o do futebol. E perante esta segurança no rumo que está a ser seguido, suponho que seja apenas uma questão de tempo para vermos o Valência anunciar a contratação de Cancelo - aliás, o próprio presidente do Valência disse publicamente em agosto que Cancelo pertence à Meriton (fundo de Peter Lim) e não ao Benfica. Quanto a Cavaleiro e ao Coruña trata-se de outra conversa, pelo menos enquanto um novo magnata não pegar no clube galego - mas também se diz que Lim já assegurou o direito de preferência sobre o jogador. De qualquer forma já todos perceberam que Cavaleiro nunca mais colocará um pé na Luz - e isso não tem nada a ver com a vontade de Jorge Jesus em tê-lo ou não de volta.
Voltando à venda de Bernardo Silva, a transferência nem deveria ser uma necessidade para o Benfica, pois o clube já tinha faturado €118M ao longo dos últimos 12 meses. Com esta transferência as vendas atingem a incrível marca de €134M.
E vale a pena lembrar que este triângulo amoroso (Vieira / Mendes / Lim) começou com a venda de Rodrigo por €30M e de André Gomes por €15M, jogadores que em janeiro do ano passado estavam longe de serem considerados fundamentais para o Benfica. No caso do português, nem 5 minutos tinha jogado para o campeonato no momento em que foi vendido.
Para além do Benfica, há dois pontos em comum em tudo isto:
- O primeiro são as verbas astronómicas envolvidas, sem qualquer correspondência com os padrões normais de funcionamento do mercado. O Benfica realizou um milagre da alquimia ao encontrar a fórmula para o poder de Midas, em que vários jogadores obtêm uma valorização claramente inflacionada relativamente ao que demonstraram dentro das quatro linhas. O potencial tem um valor monetário mas não substitui as provas dadas em competição.
- O segundo é que os compradores são clubes que não são obrigados a prestar contas publicamente, cuja política desportiva é definida por Jorge Mendes, e que são detidos por bilionários recém-chegados ao mundo do futebol.
Parece-me complicado acreditar piamente na veracidade de negócios pré-determinados de jogadores hiper-valorizados que desafiam qualquer racionalidade desportiva, e cujo efeito principal é colocar muito dinheiro a circular (pelo menos ao nível contabilístico) - dinheiro esse que tem invariavelmente as mesmas fontes.
Depois admirem-se se o recetor desses valores tiver que estar sempre a inventar novas obras e comprar carradas de jogadores de qualidade duvidosa (sempre com as generosas comissões em anexo) de forma a gerar custos que compensem as super-receitas que estão registadas nas contas. É que milhões da treta podem servir para subir no ranking dos clubes que mais faturam mas ainda não servem para abater o passivo bancário - que é a rubrica mais escrutinada de todas as que os clubes têm que apresentar nas suas contas.
Aliás, há certos setores de atividade económica em que se uma empresa vendesse sistematicamente os seus bens ou serviços por um preço estupidamente acima do valor aparente de mercado e continuasse a ser incapaz de abater as suas dividas, aposto que já teria recebido a visita de uma brigada especial nos seus escritórios para verificar o que se estaria a passar.
Depois admirem-se se o recetor desses valores tiver que estar sempre a inventar novas obras e comprar carradas de jogadores de qualidade duvidosa (sempre com as generosas comissões em anexo) de forma a gerar custos que compensem as super-receitas que estão registadas nas contas. É que milhões da treta podem servir para subir no ranking dos clubes que mais faturam mas ainda não servem para abater o passivo bancário - que é a rubrica mais escrutinada de todas as que os clubes têm que apresentar nas suas contas.
Aliás, há certos setores de atividade económica em que se uma empresa vendesse sistematicamente os seus bens ou serviços por um preço estupidamente acima do valor aparente de mercado e continuasse a ser incapaz de abater as suas dividas, aposto que já teria recebido a visita de uma brigada especial nos seus escritórios para verificar o que se estaria a passar.