segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tremenda frustração

Acabou por ser uma partida que ao nível da qualidade de jogo ficou bastante aquém das expetativas, mas compensou em termos de intensidade e da emoção no final. Foi bastante evidente desde o princípio que o Benfica sairia satisfeito de Alvalade com o empate, acabando por fazer ofensivamente um jogo abaixo do nível de outras equipas que nos visitaram, como o Rio Ave, Marítimo, Moreirense ou Paços de Ferreira. Reconheça-se no entanto que defensivamente demonstraram toda a sua experiência e organização, que raramente o Sporting - a única equipa que procurou ativamente o golo - conseguiu romper. 

O golo de Jefferson surgiu numa altura em que já poucos acreditariam que o resultado sofreria alterações, mas é preciso dar mérito a Samaris - que mostrou aos construtores de jogo do Sporting como é que se faz um passe em profundidade a rasgar a defesa com conta, peso e medida. Em vantagem a três minutos do fim era impensável que a vitória nos fugisse, mas mais uma vez conseguimos demonstrar uma enorme incapacidade para gerir emocionalmente os momentos decisivos das partidas. O Benfica agradeceu, marcou e acabou por conseguir um empate que pouco fez por merecer.



Positivo

Um meio-campo que engoliu o outro - fantástico o trabalho do trio do meio-campo do Sporting. William foi o melhor jogador em campo. Ganhou praticamente todos os duelos que teve na sua área de ação e esteve em grande plano no capítulo do passe, soltando a bola sempre no momento certo e com grande precisão, fossem mais curtos e rasteiros ou mais longos pelo ar. Adrien e João Mário vestiram o fato-macaco e estiveram em todo lado, apesar de lhes ter faltado o esclarecimento necessário no momento do último passe. Todos juntos conseguiram anular de forma extremamente eficaz a construção de jogo do Benfica, que raramente conseguiu ligar mais que três passes seguidos e aproximar-se da área do Sporting.

O quarteto defensivo - o melhor elogio que se pode fazer aos laterais é que tanto Ola John como Sálvio simplesmente não existiram em Alvalade. Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo fizeram um jogo sem falhas, não só contendo Lima e Jonas mas também fazendo as dobras aos respetivos laterais sempre que necessário. Quaisquer dúvidas que pudessem existir de que temos aqui uma dupla com enorme futuro ficaram totalmente dissipadas - prova inteiramente superada.

A prova que a aposta na formação não implica menor ambição - Rui Patrício, Cédric, Tobias, William, Adrien, João Mário, Nani e Carlos Mané. Oito jogadores da formação a que se juntou um nono português, Paulo Oliveira. Mandaram no jogo e mereciam melhor sorte, mostrando que jogadores adquiridos e pagos a peso de ouro não significam necessariamente maior qualidade do que a prata da casa.

Estádio cheio - foi bom ver Alvalade novamente perto dos 50.000 espectadores.



Negativo

A equipa que veio jogar para o pontinho... - tal como qualquer Setúbal, Boavista ou Académica, é evidente que o Benfica tem o direito de utilizar a estratégia que considere mais adequada, mas não foi bonito de ver o antijogo praticado desde os minutos iniciais. Lançamentos e pontapés de baliza que demoravam uma eternidade a serem marcados, repetidas simulações de lesões mal amanhadas, e zero de risco ofensivo. Ninguém diria que se tratava do campeão nacional em título, mas a realidade crua e dura é que saem de Alvalade mais perto de o revalidar.

... e a nossa incapacidade de a superar - fomos a única equipa com iniciativa ofensiva mas não fomos suficientemente lúcidos para ultrapassar a muralha que o Benfica colocou em campo. Não só abusámos dos cruzamentos para a área (alguém avisou os jogadores que Slimani não estava em campo?), como também podíamos ter feito um trabalho bastante melhor no momento do último passe. Também me pareceu que por variadíssimas vezes optámos por complicar, quando jogar simples talvez desse melhor resultado. Nani esteve numa noite de total desinspiração, Montero nunca conseguiu ser uma presença ameaçadora na área, e Carrillo, tendo sido o melhor dos três, também não esteve nos seus melhores dias. Tudo isto contribuiu para as poucas oportunidades de golo que acabámos por criar.

Falta de controlo emocional depois de ter feito o mais difícil - é provavelmente o ponto que teremos que melhorar mais para podermos vir a ser campeões. Tem sido demasiado frequente deixarmos os adversários reentrarem no jogo pouco depois de nos termos colocado numa posição vantajosa. Foi assim hoje, como já tinha sido com o Rio Ave, com o Marítimo, com o Schalke ou com o Maribor. Curiosamente, tudo jogos disputados em Alvalade.

Lançamento de petardos, tochas e pirotecnias diversas - e se as enfiassem acesas na vossa cavidade gastrointestinal para ver se têm outro tipo de ideias brilhantes?


Outras notas

O crime compensa, ou a suprema ironia deste jogo - devido às constantes perdas de tempo provocadas por jogadores do Benfica, o árbitro deu 4 minutos de descontos. E foi ao 4º minuto de descontos que acabariam por marcar o golo do empate...

Jorge Jesus, comediante de serviço - saí com uma tremenda azia do estádio, mas o treinador do Benfica conseguiu deixar-me com um sorriso nos lábios quando disse na flash interview que houve sabedoria na forma como chegou ao empate, fez-me soltar um riso espontâneo quando chamou "Williams" ao nº 14 do Sporting, e deixou-me à beira de gargalhadas incontidas quando na conferência de imprensa mencionou Ola Jonas (o médio, não o avançado - apressou-se a esclarecer de imediato).

Foram miúdas adolescentes que fizeram a cobertura do jogo para a Antena 1? - enquanto regressava a casa, fui reparando que alguns elementos da equipa da Antena 1 que fazia o rescaldo da partida eram incapazes de conter as risadinhas, certamente consequência da excitação que aquele final de partida lhes causou. Uma boa disposição vibrante recheada de graças, gracinhas e graçolas, análises que começaram e acabaram no desempenho dos jogadores do Benfica (esteve mais alguma equipa em campo?), elogios intermináveis a Artur, Luisão, Jardel, Maxi e Samaris sem que houvesse algum destaque a jogadores do Sporting. Só é pena que na realidade não fossem miúdas adolescentes, eram jornalistas profissionais pagos pelos nossos impostos que não conseguiram esconder a satisfação de um empate que julgariam impossível após o golo de Jefferson.



É difícil aceitar a forma como acabámos por desperdiçar dois pontos e a oportunidade de reduzirmos a diferença para a liderança do campeonato. No entanto, ficou a demonstração de que temos uma equipa que, ao fim de quatro dérbis / clássicos, foi quase sempre superior aos adversários diretos e demonstrou inequivocamente que o trabalho feito pela estrutura, equipa técnica e jogadores é de qualidade e está no caminho certo. É uma equipa que ainda nos dará muitas alegrias.

Em relação às contas do campeonato, apesar de mantermos os sete pontos de atraso em relação ao Benfica ficámos indiscutivelmente mais longe de podermos alcançar o primeiro lugar. Agora, como Marco Silva referiu no final, a única forma de deixar esta desilusão para trás é ganhando o jogo no Restelo. Façamos o nosso trabalho conquistando os três pontos em cada partida, de forma a colocarmo-nos em posição de aproveitar qualquer deslize que o duo da frente possa cometer.