Foi um jogo feio do Sporting. Parcialmente porque a equipa pareceu sempre preocupada em conduzir a bola pelas faixas - talvez por envolver menor risco em caso de perda - que tornou o jogo bastante mais previsível e fácil de anular por um Nacional quase sempre bem organizado, e parcialmente porque tivemos vários elementos em claro sub-rendimento, que de forma demasiado frequente complicavam o que era simples e desperdiçavam de forma desesperante sucessivas jogadas de ataque.
Até compreendo a opção da equipa em arriscar pouco - para todos os efeitos o 0-0 interessava ao Sporting e o Nacional é especialmente perigoso se tiver espaço para contra-atacar -, mas o problema é que isso deixa qualquer adepto sportinguista com o coração nas mãos enquanto o resultado não se desata. Se há coisa que o Sporting não tem sido, é ser uma equipa segura na altura de defender um resultado, e vivemos em permanente ansiedade à espera que o acaso nos pregue uma nova e inevitável partida, deitando tudo a perder. Mas justiça seja feita aos jogadores: na altura decisiva souberam manter o Nacional bem longe da nossa área, garantido desta forma uma noite descansada aos senhores do INEM que estavam de serviço no estádio.
Resultou, carimbámos a presença na final, e isso é o que é verdadeiramente importante. Foi feio? Paciência. Vai ser a última das minhas preocupações quando estiver no Estádio Nacional no dia 31 de maio.
Positivo
#RumoAoJamor - tudo o que de menos agradável se passou ao longo dos 90 minutos tem que ser relativizado. O fundamental era assegurar o apuramento, e foi precisamente isso que aconteceu.
Cabeça fria - Manuel Machado estacionou o autocarro na sua metade de terreno, na esperança que o tempo avançasse e o nervosismo começasse a tomar conta do estádio e acabasse por contagiar os jogadores do Sporting. Correu-lhe mal. O Sporting esteve sempre muito concentrado e assertivo no momento de parar as tentativas de contra-ataque do Nacional, e suficientemente organizado na pressão ao portador da bola na fase de construção adversária para rapidamente recuperar a posse. No momento em que Manuel Machado decidiu arriscar trocando Ali Ghazal por Gomaa, o Sporting engoliu a linha média adversária e, consequentemente, dominou por completo o jogo.
A maturidade de Ewerton - Muito justamente, Marco Silva realçou na conferência de imprensa a maturidade do brasileiro. Mais um jogo de qualidade, em que defensivamente esteve irrepreensível, revelando e transmitindo uma serenidade que faz muita falta à nossa linha defensiva. Com a bola nos pés parece sentir-se mais à vontade que Paulo Oliveira, sendo bem mais certeiro nos passes de longa distância. E, claro, estreou-se a marcar com o golo que devolveu a tranquilidade ao estádio. Creio que já é seguro dizer que se trata de uma das melhores contratações de inverno que o Sporting realizou ao longo da última década.
As defesas de Rui Patrício - o Nacional raramente chegou à nossa baliza, mas quando o fez foi extremamente perigoso. Rui Patrício foi novamente decisivo ao realizar um pequeno conjunto de defesas difíceis - em particular um mergulho para parar um cabeceamento à entrada da pequena área - que nos mantiveram na frente da eliminatória.
Jefferson, nos dois lados do campo - foi dos jogadores ofensivamente mais dinâmicos e esteve também bem nas tarefas defensivas. Fez a assistência (mais uma) para Ewerton e afastou uma bola quase em cima da linha de golo após uma defesa incompleta (e complicada) de Rui Patrício.
A entrada de André Martins - entrou bem. Já tinha estado em bom nível contra o Paços de Ferreira, e hoje acrescentou mais consistência ao nosso meio-campo numa altura em que o Nacional tentava arriscar mais alguma coisa. Não me escandalizaria se fosse titular contra o Setúbal no lugar de Adrien.
Negativo
Surto de azelhice - atacou vários elementos da equipa, em especial Slimani, Adrien e o próprio Nani. A participação de Slimani resume-se à assistência de cabeça para isolar João Mário (mais uma oportunidade desperdiçada, João?), com algumas boas oportunidades para finalizar de cabeça que estranhamente não aproveitou, e tragicamente desastrado no momento de rematar com os pés. Adrien pareceu um pouco perdido em campo, e para agravar teve algumas perdas de bola que podiam ter causado situações de contra-ataque bem perigosas. Nani esteve muito mal na condução dos nossos lances de contra-ataque e na execução das bolas paradas. Com a bola nos pés poucas coisas lhe saíram bem. Fruto de ansiedade ou foi uma simples noite desinspirada? A bem das nossas hipóteses na final, espero que seja a segunda.
A saída de Carrillo - é verdade que o peruano esteve algo inconstante, mas saíram dos pés dele os cruzamentos mais perigosos. Nani esteve mais em jogo mas bastante mais ineficaz, e Adrien também pouco estava a acrescentar à equipa. Não devia ter sido Carrillo a sair, pelo que não compreendi a opção de Marco Silva. Uma situação que tem sido, injustificadamente, demasiado recorrente nesta temporada.
16.315 - estava uma noite de temporal, mas foi uma enorme desilusão ver tão poucas pessoas no estádio. Um jogo desta importância merecia bastantes mais sportinguistas na bancada. Aposto que não serão apenas 16.315 os pedidos de bilhetes para a final, no entanto. É triste.
Jamor, here we come!