Estar afastado da luta pelo título na altura das grandes decisões causa um sentimento de grande frustração, mas por outro lado permite olhar para a atualidade com um distanciamento superior e, como tal, com uma maior dose de racionalidade. É-me indiferente que seja o Benfica ou o Porto a ganhar o campeonato - é igualmente mau ver uns ou outros a erguerem o troféu -, pelo que aqui fica a uma opinião desinteressada de quem sabe que no final do dia ficará sempre profundamente aziado por ver a alegria do vencedor e marginalmente consolado por testemunhar a miséria dos derrotados.
Em primeiro lugar, parece-me evidente que será um jogo de tensão máxima em que ambos os lados estarão imensamente pressionados para saírem na liderança do campeonato no final dos 90 minutos (não menosprezar o tempo de descontos). No entanto, creio que o Porto entrará em campo mais pressionado do que o Benfica.
Sim, é verdade que o Benfica dispôs na 18ª jornada uma oportunidade de ouro para sentenciar o campeonato (ao desperdiçar a possibilidade de ficar com 9 pontos de avanço sobre o 2º classificado) e que tem estado na liderança desde o princípio da competição, e como tal uma eventual não revalidação do título será tremendamente difícil de digerir. Mas do outro lado está um clube que decidiu - contra tudo aquilo que seria expectável numa conjuntura económica desfavorável - apresentar o maior investimento da história do futebol português, e que se arrisca a sair da Luz condenado a um segundo ano consecutivo de jejum. Coisa que, como sabemos, ninguém está habituado para aquelas bandas.
Olhando para o percurso de ambas as equipas, parece-me que o Porto é aquela que consegue atingir um patamar exibicional mais elevado, mas o Benfica é uma equipa mais sólida e muito pragmática. O facto de poder jogar na expetativa e no erro do adversário favorece à partida a equipa de Jesus - que não tem sido capaz de se impôr perante equipas acima da mediania defrontando-os olhos nos olhos. Será também muito relevante para o desfecho do jogo o estado físico e psicológico com que chegarão os portistas após a goleada de Munique. E até que ponto a menor identificação do plantel do Porto com a importância das competições internas poderá comprometer os "110"% de esforço e empenho que normalmente fazem toda a diferença em ocasiões desta importância?
Como é óbvio, será uma partida de resultado imprevisível cujo decurso dependerá de inúmeras variáveis - não há estratégia ou previsão que resistam a um golo sofrido nos minutos iniciais ou a uma expulsão prematura. Mas mais importante que o próprio resultado, é saber quem sairá em primeiro na classificação. Se tivesse que colocar as fichas numa equipa, apostaria com algum nível de segurança no Benfica. Considerando que para chegar ao 1º lugar o Porto terá que vencer por 2 golos e que o Benfica é uma equipa marca sempre quando joga em casa, é razoável esperar que os visitantes apenas alcançarão a liderança se marcarem 3 ou mais golos na baliza de Júlio César - marca que definitivamente não será nada fácil de concretizar.