segunda-feira, 29 de junho de 2015

Capas que não fizeram história, nº 50: 35 milhões limpinhos

9 de junho de 2015

Há menos de 20 dias, o mundo pintado a cor-de-rosa e azul em que vive o jornal O Jogo acordava com a notícia de que o Porto iria encaixar 35 milhões limpinhos de percentagens de vendas cedidas a terceiros, comissões e outras despesas pela venda do craque Jackson Martinez. Palavras de Henrique Pompeo, empresário do jogador, que assim anunciava a quebra de uma tradição tão portista de pagamento de generosas comissões aos diversos intervenientes no processo de uma transferência - independentemente de serem os compradores ou os vendedores.

Estranhei de imediato estas palavras, pois lembrava-me de que no R&C do final de 2013/14 o Porto anunciou o seguinte: 

Fonte: R&C da Porto, SAD, do exercício de 2013/14

Portanto, ou houve na capa de O Jogo algum erro de interpretação das palavras do agente, ou o jornal anda a tentar enganar o seu público. Nunca vi nenhum agente de jogador que abdicasse das suas comissões ou, pior, de um direito conquistado num processo de renovação que, neste caso, valeria 1,75M.

Relembro que esta capa de O Jogo aconteceu um dia depois de Galliani e Nélio Lucas se terem deslocado ao Porto negociar a transferência de Jackson.

Entretanto o negócio com o Milan abortou. O Porto queria Jackson no Milan, mas aparentemente Jackson não quer ir para Itália, preferindo o Atlético Madrid. Entretanto o Milan contratou Bacca ao Sevilha por 25M, o que significa que essa porta se fechou, deixando o Porto com um problema nas mãos: um jogador publicamente descontente e zero clubes dispostos a bater a cláusula a pronto.

E para compor o ramalhete, no passado sábado o empresário disse as seguintes palavras:

(obrigado @captomente)

Foi um choque para mim, que na minha ingenuidade acreditava que decorria no Porto a era do capitalismo romântico, em que fundos, clubes e agentes vivem para servir o clube de Pinto da Costa - preocupando-se mais com a posição negocial do Porto do que com os seus próprios interesses.

É claro que o spin habitual já começou nos comentários dos nossos experts: Henrique Pompeo é um bandido oportunista que está a tratar mal o clube, que é a vítima no meio desta novela. Aliás, à semelhança do que se diz de Paco Casal, o empresário de Maxi Pereira. O único empresário honesto que existe para a CS portuguesa deve ser mesmo Catió Baldé.

Não sabei que combinações foram feitas entre Jackson e o Porto há um ano, mas lembro-me que Jackson não era obrigado a renovar e poderia sair hoje a custo zero. O Porto baixou-lhe a cláusula de rescisão e deu uma percentagem da venda ao agente, num sinal indicativo de que era o jogador que tinha a vantagem negocial. Duvido que Jackson alguma vez tenha acordado que seria o Porto a escolher-lhe o clube de destino.

Enfim, o que se pode concluir de tudo isto é que a palavra do Papa já não é o que era...


Vindo do homem que convenceu um dia Futre a ir para o Atlético de Madrid com as famosas palavras "O carro é muito bonito, não é Paulinho?" sobre o Porsche amarelo que lhe queriam oferecer, estamos perante mais um bom exemplo de que, definitivamente, o tempo não volta para trás.