quinta-feira, 13 de maio de 2021

Os derrotados de 2020/21

O rescaldo desta tão desejada conquista do campeonato não ficaria completo destacando apenas os responsáveis pelo sucesso: a história do título também é explicada em parte pelos responsáveis pelo não insucesso, protagonistas que, seja por natural obrigação (pelo cargo que ocupam) ou por indisfarçável desejo (apesar do cargo que ocupam), fizeram tudo o que podiam para impedir este desfecho e, ao contrário do que tem sido costume, falharam.

O futebol português tem a particularidade de estar carregada de figuras para quem não existe limites de tabuleiros onde se pode jogar. Qualquer questão, de natureza pessoal ou profissional, desportiva ou não desportiva, é utilizada desde que isso possa aproximar um centímetro que seja da sua meta. E não faltaram tabuleiros originais onde se jogou em 2020/21...

Aqui ficam os principais, por ordem crescente de relevo e/ou esforço.


7º - António Salvador

Esperneou muito quando o Sporting foi buscar Rúben Amorim, mas desconfio que, no seu íntimo, se riu da jogada de mestre que pensava ter aplicado ao único rival que existe (apenas) na sua cabeça. Nunca perdeu uma oportunidade de gozar o prato e foi metendo na comunicação social todos os detalhes da operação (IVA incluído) e - neste caso com razão - das dificuldades que o Sporting teve em cumprir o acordado.

Esperneou também na venda de Paulinho, e aí acredito que lhe tenha custado mais. O Braga estava na luta por vários objetivos e não era bom, desportivamente, prescindir de uma das suas principais figuras. Salvador fez o seu papel e espremeu o Sporting o mais que pôde, conseguindo um negócio financeiramente muito bom para o seu clube.

As vitórias na imprensa ficaram-se por aí. De resto, a época foi um pesadelo para o nosso querido trolha.

Ficou furioso quando o Braga perdeu em Alvalade. Mais furioso ficou ao ser derrotado na final da Taça da Liga. Mas o ponto mais baixo terá sido quando teve de assistir, a partir da tribuna do estádio de que é inquilino, ao momento mais determinante da conquista do campeonato. Como de costume, reagiu como uma criança frustrada - até "valeu" divulgar fotografias do lixo deixado no balneário pelo Sporting - e a sua equipa entrou em colapso a partir daí, comprovando que a motivação de presidente e restante organização provém quase exclusivamente dos confrontos com o Sporting.

A verdade é que, ao descobrir Amorim e ao aceitar negociá-lo, o presidente braguista acabou por ser, de forma indireta, um dos obreiros deste título - e o melhor de tudo é que Salvador tem plena consciência disso. Não deve estar a passar dias fáceis.


6º Jorge Jesus

Depois de uma passagem de tremendo sucesso no Brasil, voltou para Portugal pela porta grande para relançar a carreira europeia e servir as ambições eleitorais de Vieira. Esquecidos os conflitos do período quente de 2015/16, o retomar da parceria entre presidente e treinador, suportada por um investimento inédito no reforço do plantel, deixava antever um passeio a nível interno e a reafirmação do clube a nível europeu.

Jesus, no seu estilo tão próprio, não desiludiu à chegada: aterrou em Tires com uma cobertura mediática ao nível de uma visita do Papa (o de Roma), foi apresentado no Seixal com toda a pompa e circunstância ao lado das provas das suas façanhas - finais europeias perdidas incluídas - e com um discurso 50% mais ambicioso do que o que teve em Alvalade em 2015. O Benfica não ia jogar o dobro, ia jogar o triplo e arrasar a competição.

O descalabro às mãos do PAOK foi simultaneamente prenúncio e catalisador de uma realidade que ficaria distante das promessas. Vieira foi forçado a vender o esteio da defesa para compensar um orçamento totalmente dependente do apuramento para a Champions, a estrutura da equipa abanou e Jesus não foi incapaz de encontrar soluções. A equipa que ia arrasar viu-se fora das contas do campeonato quando ainda havia metade dos jogos para disputar, e não deve ter sido fácil para o ego de Jesus ver Amorim alcançar à primeira no Sporting aquilo que ele próprio não conseguiu em três tentativas.

A responsabilidade do fracasso de 2020/21 não terá sido toda de Jesus, mas isso é tema de outro âmbito que não é para aqui chamado. Ainda que, verdade seja dita, o principal objetivo aos olhos de quem o contratou tenha sido alcançado: Vieira foi reeleito para mais um mandato de quatro anos.


5º: As viúvas

Dizem-se sportinguistas, mas não são. Alguns até poderão ter cartão de sócio com quotas pagas, mas não com a intenção de ajudar o clube a ser maior: fazem-no apenas com o objetivo de serem uma força de bloqueio e de, um dia, poderem consumar a sua vingança. Até lá, vão ocupando o tempo a insultar, perseguir e ameaçar adeptos sportinguistas que se atrevem a ter opiniões diferentes das suas, e a lançar periodicamente "bombas" que, invariavelmente, ficam por detonar. Fazem exatamente aquilo que apontavam a outros há uns anos. Em caso de dúvida, podem facilmente ser identificados pela intensa azia que mostram a seguir a qualquer sucesso do Sporting e pelo sentimento de culpa que tentam colocar nos sportinguistas que não seguem o seu triste exemplo.

Querer o melhor para o Sporting e celebrar os sucessos do Sporting não implica que se goste da direção atual nem que não se reconheça o que de bom foi feito pela direção anterior. Mas há que seguir em frente porque as direções e os presidentes passam, e o clube continuará sempre o seu caminho com maiores ou menores dificuldades. Há muitos sportinguistas que votarão numa alternativa quando a altura chegar, mas que não deixam de desejar o melhor quando uma equipa nossa entra em competição - independentemente da modalidade ou de quem criou a secção, independentemente de quem contratou jogador X ou Y. É ver o exemplo das claques, que continuaram a apoiar as equipas sempre que possível, apesar de a sua situação ainda estar por resolver.

Nem imagino o cabeção com que estarão as viúvas nesta altura. Arranjem outro interesse na vida, apoiem outro clube, mas deixem o Sporting em paz. Como podem ver pelo que se passou esta época, o Sporting não precisa de vocês.


4º Pinto da Costa

Tem muitos anos disto, títulos como ninguém, mas desta vez foi devidamente castigado pelo recurso à bazófia quando afirmou, em vésperas de deslocação do Sporting a Braga, que o Porto seria campeão em condições normais. Só ele saberá realmente o que queria dizer com "normal", mas a verdade é que a interpretação mais consensual entre os sportinguistas se confirmou de imediato: seguiram-se duas arbitragens que fizeram os possíveis e os impossíveis para tirar pontos ao Sporting.

Para o Porto, foi mais uma época "contra tudo e contra todos", apesar de a quantidade de decisões de arbitragem a seu favor ter atingido proporções absurdas, apesar de terem beneficiado de um penálti a favor a cada 180 minutos, apesar da tolerância quase inesgotável para com os acessos de fúria de Conceição e outros elementos do staff após resultados negativos, apesar da rábula que criaram com a Unilabs para retirarem de campo Nuno Mendes e Sporar da meia-final da Taça da Liga, apesar dos números que Luís Godinho, Rui Costa, Fábio Veríssimo, Soares Dias, Manuel Oliveira e outros fizeram em jogos do Sporting. Noção precisa-se.

Para a história, fica também o pedido de Pinto da Costa para ter o mesmo tratamento dado ao Sporting. Considerando o historial dos últimos 40 anos no futebol português, é melhor ter cuidado com aquilo que deseja.


3º Os amigos do apito

A chegada do VAR limitou-os mas, com o tempo, foram adaptando os seus métodos.

Os mais habilidosos sabem como fazê-lo sem prejudicar a nota, decidindo para um lado ou para o outro no limite do critério. O melhor exemplo da temporada foi a decisão de Soares Dias mostrar o 2º amarelo a Gonçalo Inácio em Braga aos 18' por uma falta muito menos grave do que as que deveriam ter valido um 2º amarelo a Gilberto em Alvalade ou a Pepe na Luz. Como se explica que o mesmo árbitro tenha decidido desta forma, considerando que se tratavam de três jogos de importância capital?

Os menos habilidosos são mais descarados: Manuel Oliveira e Luís Ferreira tiveram, no Sporting - Nacional, a arbitragem mais escandalosa desde que há VAR em Portugal, fechando os olhos a 3 penáltis e 2 expulsões como o resultado ainda a zeros; Fábio Veríssimo disfarçou mal a pressa em amarelar um recém-entrado Palhinha por uma disputa de bola banal, de forma a deixá-lo de fora contra o Benfica; Luís Godinho, espoliou o Sporting de 4 pontos com múltiplas decisões aberrantes em Alvalade contra Porto e em Famalicão; e mais exemplos haveria.

Sim, também houve algumas decisões a favorecer o Sporting, mas o saldo não deixa dúvidas a ninguém. Desta vez, e ao contrário de tantas outras épocas, as arbitragens não foram determinantes para o desfecho do campeonato... mas não foi por falta de tentativa.


2ª Cláudia Santos

Criou o cambalacho da época ao tentar impor uma doutrina de aplicação de justiça que só faz sentido aos seus olhos. A forma como geriu o caso Palhinha expuseram a sua vontade e incompetência, devidamente castigadas dentro e fora de campo: Palhinha pôde ser utilizado e o Sporting venceu o dérbi. Isso sim, foi justiça poética.

Dra. Cláudia & Cª não se deram por vencidos e viraram as agulhas para Amorim, aplicando-lhe suspensões sucessivas e um processo que o ameaça deixar sem trabalho durante vários anos, criando jurisprudências e precedentes em função das falhas que apanham no Sporting. Há uns dias saiu a notícia de que o Braga será castigado com dois jogos à porta fechada por terem tido Custódio como treinador - já todos perceberam a que porta irão bater a seguir. 

Uma justiça prepotente e cega, no pior sentido do termo, que funcionou como instrumento de vendetta pessoal é tudo menos justiça. Num país a sério, esta senhora e seus pares há muito que teriam sido colocados no olho da rua.


1º José Pereira

O furriel a quem nunca deixaram comandar uma companhia deve estar com um cabeção do tamanho de um Panzer VIII Maus, ao ver o mancebo Amorim a liderar uma unidade por quem ninguém dava nada e que, sozinha, venceu a II Guerra Mundial.

Deixando as analogias militares de lado, de um lado temos um treinador que conseguiu uma das maiores proezas a nível interno da história do futebol português (o recorde de mais jogos consecutivos sem perder numa única época já ninguém lhe tira), enquanto do outro está um dirigente cuja experiência total de jogos como treinador principal cabe nos dedos de duas mãos.

Com que moral é que José Pereira, inapelavelmente desautorizado pelos factos, poderá continuar a vender os seus cursos de treinador que pouco mais são do que uma validação burocrática e inútil de qualidades que só se podem aferir realmente no campo e no balneário? Se calhar está na altura de dar lugar a alguém que faça evoluir a ANTF do lobby de televendas que é hoje para uma verdadeira classe de treinadores.