sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A arte de brazar a pílula

Novo Mais Transferências, mais um momento memorável de Rui Pedro Braz. Um dia depois de ter feito um malabarismo notável com os números dos gastos em aquisições de jogadores para demonstrar que o Benfica é o clube mais poupado dos três grandes, o comentador tentou ontem encontrar um enquadramento mais simpático para os injustificáveis 9M que o Benfica decidiu estourar em 50% do passe de Jiménez.

Nota: não coloco em causa que possa ser um excelente jogador, refiro-me apenas à avaliação excessiva que está a ser feita em função da sua prestação desportiva até à data desta transferência.

Costuma-se utilizar a expressão dourar a pílula quando alguém tenta suavizar uma notícia desagradável. As explicações em que Rui Pedro Braz se desdobrou ontem foram muito para além disso, e dourar a pílula acaba por ser insuficiente para as descrever. Talvez se justifique a criação de uma nova expressão que seja mais adequada: que tal brazar a pílula

O problema é que a arte de brazar a pílula não é fácil para ninguém, nem mesmo para o próprio Rui Pedro Braz. Ora vejam:


Não é fácil, de facto. Rui Pedro Braz esforçou-se mas deixou escapar vários disparates e mentiras que poderiam ter sido facilmente desmontados caso tivesse um jornalista / comentador sério ou melhor informado à sua volta. Nomeadamente nas seguintes afirmações:

1. Rui Pedro Braz diz que o jogador se desvalorizou 2 milhões de euros ao longo do último ano, referindo que o Atlético pagou 11M por apenas 50% do passe de Jiménez. É totalmente falso: o Atlético pagou 10,5M pela totalidade do passe, tendo posteriormente cedido 50% dos direitos económicos a Jorge Mendes por um valor que não foi revelado. Aliás, pode-se ver no Transfermarkt que Jiménez é a segunda maior venda de sempre do América. Por 10,5M e não por 11M + um hipotético valor que Jorge Mendes teria pago, segundo a versão de Rui Pedro Braz. Ou seja, o montante que o Benfica se comprometeu a pagar representa uma tremenda valorização do atleta que não encontra qualquer justificação no rendimento que teve em Espanha.


2. Rui Pedro Braz diz que em Inglaterra não há passes partilhados. Newsflash: no resto do mundo também deixou de haver passes partilhados para novos contratos desde o dia 1 de maio. O Benfica terá que negociar também com Jorge Mendes, a não ser que Jiménez chegue por empréstimo (num esquema semelhante ao de Rodrigo e André Gomes, que jogaram um ano no Valência como jogadores emprestados pelo Benfica). De qualquer forma, há qualquer coisa que não encaixa bem nesta transação e que terá que ser melhor explicada pelos responsáveis benfiquistas.

3. É ridículo que um comentador revele tanta atrapalhação a falar de direitos desportivos. Os direitos desportivos não são divisíveis ou partilháveis. Ou se tem ou não se tem. E quem os tem é o clube que pode utilizar o jogador nas competições. De qualquer forma é um assunto que não tem qualquer relevância quando o tema é a valorização ou desvalorização de um jogador.

(obrigado, @sportingloewe!)