Não podia haver melhor forma de começar a temporada. Conquistar o segundo título no espaço de pouco mais de dois meses é a melhor terapia possível para despertar em definitivo o leão outrora adormecido. O lema que o Sporting escolheu para esta época começa a ser uma realidade e o melhor, para além da magnífica sensação de rechearmos o museu com um troféu que nos fugia há sete anos, é olharmos para os progressos registados pela equipa em tão pouco tempo e ficarmos a imaginar até que nível poderá evoluir.
Se no Sporting o onze lançado foi mais ou menos o esperado (Jesus voltou a apostar novamente em Teo em vez de Montero), no Benfica existiram várias surpresas: em primeiro lugar, a lesão de Luisão era mesmo real, e depois a aposta no miúdo Nélson Semedo, em Sílvio e em Ola John, no lugar dos mais rotinados André Almeida, Eliseu e Pizzi. E aqui fica a primeira dúvida da final: até que ponto o mind game de Jesus na conferência de imprensa poderá ter tido alguma influência nas escolhas de Rui Vitória?
Após o apito inicial, o Sporting entrou fortíssimo, semeando por diversas vezes o pânico na área adversária, com o Benfica a revelar grandes dificuldades sequer para sair do seu meio-campo com a bola controlada. Esse domínio territorial foi sendo esbatido a partir dos 10/15 minutos e é necessário reconhecer que o Benfica respondeu com algumas boas oportunidades à superioridade do Sporting, mas foi quase sempre a equipa de Jorge Jesus a demonstrar as melhores ideias e a parecer mais perto do golo. Golo esse que apenas não aconteceu aos 22' devido a um extraordinário corte de Jardel num cruzamento de Bryan Ruiz para Teo Gutierrez - eu já estava a levantar os braços para festejar. Golo evitado, mas que acabaria mesmo por acontecer um minuto depois através do colombiano, tendo sido no entanto incorretamente anulado devido a um fora-de-jogo inexistente assinalado no momento da assistência de Naldo.
O intervalo chegou ao fim com um intenso travo a injustiça. A melhor equipa em campo não estava a ganhar apenas e só devido a um erro de arbitragem. Época nova, polémicas antigas.
Na segunda parte o Sporting voltou a ser a equipa autoritária do início do jogo. Sucedem-se as oportunidades junto à baliza do Benfica, Jorge Sousa volta a dar uma ajuda aos campeões nacionais ao perdoar um segundo amarelo mais que evidente a Sílvio, até que aos 53' fomos bafejados pela sorte: um remate de Carrillo embate nas costas de Teo Gutierrez e trai Júlio César, colocando finalmente justiça no marcador.
O Benfica respondeu ao golo com o seu melhor período da partida - sobretudo graças a Gaitan -, tendo razões de queixa de Jorge Sousa por não ter sido assinalado um penálti de Carrillo sobre o argentino. Mas foi sol de pouca dura. Jesus mexe e faz entrar Mané para o lugar de Ruiz (eu teria tirado Carrillo, que estava visivelmente desgastado e a revelar alguma falta de discernimento), e o Sporting voltou a controlar o jogo com João Mário no volante.
Até ao final do jogo ainda houve mais algumas oportunidades para o Sporting, com o Benfica a apostar exclusivamente nos lançamentos longos para a área à procura do recém-entrado Mitroglou. Mas desta vez, ao contrário do que se passou no jogo do campeonato em Alvalade, o Sporting foi muito inteligente na gestão do relógio e assegurou uma vitória tão justa quanto saborosa e importantíssima para a sua afirmação como uma equipa a levar em conta para todas as competições nacionais.
Individualmente, praticamente todos estiveram à altura das exigências, mas se tivesse que destacar três escolheria João Mário, Bryan Ruiz e Slimani. No entanto, há também que realçar o enorme jogo dos centrais. Começam a faltar os adjetivos para elogiar Paulo Oliveira, e Naldo está a revelar-se uma surpresa muito agradável. E não é demais referir que foram utilizados 6 jogadores da formação: Rui Patrício, Adrien, João Mário, Carlos Mané, Rúben Semedo e Gélson Martins. Os últimos dois entraram a poucos minutos do fim, é certo, mas o desenvolvimento de um jogador também se faz com a participação em momentos desta magnitude.
Festejámos ontem, desfrutaremos hoje e nos próximos dias, mas começando já a pensar no próximo desafio com o Tondela - com a tranquilidade e confiança de quem tem a certeza de que está no caminho. O leão adormecido começou a espreguiçar-se.