sábado, 19 de setembro de 2015

Dissecando a proposta do Sporting por Cervi


O Expresso divulgou ontem na sua edição online o papel que prova que o Sporting mandatou um representante para fechar o negócio Cervi. No entanto, algumas questões se levantam sobre o facto de um jornal de referência como o Expresso fazer a divulgação de um documento destes, e também sobre algumas revelações feitas no texto que o acompanha:
  • O interesse jornalístico na divulgação desta procuração é relativo. A notícia de que o Sporting tinha oferecido 6M já tinha dias, e ninguém no clube a desmentiu. Como tal, a divulgação de um documento que supostamente apenas se deveria manter na posse das entidades envolvidas, é pouco mais que uma chamariz para atrair mirones. Seria obviamente um caso diferente se o Sporting tivesse publicamente negado a existência de tal proposta.
  • A primeira imprecisão do artigo do Expresso está no montante que referem que o Benfica pagará ao Rosario Central pelo jogador. O número que o site do Rosario Central refere é de $5,29M por 90% do passe, correspondentes a mais de 4,6 milhões de euros ao câmbio atual, e não os €4,1M que foram aqui referidos.
  • O jornalista do Expresso, Pedro Candeias, refere na peça que fica demonstrado que o Sporting estava disposto a oferecer 6M + comissões. Ora, olhando para o documento percebe-se facilmente que isso não é verdade. O Sporting está disposto a gastar 6M no total da operação: "... for a maximum amount of 6 (six) million euros, which includes all direct and indirect costs regarding that transfer". A parte "including but not limited to" refere-se aos tipos de despesas listados a seguir - como comissões dos representantes, impostos e a quantia a que o jogador tem direito -, e que deverão obrigatoriamente estar incluídos nos 6M. Ou seja, aparecendo outras despesas não listadas nesta procuração, não deverão fazer ultrapassar a despesa total em 6M.
  • A partir daqui é fácil fazer as contas. A parte que caberia ao Rosario Central nunca poderia ser superior a €4,8M, pois haveria que somar os €480.000 (10%) do empresário e os €720.000 (15%) do jogador. Tudo junto totalizaria os tais 6 milhões. Estes €4,8M poderiam ainda ser mais reduzidos caso existissem outras despesas para além das devidas ao empresário e ao jogador.
  • Na realidade a proposta do Sporting não foi assim tão superior à que o Benfica fez ao clube argentino, como se pretendia demonstrar (não só o Expresso mas também a capa de há dias do jornal A Bola que surgiu na sequência da revelação de Pedro Guerra no programa Prolongamento). Mas como se pode perceber, foi só contada meia história: no caso do Benfica colocava-se apenas o valor que cabe ao clube, no caso do Sporting colocam-se as despesas totais do negócio.
  • Pelo que se diz na Argentina, o Rosario Central optou pela proposta do Benfica porque o clube da Luz paga a pronto um valor superior do que o Sporting estava disposto a pagar. Daí a proposta "mais conveniente" que o clube referiu em comunicado. Ambas as propostas equiparavam-se em termos de valor, mas uma delas assegurava prazos de pagamento mais favoráveis. As despesas do Benfica com o negócio serão: €4,6M + €460.000 (empresário) + €690.000 (jogador), ou seja, um total de €5,75M.
  • Perante todas os erros e imprecisões incluídos no artigo é legítimo que se questione se, tal como refere o texto, a proposta salarial ao jogador do Benfica será assim tão inferior à do Sporting.