segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Pequena penalidade

Penso que é importante que se faça uma contabilidade dos erros de arbitragem ao longo de uma época. A partir do momento em que os clubes (desde os dirigentes aos adeptos) têm o hábito de se queixarem quando se sentem prejudicados pelas decisões dos juízes, convém que exista um apanhado das situações que foram beneficiando e prejudicando as várias equipas ao longo da época, para se poder avaliar devidamente até que ponto é que os queixosos têm razão.

Há que aceitar que quem faz essa avaliação tenha uma visão diferente da nossa. Existem vários lances que são extremamente complicados de avaliar, mesmo recorrendo aos vários ângulos de repetição disponíveis.

Também temos que aceitar os vários métodos que cada jornalista ou jornal encontra para fazer esta contabilização. O Record tem a Liga da Verdade, Rui Santos tem a Liga Real, e em ambas é feita uma contabilização simples: se um clube foi prejudicado ou beneficiado num lance que, no final, acaba por ser diretamente determinante no resultado, então essas Liga da Verdade / Liga Real contabilizam o prejuízo / benefício em pontos.

Na minha opinião é uma forma redutora de se fazer a análise: por absurdo, se um clube chegar a uma vantagem de 3-0 com três penáltis inexistentes e depois marcar um quarto golo, estas ligas considerariam que o clube vencedor não tinha sido beneficiado em pontos porque marcou um golo limpo. Percebo no entanto que o façam assim, pois é impossível prever com exatidão o que aconteceria se os erros de arbitragem não tivessem ocorrido.

O que eu não consigo perceber é a ideia peregrina que considera que um penálti por assinalar não tem influência no desfecho final da partida. Vou mostrar-vos três exemplos da Liga Real de Rui Santos, todas relacionadas com o Sporting.

Na 2ª jornada, Rui Santos considera ter existido um penálti por assinalar sobre Slimani (numa altura em que o resultado era 1-0). Apesar de o resultado ter ficado em 1-1 e de o penálti sobre Slimani significar com grande nível de probabilidade um segundo golo que - na lógica seguida pelo próprio Rui Santos - implicaria a vitória do Sporting, Rui Santos considerou o empate como o resultado válido para a sua Liga Real.


Na última jornada temos um exemplo semelhante. O Arouca foi prejudicado ao não ser-lhe assinalada uma grande penalidade perto do fim. No entanto, Rui Santos, considera que na sua Liga Real o Sporting tem direito aos 3 pontos.


Mais estranha é a apreciação feita ao Sporting - Estoril. Neste jogo tivemos um penálti claro não assinalado e um penálti assinalado incorretamente, ambos na área do Estoril. No entanto, Rui Santos considera para a sua Liga Real que o Sporting teria apenas 1 ponto.


Ou seja, ignora-se o efeito do penálti não assinalado, relevando-se a pequena hipótese de não ser golo caso o árbitro o tivesse marcado. Mas, ao mesmo tempo, no penálti incorretamente assinalado já não se considera que haveria uma igual hipótese de não ser golo. Parece-me extremamente discutível esta regra. A partir do momento em que a gravidade do tipo do erro do árbitro é ignorada  então, para ser consistente, Rui Santos deveria fazer o mesmo tratamento aos golos que resultaram de livres e cantos mal assinalados. Ou até em lançamentos mal executados que deram origem a lances chave. Rui Santos não o fez, por exemplo, no Tondela - Sporting, no penálti que foi assinalado na sequência do lançamento lateral de João Pereira.

Tanto quanto me parece, Rui Santos sempre seguiu esta regra, pelo que a este nível a sua coerência não pode ser atacada. Mas não faz qualquer sentido considerar que um penálti por assinalar não tem influência num resultado. Talvez devêssemos começar a usar o termo "pequena penalidade" para os penáltis. Nesta análise têm a mesma importância que um livre indireto assinalado junto à linha de meio-campo.