terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A venda de Imbula ao Stoke

Pode haver quem não se recorde, mas a expressão milhões da treta foi criada por Pinto da Costa, que a usou para descrever de forma sarcástica a transferência de Roberto do Benfica para o Zaragoza, em 2011. O Benfica tinha contratado o guarda-redes um ano antes, por €8,5M. Roberto realizou uma época desastrosa, mas o Benfica anunciaria, no final da época, a sua venda por €8,6M (com lucro, portanto). Um feito extraordinário, considerando a sobreavaliação da compra inicial e a expectável desvalorização pelo péssimo rendimento desportivo do jogador enquanto jogou em Portugal.

O tempo demonstrou que Pinto da Costa tinha razão. O Benfica recebeu €86.000 a pronto, com o restante a ter que ser pago mais tarde por um fundo obscuro ligado ao presidente do Zaragoza. Sem surpresa, o fundo não pagou nem um tostão, e o jogador seria recambiado para o Benfica - com direito à devolução dos €86.000 pagos. 

A expressão milhões da treta pegou e passou a ser utilizada nas vendas sobreavaliadas que entretanto foram sendo fechadas.

Não me espantaria, por isso, que se Pinto da Costa fosse presidente de outro clube que não o Porto, que utilizasse essas mesmas palavras para descrever a venda de ontem de Imbula ao Stoke City.


É uma venda fabulosa, considerando a nulidade que foi a passagem de Imbula pelo Porto. Mas, incrivelmente, o Porto conseguiu valorizá-lo 20% neste espaço de 6 meses. A única diferença que existe para o caso de Roberto é que o comprador não é um fundo obscuro ligado ao presidente de um clube pré-falido do campeonato espanhol. Os clubes ingleses vivem numa realidade à parte, tendo um músculo financeiro invejável - mesmo tratando-se de clubes do meio e do fim da tabela. De qualquer forma, esta compra do Stoke é histórica, pois bate por muito aquela que era a aquisição mais cara até ontem.


Este é, aliás, outro ponto de contacto entre muitas das vendas de Porto e Benfica: não é incomum encontrarem clubes que perdem a cabeça por jogadores poucos utilizados (como foi o caso recente do Young Boys, que bateu duplamente o seu recorde de transferências quando comprou Benito e Sulejmani).

Existe ainda uma outra coincidência: a participação da XXIII Capital no adiantamento de valores dos seus negócios. O Football Leaks divulgou hoje uma carta enviada pela XXIII Capital ao Porto, reclamando para si os pagamentos devidos ao Marselha por Imbula (tranches de julho de 2016 e setembro de 2016). A iniciativa partiu do Marselha, bem entendido, que assim recebeu antecipadamente o valor da transferência. Este facto acaba por ser também, curiosamente, outro pormenor coincidente em duas transferências patrocinadas pela Doyen (Imbula) e Jorge Mendes (Bernardo Silva).

Finalmente, uma referência aos 4 milhões de lucro que O Jogo noticia com enorme destaque na edição de hoje. Será para mim uma enorme surpresa se o Porto tiver algum lucro real com esta venda. No R&C do 1º trimestre de 2015/16, o Porto não especifica quanto pagou de comissões de intermediação no âmbito da compra de Imbula. No entanto, pode-se ler que...


... o clube pagou um total de €8,6M em comissões pelas transferências realizadas durante o verão de 2015. Considerando que Imbula valeu mais de metade do total das transferências, parece-me bastante provável que a comissão de compra do jogador engula o tal lucro de 4 milhões. E ainda é preciso fazer as contas às comissões cobradas pela venda...