sábado, 6 de fevereiro de 2016

Bruno de Carvalho e o Facebook

Não me incomoda absolutamente nada que Bruno de Carvalho tenha intervenções públicas com tanta frequência. Tem bons motivos para o fazer (hei-de escrever sobre isso em breve) e, regra geral, é eficaz a fazer passar a mensagem que pretende. 

Percebo que utilize o Facebook como meio de comunicação privilegiado (bem-vindos a 2016!), e compreendo também que sinta necessidade de, por vezes, atacar de forma ácida aqueles que tentam colocar em causa a sua imagem ou a imagem do clube. Não duvido que é necessário possuir uma determinação tremenda para se aguentar uma campanha negativa ininterrupta como aquela que procura atingir Bruno de Carvalho desde que assumiu o cargo, não só na sua faceta de presidente do clube, mas também enquanto cidadão e homem de família.

No entanto, o estilo que por vezes emprega no seu discurso e nos seus textos é, efetivamente, discutível. Não gosto de ver o presidente do meu clube a insultar ou a fazer insinuações gratuitas a outros indivíduos ou instituições, mesmo que seja como resposta a um ataque dirigido a si ou ao Sporting. Se quer contra-atacar, devia fazê-lo preferencialmente com factos, da forma mais objetiva possível, e mantendo sempre o discurso dentro de certos limites de urbanidade. 

Quando Bruno de Carvalho fala ou escreve, fá-lo em nome do clube e, em certa medida, em nome de todos os sportinguistas. Fazê-lo a partir da sua conta pessoal de Facebook não é atenuante, pois não é possível dissociar Bruno de Carvalho do cargo que ocupa. Ao fazer observações vulgares como "finalmente o peru pode ir às galinhas" ou "colocar um limão no traseiro da galinha", Bruno de Carvalho, a meu ver, perde a razão, para além de alimentar desnecessariamente o ódio ao clube. Não que me incomode o ódio dos rivais, entenda-se. Mas existindo esse ódio, que seja determinado pela frustração dos seus insucessos desportivos, e não por sentirem a sua dignidade atingida por declarações do presidente do Sporting.

Dos muitos sportinguistas com quem tive oportunidade de trocar impressões ao longo dos últimos tempos - de todas as idades e escalões sociais, com os mais diferentes percursos pessoais e profissionais -, sei que a maioria vê em Bruno de Carvalho material para ser o presidente de que o clube necessita para a próxima década - competente, inacreditavelmente determinado, criativo e, tão importante como as qualidades anteriores, com um amor ao clube acima de qualquer suspeita. Tem cometido vários erros, mas estranho seria que não os cometesse - atendendo à sua curta experiência como dirigente num mundo tão complexo como é o do futebol. 

A comunicação é um aspeto onde Bruno de Carvalho pode e deve melhorar de imediato. Conforme referi no início deste texto, não coloco em causa a quantidade das intervenções, mas tem que melhorar ao nível da qualidade das mesmas. Bruno de Carvalho será tão melhor presidente quanto melhor for a sua capacidade de ir aprendendo com os erros, à medida que os vai cometendo. E, para isso, é fundamental que revele abertura para ouvir os conselhos daqueles que o rodeiam. É inútil fazer-se acompanhar de uma comitiva de yes-men incapazes de lhe apontar aquilo que tem que ser apontado. Se não souber escolher bem o seu núcleo-duro de conselheiros e se não lhes der ouvidos, então é bem provável que, a longo prazo, o maior inimigo de Bruno de Carvalho seja o próprio Bruno de Carvalho.