No final do dia de ontem, o país desportivo foi abalado por mais uma vigorosa pazada de carvão, patrocinada pelos nossos atentos diários desportivos. Em causa esteve a ausência de Slimani do treino da tarde. Uma fonte do Sporting indicou que o argelino teve autorização de Jorge Jesus para se ausentar, mas nada disso serviu para evitar os títulos bombásticos.
A Bola diz que Slimani recusou treinar-se...
... o Record optou por um título mais factual e limitou-se a registar a ausência, apesar de depois referir que o objetivo era forçar novo braço-de-ferro...
... e O Jogo conseguiu ser ainda mais dramático, falando em murro na mesa, indo ainda mais longe ao revelar que Slimani não iria comparecer no treino de terça-feira.
Como se vê, de nada serviu o desmentido do Sporting. E apesar de ter sido uma notícia dada já depois das 23h, ainda foi muito a tempo de fazer capa na edição de hoje dos três jornais. Os termos utilizados certamente que enchem de orgulho o mais dedicado dos carvoeiros.
Assim se armou a tenda. Mas ainda andavam os quiosques a arrumar os escaparates por esse país fora, quando sucedeu isto:
Não é fácil que uma notícia expire de validade tão rapidamente quanto esta. Os dados recolhidos pelos jornais já cheiravam a podre às 8 da manhã.
A verdade é que qualquer pretexto serve para a comunicação social colocar o Sporting em causa. Nem o facto de ter havido um desmentido de uma fonte do clube serviu para travar os ímpetos sensacionalistas de quem iria preparar as capas do dia seguinte.
Ao invés, estes mesmos jornais continuam sem reparar nos €50.000 com que o Benfica carregou o Oliveirense, e vão assobiando para o lado perante os problemas que existem em Benfica e Porto. Martins Indi, central contratado por quase €8M, foi colocado a treinar com a equipa B. Carcela foi encostado. Ola John, que custou €10M, continua a renovar e a ser emprestado para que o Benfica não tenha de indemnizar a Doyen. Djuricic, por quem Vieira exigia €8M, foi novamente emprestado. Os 25 mendilhões de Talisca, por quem já havia negócio fechado há duas semanas, ainda não apareceram, bem como os 30 mendilhões por Salvio - apesar de já todos perceberem que é apenas uma questão de tempo para aparecer um clube que diga que paga os mendilhões, independentemente de precisar ou não dos jogadores. Jardel continua estranhamente desaparecido do onze, ao que se diz por não estar satisfeito com o seu salário após saber quanto Carrillo recebe. Brahimi e Aboubakar estão para sair há meses, mas não há quem ofereça o que o Porto pede. Ederson vai acumulando operações, Samaris desabafa nas redes sociais perante as inúmeras ofertas de 15 mendilhões que os jornais garantem existir. Bebé foi vendido com prejuízo. Os 10 milhões gastos em Jovic e Saponjic continuam por explicar, o novo Neymar foi despachado para a 2ª divisão alemã, e Cristante, jogador por quem há um ano havia quem pagasse 20 milhões, continua a rodar de empréstimo em empréstimo. Mukhtar e Friesenbichler, idem, idem, aspas, aspas. E ninguém questiona a estranha ligação Vieira / Benfica / Mendes / Wolves, que levou no fim-de-semana passado o presidente benfiquista a vestir as cores de um clube que não é o seu (bem, na realidade, de que clube é ele, mesmo?). Imaginam a novela que se criaria à volta de cada um destes casos, se o clube envolvido fosse o Sporting?
Para o Benfica sobram coisas como as incríveis histórias como as de Danilo e André Horta (Spoiler: parece que a incrível história de Horta tem a ver com o facto de ter tatuado o ano da fundação do Benfica em numeração romana), ou os múltiplos Euromilhões que Vieira vai ganhando para a Luz semana sim, semana não.
Para terminar, registe-se o facto de, em casos polémicos relativos ao Benfica, os jornais terem o hábito de esperar pela reação oficial do clube antes de divulgarem a notícia. Foi assim que procederam, por exemplo, quando o Football Leaks revelou que o pagamento por Bernardo Silva tinha sido feito a uma empresa que não o Benfica. Foi preciso esperar quase 10 horas para que se dignassem a referir o facto, já com a explicação do Benfica a dominar a notícia. Com o Sporting, ignora-se a versão do clube. Quem fala em jornais, fala também nos programas de debate e "informação" sobre futebol na televisão. Uma gritante diferença de tratamento que demonstra que a imparcialidade e equidistância são qualidades em vias de extinção neste meio, e que nos deixa a pensar em tudo aquilo que não sairá cá para fora graças aos filtros intensamente coloridos que existem na nossa comunicação social.