segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Recuperando a ladaínha da "concorrência desleal"

Há seis meses, a máquina de propaganda benfiquista lamentava-se da existência de uma suposta concorrência desleal de que o Sporting beneficiava, pelo facto de a SAD não ter que pagar juros em alguns dos empréstimos contraídos à banca.


Hoje, a mesma máquina de propaganda tenta atenuar o impacto das vendas de jogadores realizadas pelo Sporting, agarrando-se, que nem um náufrago a uma tábua de madeira, ao facto de o Sporting ter que usar uma percentagem pré-definida dos valores das transferências em reembolsos dos empréstimos efetuados pela banca. 


Curiosamente, agora já não se lamentam da existência da concorrência desleal que há seis meses denunciavam.

No entanto, ao contrário do que têm dito, o Sporting não entrega 50% aos bancos. É obrigado, face ao acordo feito com a banca em 2013, a reembolsar 30% das mais-valias para abater os empréstimos contraídos (percentagem que se reduzirá para 20% após determinadas tranches estarem pagas na totalidade). E nem sequer tem de o fazer imediatamente, pois o prazo estipulado é o dia 30 do mês seguinte ao final da época desportiva em que as vendas ocorrem. Ou seja, neste caso, falamos de 30 de julho de 2017. Até lá, o Sporting pode gerir o dinheiro como bem entender.


Os outros 20% que o Sporting tem de cativar são colocados em contas de reserva, que pertencem à SAD, e não à banca, e apenas no final da presente época. Essas contas de reserva só podem ser utilizadas em situações muito específicas - como o pagamento de VMOC's, juros ou obras de conservação de edifícios, incluindo as que poderão ocorrer no pavilhão - mas não deixam de pertencer ao Sporting.

Esclarecimentos feitos, voltemos ao tema da concorrência desleal: basicamente, não existe qualquer concorrência desleal. Existe um acordo, feito entre entidades privadas, em que o Sporting beneficiou de taxas médias de juro muito favoráveis, e, em contrapartida, concordou em entregar partes significativas de algumas das suas receitas para ir abatendo os empréstimos bancários. Considerando a situação dramática que o clube vivia há três anos, não há dúvida de que foi um acordo muito favorável para o Sporting, pois deu-lhe a folga de que precisava para - graças ao esforço e competência de muitas pessoas - se reerguer e se colocar numa situação em que pudesse voltar a cumprir os seus compromissos. Por outro lado, os bancos compreenderam que se decidissem apertar o garrote naquelas circunstâncias, então não conseguiriam reaver a maior parte dos valores emprestados, que seriam substituídos, na melhor das hipóteses, por ativos sem qualquer utilidade para instituições bancárias. Hoje, a banca tem, neste acordo quadro, uma ferramenta que lhes dá boas hipóteses de ir recuperando o dinheiro emprestado a um ritmo que nem Benfica nem Porto alguma vez se mostraram dispostos a fazer.

Será isso mau para o Sporting? Depende do ponto de vista. Retira alguma liberdade na definição do planeamento desportivo, sem dúvida, mas também não me desagrada estar numa situação em que os interesses de médio e longo prazo estão protegidos contra tentações de curto prazo. Pagar o que se deve nunca é mau para ninguém, havendo condições para o fazer. A sustentabilidade futura do clube agradece.