terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Comissão de Honra da candidatura de Bruno de Carvalho

Conforme se esperava, Bruno de Carvalho anunciou a sua candidatura a um novo mandato. O mini-tabu* de alguns dias promovido pelo presidente em relação à decisão de avançar ou não para as eleições de março acabou por não ter um impacto relevante, já que Bruno de Carvalho sempre se referiu ao cargo que atualmente ocupa como uma espécie de missão para a vida. Seria altamente improvável, para não dizer impossível, que abdicasse (já) de concorrer a mais quatro anos de serviço ao clube. Na semana passada, Bruno Carvalho formalizou a candidatura e entrámos, finalmente, num período de pré-campanha assumida, quer pelo presidente, quer por Pedro Madeira Rodrigues.

Uma das primeiras iniciativas tomadas por Bruno de Carvalho, no âmbito do seu processo de recandidatura, foi a divulgação da sua Comissão de Honra: uma lista de sportinguistas, mais ou menos conhecidos do grande público, de várias áreas da sociedade, que declaram o seu apoio ao presidente para um novo mandato.

A lista tem sido anunciada em várias prestações. Inicialmente foram 86 nomes, depois 4, seguindo-se 54 e, finalmente, mais 40, perfazendo, até ao momento, um total de 184 pessoas. Entre as personalidades divulgadas, estão incluídos um ex-presidente, ex-dirigentes, ex-atletas, políticos, empresários e outras figuras públicas.

Obviamente que, numa lista tão extensa, seria inevitável que alguns nomes acabassem por gerar alguma estranheza. Não querendo estar a referir-me individualmente a ninguém, vou abrir uma exceção: o apoio que me causa mais confusão é o de Paulo Paiva dos Santos. Há pouco mais de duas semanas anunciou-se como candidato (durante um período não superior a 12 horas), mas hoje apoia o mesmo presidente contra quem se propunha concorrer. 

No entanto, não é Paulo Paiva dos Santos o nome mais controverso nesta Comissão de Honra: bem mais polémicos serão os de figuras ligadas a anteriores direções, algumas das quais foram, em determinadas alturas, críticas de Bruno de Carvalho.

Não podendo adivinhar as motivações de cada um desses apoiantes, percebo o objetivo de Bruno de Carvalho: torna a sua candidatura mais forte, no sentido de ser mais agregadora e universal, e, ao mesmo tempo, acaba por encolher o espaço que os restantes candidatos e potenciais candidatos têm para se movimentar. Há, no entanto, um risco: Bruno de Carvalho sempre representou um estado de rutura com o passado, pelo que esta aproximação a pessoas que, de uma forma ou de outra, estiveram envolvidos nos anos mais negros da história do clube, poderá causar alguns anticorpos entre a sua base de apoiantes mais antiga.

Analisando os prós e os contras, creio que o clube tem muito mais a ganhar do que a perder com o estabelecimento de pontes de ligação com a dinastia anterior. Não estamos a falar de atribuição de cargos no clube. É, simplesmente, a expressão pública de um apoio. 

O Sporting não pode viver eternamente num estado de guerra civil. Aquilo que, há quatro anos, era um passado muito recente, já não é tão recente agora. O próprio Bruno de Carvalho, ao fim de um mandato cumprido, começa também a fazer parte do passado (para além do presente) do clube. Terminadas as auditorias às gestões anteriores, parece-me que está na altura de tentar sarar as feridas que podem ser saradas.

Assim, estas eleições acabam por ser, de várias formas, uma excelente oportunidade para isso: por um lado, deixando de se estigmatizar o sportinguismo de quem não soube defender da melhor forma os interesses do clube enquanto dirigentes; por outro, dando a oportunidade a pessoas conotadas com outras fações de reconhecerem o bom trabalho que tem sido feito por Bruno de Carvalho; e, last but not least, porque Bruno de Carvalho, que presumivelmente sairá vencedor das eleições, sairá com uma legitimidade reforçada perante o universo leonino.

É do interesse de todos os sportinguistas o sucesso do clube. Como é evidente, esse sucesso será mais fácil de atingir se os sportinguistas estiverem unidos. Esperemos que este agregar de vontades seja um passo em direção à união que nos faz tanta falta.


(*) Bruno de Carvalho já se referiu aos motivos que o levaram a manter em suspenso o anúncio da candidatura. Farei alguns comentários sobre essa questão quando escrever sobre a entrevista publicada ontem e hoje pelo Record.