Golos madrugadores, golos bonitos para todos os gostos, controlo total e absoluto da partida num dos terrenos mais complicados do futebol português - que tem sido sinónimo de más experiências para nós nos últimos anos - e uma avalanche de oportunidades flagrantes para marcar: não podia ter sido melhor a resposta da equipa às frouxas exibições da última semana.
Jesus mexeu no onze e lançou Bruno Fernandes em vez de Podence, mas não repetiu o erro de Aves: colocou-o numa posição mais recuada em campo. Costuma dizer-se que a sorte protege os audazes, e o jogo não podia ter começado de melhor forma: não tinham passado ainda 3 minutos, e foi mesmo de uma posição mais recuada que Bruno Fernandes deu o mote para uma enorme exibição do Sporting. À bomba.
Bruno, o bombardeiro - uma das lacunas da última época foi a incapacidade do Sporting em tirar proveito da meia-distância. Pois bem: ontem, em Guimarães, esteve em campo Bruno Fernandes, o bombardeiro. Na realidade, o termo bombardeiro talvez não lhe faça justiça, tal a potência, distância e precisão dos projéteis: o primeiro golo, então, foi uma espécie de missil intercontinental de última geração. Ia repetindo a graça pouco depois, com um remate que saiu a rasar o poste esquerdo de Miguel Silva. Guardou munições para a segunda parte, marcando o seu segundo golo mais em jeito do que em força - apesar da distância para a baliza - e ainda picou uma bola que embateu na barra. Esta última pode ter sido, na realidade, um cruzamento mal medido, mas não é impossível que tenha sido propositado, tal era a forma em que se apresentou ontem. Ah, e esteve muito bem a fazer jogar o resto da equipa.
O assassino holandês - mais dois golos a juntar à conta pessoal. O primeiro num livre curto batido por Acuña, o segundo num lance desenhado a régua e esquadro por Battaglia e Fábio Coentrão. Já leva três golos em três jogos, que, no seu caso, é, simplesmente, business as usual.
Os estranguladores silenciosos - mais um jogo em que a defesa teve a folha limpa, e é perfeitamente óbvio que isso não é obra do acaso. Em organização defensiva, os jogadores têm estado muito bem na ocupação de espaços e nas compensações e apoios. A linha defensiva esteve muito bem: Mathieu joga com uma eficiência robótica, e promete fazer uma dupla memorável com Coates, mas Coentrão e Piccini também estiveram bem. Em transição defensiva, Adrien, Battaglia, Acuña, Gelson e Bruno Fernandes não demoram a cair nos homens que têm a bola ou que a podem receber de imediato. Resultado: o V. Guimarães não cheirou de perto a baliza de Rui Patrício. Criaram algumas ocasiões de perigo, mas exclusivamente a partir de tentativas de meia distância e de um lapso individual de Piccini. Nota-se que a equipa está perfeitamente confortável quando o adversário tem a bola, o que é um upgrade imenso em relação à época passada.
A alteração de posicionamentos no ataque de Jesus - o treinador colocou Bruno Fernandes um pouco mais recuado, ou seja, mais distante de Bas Dost, e, durante o jogo, trocou os extremos - colocando Gelson na esquerda e Acuña/Iuri na direita. Estas alterações funcionaram em pleno: Bruno Fernandes conseguiu ter mais espaço para pensar o jogo, e os extremos foram motivados a flectir para o meio para tirar partido do seu melhor pé, dando a faixa aos laterais - que subiram no terreno e ganharam a linha de fundo muito mais vezes do que nos jogos anteriores. É certo que o V. Guimarães cedo ficou desorientado - e por isso convém dar o devido desconto às facilidades que existiram a partir de uma determinada altura -, mas isso também se deveu, e muito, à diversidade de ameaças que esta alteração de posicionamentos providenciou.
Cinco a zero em Guimarães. Não vamos ser picuinhas.
MVP: Bruno Fernandes
Nota artística (1 a 5): 5
Arbitragem: Hugo Miguel poderia ter tido uma arbitragem excelente... se não tivesse sido traído pelo VAR. Não há razão nenhuma que justifique a não expulsão de Célis por um pisão em cheio com os pitons na zona do tendão de aquiles de Fábio Coentrão.
Cinco bilhetinhos anti-crise que ajudam a libertar algum vapor da panela de pressão em que o Sporting se transformou após as últimas exibições. Espera-se a abertura da tampa na próxima quarta-feira, com a qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Por mim, é avançar com este onze em Bucareste.