sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Redoma

Não foi preciso esperar muito: ao fim de três jogos oficiais, o Sporting prepara-se para entrar numa semana em que muito estará em jogo. A falta de futebol evidenciada preocupa praticamente todos os adeptos, e a pequena margem que Jesus tinha à partida junto de grande fatia dos adeptos arrisca-se a esgotar rapidamente caso o Sporting não se qualifique para a Liga dos Campeões e caso não consiga realizar um jogo convincente em Guimarães.

O mesmo se aplica a vários jogadores do plantel. É visível que a popularidade de William e Adrien já viveu melhores dias - perante o desejo de ambos os jogadores saírem -, Piccini arrisca-se a ser persona non grata tão rapidamente como Alan Ruiz passou a ser na época passada, e também já há quem esteja a disparar na direção de jogadores que até muito recentemente pareciam intocáveis - como Podence e Dost (!). Os nervos podem fazer dos adeptos elementos mais prejudiciais do que benéficos quando as coisas não correm bem: o burburinho (para não falar dos assobios) direcionado para determinados jogadores durante uma partida não os ajudam a melhorar o seu desempenho. Quem acha que os jogadores são completamente imunes a isso, está muito enganado.

Daí que me faça uma enorme confusão que o próprio clube não promova diferentes formas de aproximar os jogadores aos adeptos para aumentar a identificação e empatia mútua. Lembro-me, por exemplo, do contacto direto que os sportinguistas podiam ter com os jogadores junto à porta 10A do velhinho José Alvalade. Tenho perfeita consciência que os tempos, agora, são outros, mas parece-me que o distanciamento entre jogadores e adeptos nunca foi tão grande como ao longo do último ano, apesar de todas as estratégias e ferramentas existentes para promover essa aproximação. Muito por culpa do clube.

Quando é que foi a última vez que houve uma sessão de autógrafos com elementos do plantel? Não me lembro ao certo, mas sei que não houve nenhuma nesta época nem na anterior. Qual foi a última vez que jogadores do Sporting visitaram escolas, hospitais ou instituições de solidariedade? Em maio de 2016, o plantel fez uma visita ao IPO que correu maravilhosamente, mas na época 2016/17 não me recordo de ter ocorrido alguma iniciativa idêntica. Não consigo entender como é que não se promove a interação de jogadores com crianças. Querem melhor forma de cativar aqueles que poderão ser os nossos futuros adeptos?

Mesmo a presença nas redes sociais dos jogadores é, no máximo, pouco mais do que neutra. Há atletas que têm contas onde fazem posts com pequenos e inócuos balanços dos jogos, outros que nem isso fazem e só as usam para efeitos publicitários ou mensagens avulsas. Pela positiva, destaca-se apenas uma ou outra exceção em que se consegue ver algum tipo de interação ou conteúdos que cativem realmente os adeptos - o melhor exemplo é Francisco Geraldes, claro, mas também recordo a interação que Schelotto e Matheus Pereira promoveram no final da época passada. Ou seja, tem dependido mais dos próprios atletas ou daquilo que as redes sociais do Sporting conseguem puxar deles, do que de uma estratégia coerente e bem estruturada do clube.

Há no clube quem trabalhe bem a relação entre atletas e adeptos: o futebol feminino é disso um bom exemplo, e ainda há o caso (perfeito) de Carlos Ruesga.

Não entendo a opção do clube em colocar os jogadores numa redoma, longe dos adeptos. O único contacto que há é em dia de jogo, com todas as restrições e riscos que se conhecem. O que leva os responsáveis do clube a pensar que se ganha alguma coisa ao manter este distanciamento absurdo?

Por definição, um adepto está sempre pronto a apoiar os jogadores do seu clube, mas o nível de tolerância que existe nos momentos menos bons é flexível, e pode ser trabalhado. Podemos também falar na ligação que se constrói com os mais novos: como é que não se usa e abusa da presença de jogadores e do Jubas nas escolas, hospitais e instituições de solidariedade? Para além dos méritos sociais, quantos novos adeptos não se conseguiria recrutar?

Também há algo a ganhar no outro sentido do relacionamento: todos sabemos que os jogadores são profissionais, pode haver quem se sinta aqui apenas de passagem e que são indiferentes aos adeptos, mas há outros que poderão usufruir desse contacto e, quem sabe, ganhar vontade para colocar uma pontinha extra de esforço se se sentirem mais identificados com aqueles que estão na bancada. Como é que o clube quer que os jogadores corram e vençam pelos adeptos, se nunca tiveram contacto com eles?