terça-feira, 19 de setembro de 2017

Ponto de situação

Sporting

Depois de uma pré-época muito irregular, a fazer lembrar aquilo que aconteceu na preparação de 2016/17, dificilmente a época poderia ter começado de melhor forma para o Sporting. E o maior elogio que se pode fazer a toda a estrutura, equipa técnica e plantel é que nada do que tem acontecido parece ser obra do acaso.

O planeamento da época foi feito de forma bastante competente, num sinal óbvio de que se aprendeu com os erros do passado: o plantel foi formado a tempo e horas, estando praticamente fechado à partida do estágio para a Suiça; as compras não ficaram dependentes da concretização das grandes vendas; e, acima de tudo, parece ter havido um enorme acerto nas contratações realizadas.

O onze está indiscutivelmente mais forte. Obviamente que o ponto de partida não era famoso, mas em termos de qualidade individual, parece-me, inclusivamente, que estamos acima do nível de 2015/16.

Bruno Fernandes dá ao meio-campo a criatividade e o equilíbrio que perdemos com a saída de João Mário. Acuña dá capacidade de choque à ala esquerda e tem funcionado como uma máquina de bolas paradas teleguiadas. Mathieu é um upgrade claro em relação à irregularidade de Rúben Semedo, sem perda significativa de velocidade na linha defensiva - ao contrário dos receios iniciais. Coentrão, mesmo com os problemas físicos que tem, é, de longe, o melhor lateral esquerdo que o Sporting tem de há muitos anos para cá. Piccini é inofensivo no ataque mas defende muito bem - poderá ser muito útil contra equipas que tentem jogar o jogo pelo jogo, mas penso que um jogador com o perfil de Schelotto, mesmo com todos os seus defeitos, era mais útil contra equipas fechadas. Battaglia tinha a tarefa ingrata de substituir Adrien. O melhor elogio que se pode fazer é que, neste momento, poucos lamentarão a saída do capitão. Falta ainda ver, no entanto, como se comportará contra adversários mais fortes. E ter Doumbia como alternativa a Dost é uma garantia de que se pode abordar as partidas de formas distintas em função da estratégia do adversário, sem uma perda de qualidade importante na finalização.

Já agora, convém relembrar a importância de se ter mantido William. Ainda bem que nenhum clube deu o que o Sporting pedia por ele.

Nem tudo são rosas, no entanto. Contra adversários fechados temos passado dificuldades por falta de peças de desequilíbrio ofensivo. A titularidade de Coentrão tem sido sinónimo de obrigar a queimar uma substituição, o que limita as opções de Jesus durante o jogo. Os laterais que temos raramente geram desequilíbrios (Coentrão por uma questão física, Piccini por não saber o que fazer à bola assim que passa do meio-campo), o que acaba por dificultar um adequado serviço para a finalização de Dost. É imperativo que Alan Ruiz e Iuri comecem a render mais. Podence está a fazer muita falta, como alternativa a Acuña ou Bruno Fernandes. Falta saber o que Ristovski, André Pinto e Mattheus Oliveira podem oferecer à equipa e ao treinador.

Uma última palavra para as intervenções públicas de treinador e presidente: uma postura humilde e focada nos desafios seguintes é sempre melhor estratégia do que a bazófia. Até agora, têm estado bem. Esperemos que seja para manter.

(a verde - posições em que houve melhorias em relação à época passada; a amarelo - posições em que a qualidade se mantém; a vermelho - posições em que a equipa está pior servida do que em relação à época anterior)


Benfica

Apesar dos 5 pontos de atraso, vejo o Benfica mais favorito do que o Porto para a conquista do campeonato. É uma equipa calejada, que sabe gerir um resultado melhor do que ninguém, e que continua a ter mais qualidade em quantidade na frente. Parece, no entanto, ser vítima do excesso de confiança que Vieira tem na capacidade da estrutura em vencer títulos e da falta de um murro na mesa por parte de Vitória para impor a sua vontade em relação ao preenchimento das lacunas do plantel.

Ederson é um guarda-redes de classe mundial e era uma tarefa quase impossível substitui-lo imediatamente por alguém ao mesmo nível, mas entregar a baliza a Júlio César - que, apesar de ter sido dos melhores do mundo, já de há dois anos para cá demonstra estar numa fase acentuadamente descendente da carreira - e a Varela é confiar demasiado na sorte. As saídas de Semedo e Lindelof também parecem não ter sido devidamente acauteladas, mas parecem-me geríveis. Mais grave que estas duas é a saída de Mitroglou. Não que os outros pontas-de-lança não tenham qualidade individual idêntica ou superior, mas são todos demasiado iguais - e as características do grego foram e seriam importantes para desbloquear determinados tipos de jogos.

Percebo que Vieira quisesse vender um ponta-de-lança: havia Jonas (indiscutível), Seferovic (que deu excelentes indicações no início da época), Mitroglou, Jimenez e ainda havia Gabigol na calha. Mas faria muito mais sentido vender Jimenez. Parece-me que a vontade de Vieira em concretizar o feeling que declarou há um ano - de que o mexicano seria a mais cara venda de sempre do futebol português - se sobrepôs aos interesses desportivos do clube.

Parece-me que, mais do que nunca, a época do Benfica estará muito dependente da saúde que Fejsa, Pizzi e Jonas revelarão ao longo da época. Se se mantiverem disponíveis, o Benfica será o mais sério candidato a vencer o campeonato. Se tiverem tantas lesões como as que tiveram na época passada, talvez não seja suficiente - os padres continuarão a valer pontos, mas não fazem milagres.


Porto

Os responsáveis portistas tiveram uma abordagem muito inteligente na preparação da época. Sabendo que não podiam contratar, tentaram maximizar o aproveitamento do efeito psicológico de um bom arranque. Sérgio Conceição é um homem de combate, e há que dar justiça à forma como tem conseguido construir um sistema de jogo perfeitamente adequado ao nível médio de oposição que encontra internamente.

Se, por um lado, não houve contratações (para além de... Vaná?!), por outro também não saiu nenhum jogador essencial. André Silva e Rúben Neves não eram, no momento em que foram vendidos, peças indispensáveis e complicadas de substituir. Ou seja, o Porto continua a ter um onze muito forte.

No entanto, também há dúvidas que se levantam em relação à capacidade do Porto em atacar o campeonato. Em primeiro lugar, o sistema de jogo que Conceição tem montado abre clareiras entre a defesa e o ataque que podem ser exploradas por equipas que tenham capacidade para conter a avalanche atacante do Porto. Depois, há a questão da profundidade do plantel: o Porto só tem três centrais; não há uma alternativa a Danilo Pereira - que tem a missão de segurar sozinho o meio-campo defensivo; não há extremos que sejam reais alternativas a Brahimi e Corona - Hernâni parece não contar, sendo o lateral Ricardo Pereira a primeira opção; e na frente, Marega será sempre, apesar do seu voluntarismo e entrega, um jogador limitado.

Para já, nota máxima para o que Sérgio Conceição tem conseguido fazer, mas o grande desafio a este Porto virá quando o calendário começar a apertar e quando o desgaste da época (e do inverno) se começar a sentir a sério.