terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O negócio Samaris

No dia 22 de agosto de 2014, o Benfica comunicou à CMVM a aquisição de 100% dos direitos económicos do jogador Samaris pelo montante de 10 milhões de euros.


Ontem, foi revelado um outro documento referente aos direitos económicos de Samaris. Nesse documento, pode ver-se que, alguns meses mais tarde - em outuro de 2014 - o Benfica cedeu metade dos direitos económicos a Horácio Mosquito, presidente do famoso Recreativo Caála... por 3,1 milhões de euros.




Na realidade, não se trata de uma divisão pura de 50/50 dos direitos económicos entre o empresário e o Benfica. Independentemente do montante em causa, Horácio Mosquito terá sempre direito a receber os primeiros 3,1 milhões. Se sobrar dinheiro, o Benfica poderá depois deduzir custos de despesas com salários do jogador e comissões de intermediários e agentes, sendo o remanescente divísivel pelas duas entidades em partes iguais. O próprio contrato dá exemplos de como a repartição deverá ser feita:



Esta situação não é surpreendente, pois já houve, no passado, vários jornalistas a referirem o envolvimento de Horácio Mosquito no negócio. Ficam agora esclarecidos os moldes do negócio. Será que vai ter direito ao mesmo destaque na imprensa que foi dado quando o Football Leaks revelou que Bruno Paulista tinha sido contratado pelo Sporting por empréstimo, via Recreativo Caála?

Voltando a Samaris e ao Benfica. Apesar de tudo isto - e como é hábito -, o Benfica não fez qualquer referência aos direitos cedidos a terceiros nas suas contas ou em comunicações à CMVM. No R&C de 2014/15, referente a 30 de junho de 2015, é isto que se pode ler em relação a Samaris:

R&C Benfica SAD 2014/15, página 107

Desde então, a informação tem-se mantido inalterada:

R&C Benfica SAD 2016/17, página 117

Trata-se de uma omissão importante: é completamente diferente uma SAD ter direito à totalidade de uma hipotética venda do que ter de partilhar cerca de metade do valor com outra entidade. Depois de ontem termos visto que os negócios com o Atlético são afetados por contratos paralelos que reduzem o valor real do negócio, temos também este tipo de situações. E, mais uma vez, é legítimo que se pergunte: face a esta falta de transparência, quantos mais jogadores do Benfica terão direitos partilhados com terceiros?