segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Adamastor

Depois de dois pontos perdidos ao cair do pano no dérbi, era fundamental que o Sporting regressasse às vitórias contra o Marítimo, quinto classificado e uma das equipas menos batidas do campeonato, que chegou a Alvalade com 15 golos sofridos em 16 jogos. Entre o desgaste acumulado e as lesões, Jesus fez quatro alterações em relação ao jogo da Luz, lançando Ristovski, André Pinto, Bryan Ruiz e Podence nos lugares de Piccini, Mathieu, Acuña e Battaglia.

A equipa não se ressentiu das mudanças e dominou por completo o jogo - na primeira parte colocando um ritmo q.b., na segunda parte impondo-se de forma categórica com uma última meia-hora completamente avassaladora. O Marítimo encontrou ontem o seu Adamastor: sofreu cinco golos - que podiam ter sido mais -, acabando o jogo completamente à deriva e à mercê do adversário e do tempo de jogo que teimava em não se esgotar.




Why so serious? - não reparei no estádio, mas ouvi na rádio, no final do jogo, que Bruno Fernandes não festejou o 5º golo como resultado da frustração de não ter conseguido marcar nenhuma das bombas que lançou à baliza de Charles. Se eu conhecesse Bruno Fernandes pessoalmente, dir-lhe-ia que qualquer sportinguista viveria radiante se as suas exibições resultassem sempre em duas assistências, influência decisiva noutros dois golos, para além de ser um dos jogadores mais esclarecidos e dinamizadores do coletivo. Why so serious? Não marcou, mas foi apenas o melhor em campo.

O hat-trick de Dost - quis testar os nervos das bancadas quando, em boa posição para rematar, preferiu servir um companheiro com um toque de habilidade - infelizmente para Dost e para nós, o companheiro não estava no local onde o holandês acreditava que estivesse. Redimiu-se da melhor maneira, marcando três golos em que apenas teve de encostar para a baliza. Ainda assim, ninguém lhe pode tirar o mérito de saber estar no sítio certo na hora exata. Fechou a primeira volta com 16 golos marcados em 17 jogos.

Os laterais - quatro dias depois de um jogo de exigência máxima, Coentrão mostrou que as limitações que o condicionaram no início da época parecem definitivamente ultrapassadas. Está bastante mais confiante na sua própria capacidade física, e isso nota-se na forma como sprinta para pressionar o guarda-redes adversário, nas tentativas de drible ou desarme sem temer o contacto do adversário, e na facilidade aparente com que aguentou os 180 minutos dos últimos dois jogos. Mesmo sem o fulgor que demonstrava há cinco ou seis anos, é o melhor lateral esquerdo que me lembro de ver jogar no Sporting. Do outro lado, Ristovski foi titular e o melhor que se pode dizer do seu desempenho é que, sendo um jogador bastante diferente de Piccini, ninguém se lembrou do italiano durante o jogo. Sempre à procura de atacar a profundidade no seu flanco, pôs a cabeça em água ao lateral adversário com a sua velocidade e capacidade de entendimento com os companheiros. Tirou alguns bons cruzamentos, soube procurar várias vezes o espaço interior de forma competente, muito disponível para pressionar alto, e concentrado a defender. Exibição muito promissora.



A liga que temos - o quinto classificado veio a Alvalade jogar para o empate, correndo poucos ou nenhuns riscos. Praticamente abdicou de atacar, colocando as fichas todas para marcar nos lances de bola parada que eventualmente surgissem. A perder por 1-0, o Marítimo manteve a postura, na esperança de conseguir um golo fortuito que voltasse a empatar a partida. A perder por 2-0, o Marítimo manteve a postura, na esperança de conseguir um golo fortuito que voltasse a relançar a partida. A perder por 3-0, o treinador lá mexeu um pouco na equipa, mas o moral de quem ganhava e a falta de moral de quem perdia não permitiu que isso alterasse a dinâmica do jogo. A perder por 5-0, o jogo acabou, caso contrário seria uma questão de poucos minutos para surgir o sexto, e por aí adiante. Que triste liga é esta em que o quinto classificado não arrisca o quer que seja desde o primeiro minuto.



MVP: Bruno Fernandes

Nota artística: 4

Arbitragem: Jogo fácil para Carlos Xistra, que soube não complicar. De referir duas situações de dúvida de fora-de-jogo no ataque do Sporting em que a equipa de arbitragem optou (e bem) por deixar seguir - como os lances não deram golo, assinalaram o fora-de-jogo posteriormente. É assim mesmo que deve ser.



Primeira volta concluída com 13 vitórias e 4 empates, numa luta a três que promete decidir-se apenas no final. Prestação obviamente positiva de uma equipa que continua envolvida em todas as frentes. Esperemos que o reforço da equipa traga as mais-valias necessárias para que o Sporting consiga gerir os meses infernais que aí vêm.