A Taça da Liga continua a ser a menor das competições oficiais que o Sporting disputa. Não tenho nenhum desejo especial de vencer a Taça da Liga, pelo que não ficaria particularmente aborrecido se tivessemos sido eliminados ontem. No entanto, não se pode menosprezar a importância desta vitória (mesmo que em penáltis): uma eliminação - ainda mais na ressaca daquele empate em Setúbal - poderia ter um impacto psicológico profundo no plantel e nos adeptos numa fase em que se joga grande parte do sucesso da época.
A exibição esteve longe de ser brilhante - o Sporting só esteve claramente por cima do jogo nos primeiros vinte minutos -, mas nunca senti que o adversário alguma vez nos tenha conseguido encostar atrás como aconteceu na Luz contra o Benfica ou em Alvalade contra o mesmo Porto. Ou seja, houve algum controlo dos acontecimentos por parte do Sporting, suponho que em parte por se saber que, indo a decisão para penáltis, teríamos melhores hipóteses do que o Porto para nos qualificarmos para a final. Uma vez nos penáltis, lá apareceu Rui Patrício a fazer o que costuma fazer...
O suspeito do costume - Rui Patrício não teve grande trabalho durante os 90 minutos regulamentares, mas quando a decisão foi para os penáltis, o Sporting parte quase sempre em vantagem tendo o guarda-redes que tem. São Patrício é um especialista nestas séries, e ontem voltou a prová-lo. Uma referência do clube a quem apenas falta o campeonato para subir ao estatuto de lenda.
Combate contra o karma - encarámos o karma de olhos nos olhos com as opções tomadas para bater os penáltis. Perdemos o primeiro round quando William falhou. Com enorme determinação (ou loucura?), fomos para um double or nothing com Bryan Ruiz... e ganhámos! Excelente para o clube, e excelente também para um jogador que não merece a etiqueta que lhe foi colocada por causa do golo que falhou há dois anos. E por falar em karma...
O "milagre" de Coentrão - se dúvidas existissem, nossas e do próprio jogador, em relação à capacidade física de Fábio Coentrão, ontem elas terão ficado definitivamente dissipadas. Não quer dizer que não possa haver um azar já no próprio jogo - knock on wood - mas o lateral tem ultrapassado com distinção a sequência de jogos consecutivos que tem realizado, sem nunca deixar de colocar tudo o que tem em lances divididos, e independentemente do adversário direto que lhe apareça pela frente. Ontem foi Marega, que, não sendo o mais jeitoso dos jogadores, é difícil de controlar pela sua força e rapidez, mas Coentrão voltou a fazer um grande jogo. Mérito do jogador, obviamente, e também do departamento médico de excelência que o Sporting tem à sua disposição.
Nota artística - a vitória foi saborosa, como é óbvio, mesmo que a exibição não tenha sido brilhante, de parte a parte. O Sporting rematou pouco à baliza de Casillas, dispondo de apenas duas verdadeiras oportunidades para marcar - cabeceamento de Coates ao poste e remate de Bruno Fernandes bloqueado por Telles -, mas o Porto, rematando mais em virtude de uma abordagem muito mais direta, conseguiu, na minha opinião, criar apenas duas grandes situações de golo - remate frouxo de Ricardo Pereira após boa jogada individual e a oferta de Mathieu a Aboubakar. Jogo tão transpirado como desinspirado, de parte a parte.

A lesão de Gelson - já andava a ameaçar, ontem quebrou. Esperemos que não seja grave.
As opções para a marcação dos penáltis - nunca atacarei William por ter avançado para marcar o quinto penálti - é um jogador que nunca se esconde nestes momentos -, mas, que raio, já sabemos que está longe de ser um especialista no momento do remate à baliza. A decisão foi incompreensível e deve ter deixado o universo sportinguista à beira de um ataque de nervos, principalmente quando Montero e Bryan estavam disponíveis.
Ao fim do terceiro clássico/dérbi da época, o Sporting continua invicto nas competições nacionais. O raciocínio sobre o que se evitou ao não perder também se pode inverter, ou seja, um sucesso sobre um adversário direto ajuda sempre a ganhar confiança, e creio que isso permitirá libertar algum vapor da muita tensão que existe nos adeptos e na equipa. Agora, convém que ninguém se esqueça que a vitória de ontem não servirá de nada se não vencermos a final, pelo que é preciso abordar o jogo de sábado com níveis máximos de concentração e sem qualquer displicência.
Sendo a Taça da Liga uma competição em que nos tem acontecido de tudo - a forma inesperada como perdemos a nossa primeira final, o escândalo da Taça Lucílio Baptista, o episódio do dolo sem intenção, etc.), continuaremos o combate contra o karma defrontando a mesma equipa que nos derrotou na final da primeira edição da prova. Acredito que haja muita vontade nos jogadores em "vingar" o empate de sexta-feira passada, e, se assim for, ficaremos muito mais próximos de conquistar a Taça da Liga pela primeira vez no nosso historial.