quarta-feira, 18 de abril de 2018

M*rdas que só mesmo connosco, nº 17: Not so fast, dutch boy

O jogo do passado domingo entre Belenenses e Sporting foi particularmente rico em casos polémicos e situações invulgares. Por exemplo, apesar de o VAR ter sido pouco utilizado até agora para esclarecer confusões em molhadas de jogadores na área, só neste jogo houve direito a dois penáltis assinalados neste tipo de situações. Mas o momento da noite - no que a acontecimentos bizarros diz respeito - foi outro. Não sigo de perto todos os campeonatos que já adotaram o VAR, mas arrisco a dizer que foi uma situação inédita no futebol mundial.

Aos 72 minutos, na sequência de uma marcação de um canto, Bas Dost é atingido numa disputa de bola com Yebda e cai ao relvado enquanto o jogo prosseguia. A bola é bombeada para fora das quatro linhas e André Moreira, guarda-redes adversário, chama a atenção para a necessidade de o holandês ser assistido. A equipa médica assiste Dost e leva-o para fora do relvado para a partida poder prosseguir.

Acontece que o jogo não seria imediatamente reatado. O árbitro é alertado pelo VAR para uma possibilidade de existência de falta na área, analisa as imagens, vê que a carga de Yebda foi com o cotovelo e assinala penálti a favor do Sporting. Mostra também cartão amarelo ao jogador do Belenenses pela falta dura, que era o seu segundo na partida e, consequentemente, dá-lhe ordem de expulsão.

Dost reentra no relvado, pega na bola para marcar penálti... mas Bruno Paixão mostra-lhe amarelo por não ter tido autorização para regressar para dentro das quatro linhas e ordena que saia de campo até o jogo ser reatado. Acontece que Dost é o marcador dos penáltis... e não podendo entrar antes de o jogo ser reatado, então não podia bater o penálti que o árbitro acabara de assinalar.


A decisão de Bruno Paixão é defensável segundo o que estipulam as regras, de acordo com o que disse o ex-árbitro Pedro Henriques. Um jogador que sai para ser assistido com a partida parada só pode reentrar depois do recomeço do jogo, mas, neste caso, há um outro pormenor que complica a situação: segundo as regras que entraram em vigor na temporada passada, um jogador que sofre uma falta que vale amarelo ou vermelho ao adversário que a cometeu, não precisa de sair após ser assistido. Ou seja, Dost não precisava de sair de campo receber assistência médica.

Acredito que não existam indicações específicas para como os árbitros deverão proceder em situações destas, mas parece-me claro que, segundo o espírito que está por detrás da implementação do VAR e da regra que permite a um jogador assistido manter-se em campo caso tenha sofrido uma falta merecedora de cartão, Dost deveria ter podido manter-se no relvado. Creio que terá havido aqui excesso de zelo por parte do árbitro.

Dost foi penalizado por sofrer uma pancada dura à margem das leis, foi duplamente penalizado quando foi obrigado a ficar de fora no reatamento do jogo, foi triplamente penalizado por ter visto cartão amarelo por regressar sem uma autorização do árbitro de que não deveria necessitar, foi quadruplamente penalizado por não poder assumir a sua função de principal marcador de penáltis da equipa, e foi quintuplamente penalizado por não ter tido a oportunidade de se aproximar de Jonas na lista de melhores marcadores. 

Mais uma daquelas coisas que só nos acontece a nós. Neste caso, foi apenas um episódio curioso que não chegou a ganhar dimensões trágicas... porque, felizmente para o Sporting, Bruno Fernandes é também um marcador de penáltis bastante jeitoso. Imaginem se tem falhado...


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