segunda-feira, 16 de abril de 2018

Paixão por Bruno

Sabendo da derrota do Benfica no clássico, o Sporting foi a jogo (que começou atrasado 13 minutos por demora dos jogadores do Belenenses em subir ao túnel de acesso - gostava de saber o que se terá passado) com o conhecimento de que dependia apenas de si para conseguir chegar ao 2º lugar. Esse importante pressuposto para o que resta da época impunha, obviamente, que a equipa saísse do Restelo com os três pontos no bolso.

Nesse sentido, o jogo não podia ter começado de pior forma: Bruno Paixão decide penalizar o Sporting com (mais) um penálti que não se assinalaria contra nenhum outro candidato ao título. A perder desde cedo, o Sporting reage categoricamente com um vendaval de futebol proveniente dos pés de Bruno Fernandes e vira o resultado, e levando dois golos de vantagem para o intervalo. Tentou adormecer o jogo na segunda parte, mas nem o Belenenses nem Bruno Paixão foram na cantiga: grande jogada pela esquerda na origem do 2-3 e novo penálti que ninguém assinalaria a Benfica ou Porto para o 3-3.

Valeu-nos a jurisprudência criada por Bruno Paixão na decisão do primeiro penálti para assinalar um penálti a favor do Sporting, que resolveria o jogo. Houve muito Bruno (Paixão), mas, felizmente, acabou por haver muito mais Brunão.




Brunão - mais uma exibição portentosa. O passe para o golo de Dost é de uma categoria assombrosa: tenso e com uma precisão milimétrica para facilitar a receção orientada do holandês. Assistência para Gelson. Participação na jogada do terceiro golo. E não tremeu na marcação do penálti. Para além de outras iniciativas de ataque deliciosas. Só não esteve perfeito num par de ocasiões de remate de que dispôs na área do Belenenses. Está com números estratoféricos que só surpreenderão quem não o vê jogar. Não deve haver sportinguista que não sinta uma arrebatadora paixão pelo Brunão.

A reação ao primeiro golo - depois de mais um penálti que só se marca contra o Sporting, a equipa não podia ter tido melhor reação. Não tardou a conseguir o empate e dispôs de variadíssimas oportunidades até alcançar a vantagem com que foi para o intervalo. Uma resposta que deve ser valorizada se considerarmos as dificuldades que o Belenenses causou recentemente a Benfica e Porto.

Bryan a 8 - não tendo estado ligado de forma tão direta aos golos, é justo que se refira o excelente jogo que fez. Enquanto 8, tem sido capaz de dar a ligação entre setores de que a equipa precisa e de dar os equilíbrios defensivos necessários, pelo menos enquanto não rebenta fisicamente. Está em muito boa forma.

A defesa de Patrício a segurar a vitória - Florent tentou cruzar, mas a bola seguiu caprichosamente para o canto superior oposto da baliza do Sporting. Entraria, não fosse a extraordinária defesa de Rui Patrício a desviar o esférico para a barra. Valeu dois pontos.



A arbitragem - felizmente, o Sporting ganhou, pelo que não me poderão acusar de estar a culpar a arbitragem para esconder um insucesso da equipa. Já vi este filme demasiadas vezes para achar que isto são apenas coincidências. Patrício bate com a mão em Yazalde no lance do primeiro penálti. É um facto, mas quantas vezes é que um guarda-redes, ao embater num adversário sem tocar na bola na pequena área num lance dividido, deram direito a penálti? Nomeadamente contra Benfica ou Porto? Ao contrário teria marcado? Nem pensar. Há duas semanas, em Braga, Matheus arriscou-se a partir a perna a Dost num lance idêntico e o árbitro mandou seguir. Vejo o penálti de Acuña sobre Licá e apenas me lembro do penálti que Artur Soares Dias não assinalou sobre Doumbia no Dragão. Disse que a UEFA o matava se assinalasse uma lance daqueles, que foi bem mais evidente do que este. É assim o futebol português, os protocolos vão sendo "construídos" em função do tipo de lances que vão acontecendo a determinados clubes. Outro exemplo ainda: o amarelo mostrado a André Pinto logo aos dez minutos: quantas vezes é que os árbitros toleram faltas para amarelo quando são cometidas no início? Nos jogos do Sporting é a regra... quando a primeira falta para amarelo é cometida por um adversário do Sporting. Em relação ao penálti sobre Dost, obviamente que Paixão não teve alternativa senão assinalá-lo, depois do que tinha decidido no penálti de Patrício - a cotovelada de Yebda foi bem mais ostensiva. Outra situação: Bruno Paixão não podia ter impedido Dost de ficar em campo após ter sido assistido nesse mesmo lance... porque foi assistido por causa de uma lesão provocada por um adversário que viu um amarelo por essa falta. Ou seja, Dost viu um amarelo injustificado por ter permanecido em campo após a assistência (quando na realidade não precisava de ter saído) e não pôde bater o penálti graças a esta absurda decisão de Bruno Paixão, que o manteve fora de campo. Felizmente, Bruno Fernandes marcou com sucesso o penálti, caso contrário estaria armado mais um caso gravíssimo.

Fonte: O Jogo

Há ainda a mão (indiscutível) de Ristovski no lance do terceiro golo. Quando o golo de Doumbia mal anulado contra o Feirense, o CA divulgou um pormenor importante em relação ao momento em que o VAR pode recuar na jogada:


Ora, já depois da mão de Ristovski, Bruno Fernandes pára a progressão para pensar o que vai fazer, e Dost lateraliza para Ristovski. São dois momentos em que a jogada não prossegue rapidamente na direção da baliza adversária. Não sei até que ponto é que isso constitui ou não o início de uma nova fase de ataque. Admito que não, e que o VAR deveria ter recuado até ao controlo de bola de Ristovski, mas fica a dúvida. O que tenho certeza é que não justificava tamanha revolta por parte do narrador do jogo (ver mais abaixo).

Incapacidade de gerir vantagens - a reação ao golo do Belenenses foi fabulosa. A vantagem de 3-1 ao intervalo era confortável, mas a verdade é que, mais uma vez, o Sporting deixou o adversário reentrar no jogo e chegar ao empate. Já tinha acontecido, por exemplo, em Vila da Feira: em poucos minutos o Feirense recuperou de 0-2 para 2-2. Abdicámos de atacar e convidámos o adversário a acampar no nosso meio-campo. Percebo a ideia de abrandar o ritmo, considerando o desgaste do jogo com o Atlético e o desafio da próxima quarta-feira com o Porto, mas não se pode cair no exagero - já devíamos estar mais que avisados para este tipo de situações.

A inenarrável narração da Sport TV - não me lembro de ver comentários tão facciosos num canal supostamente isento. Estive a investigar e constou-me que Rui Pedro Rocha tinha acabado de comer uns burritos estragados minutos antes de começar a emissão do Belenenses - Sporting, o que talvez explique tamanha azia. Tentou desesperadamente chamar a atenção para a falta de Patrício naquele que seria o primeiro penálti da noite; tentou lançar a dúvida sobre a falta de Yebda naquele que seria o único penálti a favor do Sporting; sugeriu que Patrício poderia ver o vermelho no primeiro penálti ("vamos ver que cartão vai mostrar a Patrício", disse ansiosamente), mas mais tarde sugeriria que Yebda poderia não ter visto amarelo no terceiro penálti ("ser penálti não é obrigatoriamente amarelo", disse desanimado); e sobretudo, pelas inúmeras vezes que chamou a atenção para uma mão de Ristovski no terceiro golo do Sporting. Enquanto não perdia uma oportunidade para relembrar esse lance, conseguiu não reparar que a decisão de manter Dost fora de campo no penálti batido por Bruno Fernandes é ilegal. Eu ainda sou do tempo em que os comentadores da Sport TV evitavam falar de arbitragem para não desvalorizar o produto. Burritos estragados à tarde, e pastéis de Belém estragados à noite. Não foi fácil o dia de Rui Pedro Rocha.



Jogo de loucos que nos permitiu aproveitar os pontos perdidos pelo Benfica. Neste momento, apenas dependemos de nós para chegar ao 2º lugar. Não sendo "o" objetivo, não deixa de ser um objetivo importante para o Sporting por causa do acesso à Champions.