Do ponto de vista institucional, o debate diário de comunicados do Conselho Diretivo contra comunicados da Mesa da Assembleia Geral a que temos assistido nos últimos dias é um upgrade em relação ao bate-boca Facebook vs Instagram entre presidente e jogadores que tivemos de suportar em abril, mas não é propriamente refrescante. Pelo contrário, a troca de argumentos e acusações a que temos assistido nos últimos dias de pouco tem contribuído para um esclarecimento real dos sportinguistas. O assunto é complexo, as interpretações dos estatutos não coincidem, e ficarei surpreendido se esta discussão não terminar na barra dos tribunais, considerando as posições antagónicas e aparentemente irreconciliáveis que separam as duas partes.
De um lado, a atuação de Jaime Marta Soares tem sido pautada por uma deprimente combinação da notável incompetência que já lhe era reconhecida, com motivações recém-surgidas que são pouco claras. Os avanços, recuos, voltas e reviravoltas que já protagonizou são dignos da mais elaborada das danças de salão, e tremo só de pensar na eventualidade de ter o bombeiro-comendador ao comando de uma das AGs mais potencialmente explosivas da história do clube.
Do outro, Bruno de Carvalho está empenhado em bloquear todas as iniciativas que o possam colocar à disposição da vontade dos sócios a curto prazo. Não é complicado perceber o que leva o presidente a seguir esta estratégia, havendo duas possíveis leituras: do ponto de vista dos interesses do clube, parece-me elementar que uma AG destitutiva ou eleições sejam empurradas para um período em que não haja uma época desportiva para preparar ou um empréstimo obrigacionista para concretizar; mas esse adiamento também é (muito) conveniente para a agenda do próprio Bruno de Carvalho, já que isso também lhe permitirá ganhar tempo para muitas cabeças esfriarem, para algumas crises expirarem ou serem resolvidas, e para mais títulos serem conquistados. Seja qual for o caso, o tempo corre a seu favor caso não surja uma nova catástrofe (knock on wood).
Mas mesmo num cenário em que o presidente consiga levar a sua avante (ou seja, não realizar a AG e marcar eleições a curto prazo apenas para a MAG e CFD), a sua legitimidade, muito afetada pelos acontecimentos recentes, não sairá minimamente reforçada. Pior, continuaremos a viver um cenário em que basta um par de demissões para fazer cair o Conselho Diretivo e sermos novamente arrastados para eleições - e sabe-se lá se isso acontecerá num bom ou num mau momento para o Sporting.
O melhor cenário - diria mesmo que o único cenário - para dar o muito necessário reforço de legitimidade é a marcação de eleições para todos os órgãos sociais, a realizar algures entre setembro e novembro - mantendo-se a atual direção em funções até lá. Olhando para o imbróglo estatutário em que estamos metidos, creio que deveria caber à própria direção tomar essa iniciativa. Qualquer solução que não passe por aqui será apenas o adiamento de algo que será inevitável.