Enquanto sócio do Sporting Clube de Portugal, necessito de um esclarecimento urgente. Esse esclarecimento pode ser dado tanto pelos jogadores que entregaram ou ponderam entregar a carta de rescisão, por Jorge Mendes ou pelos empresários que os aconselham, ou até mesmo por Joaquim Evangelista ou pelo sindicato de jogadores.
Os três jornais desportivos referem na carta que voltarão atrás na decisão de rescindir caso Bruno de Carvalho se demita nos próximos dias. Isso levanta-me várias questões:
1. Será suficiente, para os jogadores, agentes e sindicato, que Bruno de Carvalho abandone as funções de presidente da SAD? Ou a exigência estende-se à presidência do clube?
2. Caso Bruno de Carvalho se demita nos próximos dias e mais tarde se decida recandidatar, ser-me-á permitido que, na minha qualidade de sócio do Sporting Clube de Portugal, eu possa votar em Bruno de Carvalho em futuras eleições? Em caso negativo, já prepararam alguma lista de candidatos aprovada na qual os sócios poderão votar sem receios de ferir os sentimentos dos jogadores, empresários e sindicato?
3. Caso Bruno de Carvalho se demita e não se recandidate, temos o vosso compromisso de que não tentarão sair à primeira oportunidade? Temos o vosso compromisso de que não farão pressão, pessoalmente, via pais ou via agentes, para serem transferidos à primeira proposta que vos pareça tentadora? Que estarão disponíveis para renovar e serem transferidos apenas por uma proposta que vá ao encontro dos interesses do clube?
Escusam de responder. As perguntas são sarcásticas e não carecem de resposta, pois já as conheço.
Aceito que os jogadores de futebol se considerem a cara do clube. São as figuras de maior visibilidade de um universo de milhões que inclui atletas de dezenas de modalidades, treinadores, dirigentes, funcionários, patrocinadores, sócios e adeptos. Mas não são nem nunca serão o cérebro ou o coração do Sporting. Se fossem o cérebro, o Sporting deixaria de ser um clube desportivo para passar a ser um entreposto de jogadores, ou seja, passaria a ser uma espécie de Gestifute com equipamento às riscas. E se fossem o coração... bem, se fossem o coração, considerando os títulos que (não) têm conquistado, os estádios há muito que estariam às moscas e a vitalidade que se tem observado nos últimos anos teria dado lugar a um clube definhado e seco.
Decidam em consciência e rescindam se acham que têm motivos para isso. Os tribunais decidirão se têm razão ou não. Mas o facto de essas rescisões parecerem dependentes de negociações de transferência falhadas e da continuidade do presidente, faz com que pareça cada vez menos uma questão psicológica e cada vez mais uma ramificação da luta pelo poder que existe no clube. Prefiro obviamente que não rescindam, mas, caso o façam, nunca esquecerei o aproveitamento que estarão a fazer de uma situação provocada por um punhado de criminosos e que a esmagadora maioria dos sportinguistas lamenta profundamente.
Mas era só o me que faltava estar a aceitar que jogadores de futebol, profissionais idolatrados e pagos a peso de ouro, cuja principal prioridade no relacionamento com o Sporting (que compreendo) são as suas próprias carreiras, ajam concertadamente para definir algo cuja responsabilidade cabe única e exclusivamente aos 170.000 sócios do clube. Repito: era só o que me faltava.