Rui Patrício decidiu rescindir unilateralmente o contrato que tinha com o Sporting. Acredito que não tenha sido uma decisão tomada de ânimo leve. Dei uma vista de olhos pelas justificações que apresentou e, pelo que me parece, baseiam-se na pressão que considera ter sofrido de Bruno de Carvalho (através de mensagens de texto e em conversas presenciais) e pelo que sucedeu na Academia.
Não me arrogo o direito de tecer quaisquer considerações atenuantes sobre aquilo que Rui Patrício e os jogadores viveram naqueles minutos de terror na terça-feira após a derrota na Madeira. Todas as pessoas são diferentes e cada um reagirá à sua maneira. Independentemente de ter sido um ato abominável que dificilmente se poderia prever, o clube falhou-lhe (a Rui Patrício e a todos os jogadores e técnicos) nesse dia. Foi o momento mais negro da centenária história do Sporting.
Agora, precisamente pelo facto de os acontecimentos da Academia terem sido uma situação excecional - a discussão pública tem andado à volta de um ato de terrorismo - e por ser uma decisão que penaliza sobretudo o clube e os seus sócios e adeptos (falo de uma forma genérica, obviamente não incluo os sócios e adeptos que não se sabem comportar de forma civilizada) - os mesmos sócios e adeptos que sempre o apoiaram mesmo quando o resto do país escarnecia dele -, não me peçam para ser compreensivo com uma decisão que acontece na sequência de uma negociação de transferência falhada e quando ainda havia três meses de mercado pela frente para definir o seu futuro.
Suponho que, juridicamente, tudo se resuma à forma como forem apreciados os acontecimentos da Academia. A utilização dos SMS de Bruno de Carvalho como argumento para suportar as alegações de justa causa está ao nível daquilo que a SAD fez com o fato de treino de Marco Silva, ou seja, não é mais do que um adereço decorativo para tentar dar mais cor ao que realmente interessa. Já vivi, assisti, e conheci inúmeros casos de pressão tão ou mais intensa de superiores hierárquicos sobre subordinados. Incluindo algumas de situações que envolviam grandes riscos de saúde, e até de risco para a vida. Pressão todos temos de suportar nos nossos empregos, independentemente do nível de responsabilidade que recaem sobre os nossos ombros.
Não acredito que Rui Patrício volte com a palavra atrás, e acredito que pense que os motivos que tem são suficientes para invocar a rescisão por justa causa. Foi um grande atleta do clube. Capitão nem tanto, mas aí a culpa é mais de quem lhe deu a braçadeira. Assinou de livre vontade com o Sporting, que sempre o tratou como um símbolo do clube, mesmo quando as coisas não lhe corriam tão bem. Lamento imenso, como qualquer sportinguista, aquilo que lhe aconteceu na Academia, mas também lamento a decisão que hoje tomou. A única coisa que espero, daqui para a frente, é que o Sporting, independentemente da direção que estiver em funções, recorra a todos os meios que tiver ao seu dispor para proteger os interesses do clube.
P.S.: Naquele maldito post pós-Madrid, Bruno de Carvalho criticou Gelson Martins por ter decidido rematar para a direita do guarda-redes em vez de rematar para a esquerda. Obviamente que apenas criticou o jogador por não ter sido golo. Se aquele mesmo remate para a direita do guarda-redes tivesse dado golo, certamente que o presidente não teria dirigido qualquer crítica a Gelson. Aliás, provavelmente até teria elogiado o jogador. A vida é mesmo assim. Muitas vezes é impossível ignorar o resultado de um conjunto de decisões no momento em que avaliamos o que foi feito.
Neste caso, aquilo que vejo é a rescisão de um ativo com um valor de mercado. Acredito, conforme referiu Bruno de Carvalho, que Rui Patrício tenha sido influenciado por gente que quer afundar o Sporting. Mas todos sabemos que essas pessoas iriam tentar aproveitar qualquer abertura que tivessem, e, neste caso, boa parte da abertura foi-lhes proporcionada pelos atos absurdamente irrefletidos do presidente do clube - que culminaram com a suspensão de todo o plantel através das redes sociais. Nem imagino o que escreveria o BdC-adepto na sua conta de Facebook sobre o papel que o presidente teve neste desfecho.