domingo, 28 de outubro de 2018

A entrevista de Frederico Varandas ao Expresso

A entrevista que Frederico Varandas deu ontem ao Expresso não é particularmente longa nem tem tiradas bombásticas, mas inclui algumas mensagens importantes sobre a forma como o presidente vê o atual estado do clube. Destaco quatro momentos da entrevista:


1. "Isto é como muita gente diz - que o clube é ingovernável. (...) Mas eu acredito que vou mudar isto."

Infelizmente, a dificuldade de gerir um clube como o Sporting é um facto. A ingovernabilidade está diretamente ligada a dois fatores: o desgaste acumulado de se estar há 16 anos sem se ganhar um campeonato de futebol, e as fraturas que foram sendo geradas pelas sucessivas instabilidades diretivas e pelas fações que se foram criando. Da mesma forma que existiram grupos de sportinguistas que não deram o mínimo benefício da dúvida a Bruno de Carvalho e contestaram a sua presidência desde o primeiro dia do seu mandato, é perfeitamente visível que está a acontecer o mesmo agora com Varandas. É uma característica muito sportinguista que, infelizmente, não traz quaisquer benefícios ao clube.

Como combater isto? A curto prazo não há muito a fazer: é preciso trabalhar, reformar o clube nas suas diferentes áreas e esperar que os resultados desse trabalho comecem a aparecer. Mas ajudaria muito que a equipa de futebol jogasse a um nível bastante acima da pobreza franciscana que nos tem sido oferecida nas últimas semanas.


2. "Não, tínhamos os ordenados em dia, mas havia um prémio prometido pela CG ao plantel que tivemos de pagar. (...) Um prémio, digamos, para miniobjetivos."

Das duas, uma: ou Cintra ofereceu um prémio pelo empate na Luz, ou ofereceu um prémio por, como ele disse recentemente, ter deixado a equipa em primeiro lugar. Se foi pelo empate na Luz, é triste mas digerível. Se foi pelo facto de a equipa estar em primeiro lugar na data da eleições, então estamos perante um potencial escândalo que tem de ser justificado adequadamente pelos elementos da ex-CG. 

Nem Cintra nem ninguém tem o direito de gastar dinheiro do Sporting para poder dizer que saiu com a equipa na frente do campeonato à quarta jornada, ainda mais quando sabemos dos graves problemas de tesouraria que existiam. Para além disso, é um presente envenenado que se deixa a quem entrou a seguir - que, obviamente, não pode nem vai andar a oferecer dinheiro por lideranças que não significam absolutamente nada e outros micro-objetivos irrelevantes.


3. "O Wolverhampton pagar €18 milhões pelo Rui Patrício e o Sporting encaixa €14 milhões."

É uma confirmação oficial dos valores que já tinham sido noticiados pela imprensa. Não é o valor que todos queríamos, mas é um valor mais razoável que a tesouraria agradece e que foi obtido numa conjuntura em que, conforme disse Varandas, a defesa do Sporting apresentava mais fragilidades - pois já tínhamos estabelecido o patamar do valor de mercado do jogador nas negociações com Wolves que acabariam por descambar na rescisão de Patrício.

Há também a confirmação da participação e colaboração de Jorge Mendes neste processo. Esta é a parte que mais me custa a aceitar, considerando que, segundo o que se diz, o empresário foi um dos principais promotores para que muitos dos jogadores consumassem as rescisões. Os três milhões que nos perdoou certamente que foram mais que compensados pelas comissões que arrecadou nos negócios dos jogadores que rescindiram. E depois disso ainda nos prestou um serviço imenso ao ajudar-nos na contratação de Peseiro, que está a correr da magnífica forma que todos sabemos. 

O balanço do relacionamento entre Sporting e Mendes é e sempre foi profundamente negativo para o clube. Cá estaremos para ver os próximos capítulos desta colaboração.


4. "Sinto-me satisfeito com a qualidade do jogo? Não. Nem eu, nem o grupo, nem o treinador."

A constatação de que a opinião do presidente sobre o desempenho da equipa de futebol não é muito diferente da da generalidade dos sportinguistas, e que Peseiro é um treinador a prazo em que, na mehor (ou pior, conforme o ponto de vista) das hipóteses, o clube não exercerá a opção para o segundo ano de contrato. Resta saber qual o nível de paciência da direção para a péssima qualidade de jogo apresentada. Suponho que a continuidade de Peseiro esteja mais dependente da capacidade que o Sporting tenha para convencer o treinador certo com a época em andamento do que do trabalho que ainda possa fazer daqui para a frente. Dead man walking.