Pedro Sousa adiantou ontem que estará muito próximo de se fechar um acordo entre o Sporting e o Wolves pela resolução do caso de Rui Patrício. O comentador não adiantou valores, mas afirmou que o dossier será encerrado algures durante os próximos dias.
Pelos motivos que se conhecem, não será uma decisão pacífica entre os sportinguistas - foi enorme o impacto emocional que as rescisões provocaram -, sendo que o nível de contestação poderá variar dependendo dos números finais. No entanto, o atual estado do clube obriga a que os seus responsáveis tomem decisões racionais que considerem todas as implicações que estão aqui em causa.
As implicações de que falo são, sobretudo, duas. A primeira é a questão financeira. Passaram cinco meses desde que o Sporting falhou o pagamento e renovação do empréstimo obrigacionista, período durante o qual poucas receitas extraordinárias significativas foram registadas: o mercado foi pouco mais do que miserável - as (desapontantes) vendas de William e Piccini mal chegaram (se é que chegaram) para "pagar" as transferências de Raphinha, Bruno Gaspar, Diaby, Gudelj e Viviano - e a Liga Europa vale trocos em comparação com a Liga dos Campeões. Para além disso, tudo indica que o nível salarial do plantel para esta época não teve o ajuste que se impunha, mantendo-se acima daquilo que seria recomendável.
A segunda é a questão legal: na melhor das hipóteses, uma eventual decisão positiva do TAS só acontecerá daqui a um par de anos. No caso de Rui Patrício há a complicação adicional de terem havido negociações avançadas para a sua transferência - valores estimados entre 18 e 20 milhões, com uma parcela considerável a ser entregue a Jorge Mendes - na altura em que a rescisão se efetivou, o que poderá condicionar o estabelecimento de uma eventual indemnização que nos seja atribuída caso o tribunal nos dê razão.
Não compro nem por um momento que a direção liderada por Frederico Varandas tome uma decisão destas por questões de amizade entre o presidente e o jogador. Acredito que a decisão que for tomada pela direção, seja ela qual for, irá sempre considerar os melhores interesses do clube - sendo que determinar os melhores interesses do clube, neste caso, é um processo bastante mais complexo do que o desejo de retribuição total levando até ao fim a guerra das rescisões contra os jogadores e os clubes que os acolheram.
Caso se concretize o acordo - independentemente dos valores - não será uma notícia fácil de aceitar depois de tudo o que se passou, mas parece-me justo que, confirmando-se esse cenário, haja um esforço dos sócios para não tirarem conclusões precipitadas e tentarem perceber os motivos que estarão por trás dessa opção. Inclusivamente, suspeito que esse esforço dos sócios será particularmente importante porque me parece que a direção não nos poderá dar uma explicação realmente completa da situação até que o novo empréstimo obrigacionista e a reestruturação financeira sejam concluídos com sucesso.