quarta-feira, 31 de outubro de 2018

As contas do 1º trimestre

Depois de, há uns dias, a SAD ter divulgado resultados positivos de 16 milhões de euros para o 1º trimestre de 2018/19, foi ontem enviado à CMVM o relatório e contas completo. Para o bem e para o mal, deve-se dizer que a atual direção, que tomou posse a 9 de setembro, pouco pôde fazer para influenciar as contas agora apresentadas. O período a que se referem é de 1 de julho a 30 de setembro, sendo que o que mais influencia o equilíbrio financeiro de uma época é o trabalho realizado até 31 de agosto, dia em que encerra o mercado de transferências. 

Tal como qualquer R&C referente ao 1º trimestre, os dados divulgados não permitem ter ainda uma imagem muito nítida do que deveremos esperar para a época, mas existe um par de questões que vale a pena analisar: o equilíbrio dos custos salariais face às receitas esperadas e o endividamento da SAD.


Dimensionamento dos custos do plantel num ano sem Champions

Este é, para mim, o ponto que gera maior preocupação. O facto de não termos acesso às receitas da Champions obrigava a que se fizesse um trabalho profundo de remodelação do plantel, de forma a ajustar os custos salariais às fontes de receitas disponíveis. Infelizmente, a Comissão de Gestão não teve capacidade para fazer o ajuste que se impunha.

Comecemos pelas receitas: como se pode ver, a presença na Liga Europa vale, para já, uma quebra de 10 milhões relativamente ao mesmo período da época passada, em que participámos nos playoffs e na fase de grupos da Liga dos Campeões. Isso também teve reflexos ao nível dos direitos televisivos, que desceram em relação a 2017/18 em virtude da diferença do marketpool da Liga dos Campeões para o da Liga Europa. Houve também uma redução na casa dos 18% nos lugares de época, camarotes e business seats. Apenas se registaram melhorias ao nível dos patrocínios.


A quebra total de receitas nestes três meses foi de 10,5 milhões de euros, mas os ajustes dos custos salariais do plantel foram claramente insuficientes. 


Apesar de ter havido uma redução de 2,4 milhões dos custos com pessoal em relação a 30 de setembro de 2017, este número não reflete bem a realidade. É que essa redução se explica em grande parte pelo prémio de apuramento para a Champions que se pagou na época passada. Ao nível dos salários propriamente ditos, o corte não chegou aos 1,2 milhões nos primeiros três meses da época.


Isto, apesar de terem rescindido alguns dos jogadores mais caros do plantel e de termos deixado de suportar o encargo com o elevado salário de Jorge Jesus. Ou seja, na prática, é provável que esta redução se deva na totalidade à diferença de salários entre a equipa técnica de Jorge Jesus e José Peseiro. Ao nível dos jogadores, os gastos devem ser semelhantes aos da época passada - o que, mesmo assim, não foi suficiente para evitar que o plantel seja desequilibrado e tenha lacunas gritantes em determinadas posições. 

No final do 1º semestre será possível ter uma ideia mais clara em relação a este desfasamento entre custos e receitas, mas para já o panorama não é animador. Será um dos principais desafios que a direção de Frederico Varandas terá de enfrentar até junho ao nível financeiro.


Endividamento

Aqui as notícias são melhores, pois continua a tendência de redução do endividamento da SAD. Ao longo do 1º trimestre, o Sporting reduziu a sua dívida (factoring incluído) em 4,3 milhões de euros.


Olhando apenas para a componente de endividamento das receitas antecipadas, houve uma redução do seu valor para cerca de 44 milhões de euros.


Ao longo da época deverá haver desenvolvimentos ao nível da composição da dívida, sendo certo que a questão da tesouraria será uma das principais dores de cabeça da direção. Em novembro teremos a emissão do novo empréstimo obrigacionista e continua a ser negociada a nova reestruturação da dívida do grupo Sporting. Para além disso, há a questão dos recebimentos e pagamentos das transferências. O acordo por Patrício permitiu um encaixe de 14 milhões que ainda não está refletido nestas contas, mas as obrigações a curto prazo no pagamento de transferências continuam a ser superiores ao que temos a receber.