As declarações de Beto que foram divulgadas no final da tarde de ontem dão a entender que, pelo menos para já, José Peseiro é para continuar como treinador do Sporting. É uma decisão (ou não-decisão, dirão aqueles que pensam que o atual técnico não tem condições para continuar) polémica face à ausência de sinais positivos ao fim de três meses de trabalho, mas parece-me indiscutível que este dilema que foi colocado à nova direção não é nada fácil de resolver.
Não é fácil de resolver porque é complicado para um presidente despedir um treinador quando ainda nem sequer fez um mês desde que chegou - ainda mais num clube que parecia ter perdido o mau hábito de promover mudanças de equipas técnicas com a época em curso -, e ainda mais complicado fica de resolver quando não existe nenhuma alternativa óbvia a que se possa recorrer para substituir Peseiro. Uma coisa seria ter alguém como Leonardo Jardim ou Paulo Fonseca sem trabalho e disponível para regressar. Outra é olhar-se para os treinadores disponíveis (sem trabalho ou, tendo trabalho, que estão em clubes de menor dimensão) e não se ver nenhum que dê garantias razoáveis de conseguir salvar uma época que não começou bem. Há, no entanto, vários treinadores que dão garantias de conseguir não fazer pior do que Peseiro, ou seja, pior não ficaria, e é bem possível que consigam implementar melhorias em relação ao que temos agora.
De entre os treinadores portugueses que estão atualmente sem trabalho, os nomes de Rui Faria e Miguel Cardoso surgem à cabeça. Rui Faria tem estatuto graças a um percurso de grande sucesso mas desconhece-se se tem as competências necessárias para assumir o papel de treinador principal. Miguel Cardoso é um treinador com ideias de clube grande a quem não foram dadas as condições necessárias para se impor no Nantes, capaz de implementar um futebol atrativo e que poderá ser eficaz com as armas que teria no Sporting, mas a quem na minha opinião falta pragmatismo para fazer concessões à sua "proposta de jogo" contra adversários com capacidade para a anular. No entanto, mesmo sem ter quaisquer certezas sobre se são o treinador de que o Sporting precisa, parece-me que ambos os técnicos - em particular Miguel Cardoso - seriam upgrades claros em relação a José Peseiro.
Há também um conjunto de treinadores da I Liga que estão a demonstrar competência, como Nuno Manta, Luís Castro, Daniel Ramos ou Silas. No entanto, sabemos de situações similares no passado que nem sempre - ou quase nunca - é fácil a transição para um clube grande a passar por dificuldades (por exemplo, o próprio Luís Castro falhou no Porto quando substituiu Paulo Fonseca. Haveria algum risco, quer para o clube, quer para os treinadores.
Para já, a decisão da SAD parece tomada: mantém a confiança em José Peseiro, salientando que o campeonato é uma maratona que ainda está no princípio. Por um lado, parece-me que há muito wishful thinking nesta análise, pois a não ser que algo mude drasticamente, não tardará muito para ficarmos mais distantes da liderança do que os atuais quatro pontos. Por outro, tomar agora uma decisão para desenrascar poderá comprometer uma melhor solução que possa surgir daqui a um mês. O tempo dirá se a SAD está a agir bem ou não.