Perdemos 4-2 com o último classificado e não se pode dizer que alguém tenha ficado surpreendido em função de como o jogo decorreu. Concedo que do meio-campo para a frente a qualidade deste Portimonense é muito superior à média, mas, ainda assim, nada justifica que frente a uma defesa que está - essa sim - ao nível das piores do campeonato, o Sporting tenha criado a sua primeira oportunidade para marcar aos 60 minutos de jogo. O pouco que o Sporting criou foi em esforço. Nada sai de forma natural, não há quaisquer tipo de automatismos que potenciem a qualidade dos jogadores. Uma falta de capacidade de construção confrangedora que é evidente aos olhos de todos de há largas semanas para cá e que deixava adivinhar que seria uma questão de tempo até vivermos uma noite destas.
Houve exibições individuais paupérrimas - Ristovski, Battaglia, Gudelj e Jovane estiveram a um nível abismal - no meio de um nevoeiro tático que apenas Nani conseguiu furar com a sua clarividência, mas numa fase destas é perfeitamente claro que a responsabilidade é, sobretudo, de José Peseiro. Foi uma derrota com assinatura de treinador.
Quem, ao fim de três meses de trabalho, insiste num duplo pivot que funciona como uma espécie de anticiclone na construção de jogo (ver um jogo do Sporting 2018/19 é ver a bola sistematicamente a contornar o centro do terreno, a fugir de quem supostamente o devia pensar), quem, ao fim de três meses de trabalho, não consegue arranjar forma para que jogadores como Bruno Fernandes ou Montero deixem de receber a bola nas piores condições imagináveis, quem, ao fim de três meses de trabalho, insiste em impor a antítese de um futebol apoiado que impede que os nossos melhores executantes rendam o seu normal, quem, ao fim de três meses de trabalho, assiste impávido ao definhar exibicional de um plantel que, apesar de desequilibrado - em parte por culpa sua -, não tem condições para continuar a ser treinador do Sporting.
A única coisa que pode segurar Peseiro neste momento é a dúvida sobre se valerá a pena mudar apenas por mudar, porque não vejo nenhum candidato que possa ser encarado como uma solução efetivamente de futuro. Mas a verdade é que olho para a frente e não consigo imaginar pior perspetiva do que ter que continuar a assistir a jogos da qualidade que temos tido até agora.
Este é o primeiro grande desafio da presidência de Frederico Varandas. Ao contrário do que pensava inicialmente, este nível exibicional torna muito difícil que seja possível aguentar Peseiro até ao fim da época sem que isso tenha o impacto negativo na sua própria presidência.
P.S.: foram assustadoras as imagens de Salin após ter embatido com a cabeça no poste. Que recupere rapidamente.