Não vi o jogo. Não sei se o
Benfica estava a jogar terrivelmente mal com o São Paulo quando os adeptos
começaram a gritar por Cardozo. Sei que Lima não deve ter achado piada, apesar
de não ser ele o visado, e Rodrigo deve ter ficado a ver a vida a andar para
trás. Aliás, todo o grupo de trabalho deve ter sentido a pressão do momento.
Dizem que a certa altura chegaram
os lenços brancos para Jesus. E esta é a maior injustiça de todas. Dizem que
Jorge Jesus é arrogante, mas será que o adepto benfiquista não é mais? Pelo
menos muitos deles parecem achar que têm o direito divino à vitória, e aquele
sujeito que masca pastilha elástica de boca aberta só está lá a atrapalhar. Enfim,
estão mal habituados e têm memória curta.
A Benfica TV interrompeu o momento dos lenços brancos para transmitir em direto uma atuação do Rancho Folclórico Infantil da Lardosa |
Este Jesus tem de facto defeitos:
é mau a comunicar, é arrogante e como tal teimoso em algumas das suas opções,
gosta de colocar-se no centro das vitórias e na periferia das derrotas, e por
isso deve gerar muitos anticorpos no balneário. No entanto, sabe pôr as equipas
a jogar à bola como não me lembro de ver em Portugal há muitos anos. E ao mesmo
tempo, vai operando vários milagres, descobrindo, potenciando e valorizando
jogadores como ninguém.
Os benfiquistas bem que podem
continuar a procurar o treinador perfeito, mas não o vão encontrar porque ele
não existe. O que deviam fazer era exigir que a estrutura do Benfica ajudasse o
treinador a controlar os seus defeitos. Alguém devia ajudar Jesus com o que
deve ou não dizer nas conferências de imprensa, alguém tem que fincar o pé quando
o treinador teima em apostas de jogadores que toda a gente vê que não
funcionam, alguém tem que lhe estabelecer prioridades e fixar objetivos.
Na época passada o Benfica perdeu
tudo porque ninguém disse ao treinador que tinha que apostar unicamente no
campeonato. Nos quartos de final e nas meias finais da Liga Europa devia ter
poupado jogadores para o campeonato, nomeadamente aqueles que estavam a jogar
no limite da sua capacidade física, como o Enzo. Mas não, toda a gente achou
que o Benfica tem que jogar sempre para ganhar e por isso não houve poupanças
para ninguém.
Não sei se repararam, mas os 3
títulos europeus que o Porto conquistou este século só foram ganhos porque o
campeonato estava decidido em Fevereiro. O Porto pôde poupar os jogadores
críticos no campeonato para jogar forte na Europa.
Olhemos para Vitor Pereira, o
atual treinador do Al-Ahly. Todos lhe reconhecem competências técnicas, mas
ninguém dá um tostão por ele enquanto líder de estrelas. Quando a coisa começou
a dar para o torto em 2011-12 (perda de pontos no campeonato e eliminação humilhante
na taça com a Académica), Pinto da Costa desceu ao balneário. Pôs os pontos nos
i’s com os jogadores e resolveu a lacuna de liderança do treinador de uma vez
por todas.
Foi isto que faltou à estrutura
do Benfica: trabalhar para minimizar as lacunas do seu treinador, o que é particularmente
grave pois já lá vão quatro anos de convivência. Deviam ter-se sentado no
gabinete com o treinador e dizer-lhe que a Liga Europa seria sempre o 3º
objetivo da época, ir ao balneário dizer aos jogadores que a última gota de suor
tinha que ficar reservada para o campeonato, e fazer um ou outro discurso nas
casas do Benfica a explicar aos sócios que o Benfica não pode entrar da mesma
forma em todas as competições em que está envolvido, porque a manta não dá para
cobrir tudo.
Por isso, caros benfiquistas, pensem bem se não é melhor deixarem os lenços brancos no bolso. Nem o clube tem o direito divino da vitória só porque sim, nem irão encontrar melhor treinador facilmente depois de mandarem JJ embora. E sim, tremam perante a perspetiva de Jesus um dia ir treinar para o Porto.