Quando Montero marcou o primeiro golo contra o Olhanense, nem festejei. Pouco antes de o André Martins bater o livre vi dois jogadores do Sporting adiantados claramente em relação à defesa. Pensei imediatamente para comigo: "Estão a pôr-se a jeito para assinalarem fora-de-jogo". Depois o livre é batido e quando vejo a bola entrar na baliza não me mexi, pois esperava ver o fiscal-de-linha a assinalar a irregularidade. Isso não aconteceu, o golo valeu mesmo. Pouco depois a repetição confirma que Montero, o marcador do golo, estava mesmo em posição de fora-de-jogo.
Para mim estraga-me o sabor da vitória. Não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que preferia que o Sporting tivesse empatado. Não, nada disso. Prefiro ganhar desta forma do que não ganhar. Ficaria muito mais chateado se o Sporting tivesse empatado ou perdido. E no final da época desportiva, se o Sporting tiver feito uma boa campanha nem sequer me vou lembrar do facto de este golo ter sido obtido de forma irregular. Mas hoje a vitória não teve o mesmo sabor do que contra o Arouca ou contra a Académica.
Os nossos adversários chamam-nos calimeros por nos queixarmos frequentemente dos erros de arbitragem contra nós. Eu diria que, proporcionalmente, até nos queixamos muito menos que Porto e Benfica quando estes são prejudicados pelas arbitragens. Todos sabemos o escândalo que dirigentes, treinadores, jogadores, adeptos, paineleiros, jornalistas e colunistas de cores clubísticas bem definidas fazem quando Porto e Benfica tem reais razões de queixa das decisões de um árbitro.
Talvez por ser calimero, por saber o que custa ser vítima dos erros de arbitragem muito mais vezes do que os nossos rivais, me permita ter mais compreensão pelos nossos adversários quando são prejudicados para benefício da minha equipa. E mesmo considerando que foi um jogo em que o Sporting foi sempre a melhor equipa em campo e a única que fez por ganhar a partida. Confesso que não sei se a generalidade dos sportinguistas teve hoje a mesma sensação do que eu, mas gostava genuinamente de saber.
O Calimero que eu via na televisão em criança, para ser feliz, nunca desejava que isso implicasse injustiças para os outros. Nem eu.
Calimero festeja efusivamente o golo de André Martins |