Ainda é muito cedo para sabermos se estes primeiros seis meses de
presidência vão dar os frutos que os sportinguistas desejam, já que a
procissão ainda não saiu do adro. No entanto, é indiscutível que os
sinais são bons. O presidente do Sporting tratou os sócios como adultos,
que souberam reagir em conformidade quando enfrentados com uma
realidade aterradora. A norma no dirigismo nacional costuma ser outra:
esconder os problemas, fazer discursos desgarrados da realidade para
tentar arregimentar os sócios, e criar manobras de diversão para afastar
a atenção do essencial.
O melhor que os seis meses de presidência de Bruno de Carvalho nos mostrou, na minha opinião, é:
- estabelecimento de uma cultura de exigência global: com dirigentes, parceiros, treinadores, jogadores, sócios e adeptos
- corte de relações com o Porto e recusa de alianças com o Benfica: o caminho do Sporting é para se fazer sozinho
- corte com uma cultura despesista e populista seguida pelos seus antecessores, adotando uma abordagem ultra-realista na resolução dos problemas e de enorme transparência na comunicação com os sócios
E o pior:
- dizer que espera que o Sporting seja recebido de forma hostil pelo Porto: só serve para inflamar ânimos e dá um pretexto que será utilizado pelo Porto para se motivar
- tratamento de casos como os de Labyad e Jeffren, e por outro lado de Bojinov, são discutíveis: não fica nada bem para um clube tratar jogadores desta forma por terem salários demasiado altos para o seu rendimento
- a forma como comunica vai gerar muitos anticorpos, que estando agora adormecidos, poderão despertar e virar-se contra o presidente se os resultados desportivos ficarem abaixo das expetativas
Não coloquei a resolução dos casos Bruma e Ilori nem no melhor nem no pior porque considero que a história poderia ter tido um desfecho mais favorável (os jogadores renovarem o contrato) mas também seria muito injusto culpabilizar esta direção pelo conflito. Os jogadores já tinham a cabeça feita quando a nova direção tomou posse. E, convenhamos, a vitória na CAP e os encaixes conseguidos acabaram por ser bem melhores para o ego e para a conta bancária do que à partida esperaríamos.
Alguns dos pontos que não gostei são consequência de outros que gostei, estou consciente que há alguma incoerência nesta lista das coisas que gostei mais e menos. A abordagem ultra-realista que elogiei provocou os casos extremados que critiquei com Jeffren, Labyad e Bojinov. A forma como Bruno de Carvalho comunica é ríspida e por vezes excessivamente agressiva, mas está ligada a um discurso muito direto e transparente, com pouca paciência para quem não está preparado para ouvir a mensagem que quer passar.
Tratando-se de um presidente jovem e com pouca experiência, é natural cometa erros. É importante que os sportinguistas saibam compreender que, como tudo na vida, há um processo de aprendizagem pelo qual Bruno de Carvalho vai ter que passar. No entanto, para já, esta presidência tem superado largamente as minhas expetativas. Estou preparado para não ficar desiludido se as coisas começarem a correr menos bem, mas acima de tudo estou muito esperançado que o caminho certo está a ser trilhado.