sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A hora do presidente

                                                                                                                                     
Goste-se ou não do estilo de Bruno de Carvalho, há uma coisa que todos têm que reconhecer: o presidente do Sporting tem sabido manter uma linha de comunicação constante com os sócios e adeptos, esclarecendo os assuntos que nos preocupam em tempo útil. 

Ao longo do primeiro ano e meio de mandato, fê-lo mais à base de comunicados (muitos), declarações à imprensa à margem de eventos em que participava e, mais esporadicamente, através de entrevistas televisivas. Com o aparecimento da Sporting TV, parece que existe (e bem) o propósito de utilizar o canal como um canal efetivamente privilegiado de comunicação entre a direção e os sportinguistas. 

No espaço de uma semana tivemos dois exemplos sintomáticos: primeiro, quando Bruno de Carvalho esteve presente no programa Sporting Directo para esclarecer os casos Rojo e Slimani, e ontem ao ser anunciado um programa mensal em que o presidente responde a um conjunto de questões dos adeptos que a Sporting TV recolhe através de diversas plataformas (perguntas diretas via mail, fóruns, redes sociais).

O tal programa mensal, "A Hora do Presidente", que ontem foi mais "A hora e meia do Presidente", vai certamente dar pano para mangas para quem não aprecia Bruno de Carvalho e o seu estilo. É de esperar que venham as habituais críticas sobre a sobre-exposição mediática do presidente, tudo em nome do seu ego e da irresistível vontade em ter os holofotes apontados para si, agora com um espaço que faz lembrar as famosas sessões semanais em que Hugo Chavez se dirigia ao seu povo. No fundo, um meio de propaganda e de culto de personalidade.

Não é a minha opinião, muito pelo contrário. É verdade que não foram 90 minutos de puro esclarecimento de dúvidas dos sportinguistas - houve muito tempo dedicado ao envio de recados para fora, recados internos, e apelos para a participação ativa dos sportinguistas na vida do clube. Apesar disso, é indiscutível que Bruno de Carvalho abordou de forma direta as questões mais complicadas do momento (como o papel da formação vs. reforços, contratações fracassadas, ou o contra-ataque da Doyen) e esclareceu a posição do clube em relação a certos temas (como a polémica à volta das eleições na Liga).

Fiquei 100% convencido com todas as explicações dadas? Não. Em alguns casos existiram algumas omissões e foram reveladas certas coisas que me deixaram um pouco na dúvida sobre a sua veracidade, mas percebi o motivo de a opção ter sido essa - há esclarecimentos que se forem dados com total transparência podem desmoralizar jogadores ainda ligados ao clube ou prejudicar os interesses do Sporting contra outras entidades com quem estamos em conflito. 

No fundo, foi um espaço de esclarecimento aos sócios - e aí cumpriu muito bem os seus objetivos -, mas também com um certo cariz político que não passa despercebido a quem acompanha diariamente os assuntos do clube. 

O mais importante a reter, na minha opinião, é que existe a preocupação da direção em saber quais são as principais dúvidas e preocupações dos sportinguistas, o que não é nada desprezável. Comparemos com os nossos rivais: 
  • o Porto procedeu a uma revolução no plantel, inverteu a política desportiva que os norteou durante a última década, e nem uma explicação foi dada aos seus sócios até hoje; 
  • os benfiquistas assistiram a acontecimentos como o desmantelamento do plantel, rumores de pré-falência em virtude dos problemas do BES, e tiveram que esperar mais de um mês para ouvirem uma palavra do seu presidente (e nem me vou pronunciar sobre o que foi dito por Vieira).


Numa altura em que a falta de transparência está a tomar conta do futebol, em que cada vez mais são tomadas decisões e negócios que não têm explicações racionais aparentes, envolvendo figuras obscuras e omni-presentes cujas motivações são desconhecidas, e em que a generalidade do dirigismo vive num estado de negação permanente perante problemas que são óbvios para toda a gente, é de saudar sem quaisquer reservas a preocupação que o nosso presidente demonstra para manter-nos informados.