Ao longo da última semana tem sido debatido quem, de entre Porto e Benfica, tem feito um maior esforço financeiro no reforço do plantel nesta época. O indicador mais utilizado tem a ver com o valor despendido nas contratações, para já com ligeiro ascendente encarnado (€30M contra €29M do clube nortenho).
No entanto, o dinheiro gasto em contratações é uma abordagem muito relativa, atendendo ao facto de a estratégia portista estar-se a basear em grande parte em jogadores emprestados e aquisições subsidiadas por fundos de investimento.
Está aqui, na minha opinião, o grande risco que o Porto está a correr. Não no facto de ter gasto €29M em contratações (valor que não entra para custos de uma só vez, visto que é amortizado ao longo da duração dos contratos dos jogadores - tipicamente 4 ou 5 anos), mas no facto de estar a inverter uma política que tantos proveitos lhes rendeu ao longo da última década.
O Porto conseguiu encaixes absolutamente fenomenais à custa da estratégia comprar barato --> desenvolver jogador --> vender caro. Progressivamente começou a comprar mais caro, e nas últimas 2 ou 3 temporadas foram muitos os jogadores que chegaram por montantes bastante superiores ao tradicional, nomeadamente Danilo e Alex Sandro, mas também Jackson, Reyes e Herrera, e mais recentemente Bruno Martins Indi, notando-se também uma crescente participação de fundos nas aquisições.
Melhor ou pior, as mais-valias gigantescas que o Porto tem conseguido com esta estratégia tem ajudado a maquilhar um grande défice estrutural nas suas contas.
Em 2011/12, o Porto apresentou um prejuízo de €33,5M, mesmo tendo conseguido realizar mais de €28M em mais-valias de jogadores:
Se excluíssemos estas mais-valias, falaríamos de um prejuízo que superaria os €62M.
Em 2012/13, o Porto apresentou lucros de €20M, muito por causa dos quase €70M de mais-valias alcançadas em vendas:
Não fossem essas vendas, e os prejuízos andariam à volta dos €50M.
Em relação a 2013/14, ainda não foram divulgados os números finais da época. Os últimos dados são referentes ao 3º trimestre, em que foram apresentados prejuízos de €9,5M e mais-valias de €10,5M.
Normalmente, os resultados do último trimestre têm tendência para agravar significativamente o panorama em relação aos primeiros três trimestres, pelo que é de esperar que o prejuízo apresentado seja bastante superior aos €9,5M de finais de março.
Vemos, portanto, que o Porto está muito dependente dos encaixes que vai fazendo com jogadores que valoriza e de cujos passes é o principal proprietário.
Do plantel portista atual, ainda há 3 jogadores cujo percentagem do Porto é elevada e que poderão render um encaixe considerável no curto prazo: Danilo (100%), Alex Sandro (100%) e Jackson (95%). Martins Indi e Maicon também são detidos em 100%, sendo que no caso do primeiro é possível que seja valorizado a médio prazo. Desconheço se Rúben Neves é 100% do Porto, apesar de ser ainda muito cedo para perceber se irá ou não pegar de estaca.
Depois disto, o panorama começa a não ser tão brilhante: Herrera (80%), Quintero (50%), Reyes (47,5%), Aboubakar (30%), Brahimi (20%), Casemiro (emprestado), Óliver (emprestado) e Tello (emprestado). No caso de Óliver não há opção de compra, e nos outros dois os clubes que os emprestaram têm a possibilidade de os reaver em condições muito favoráveis.
Some-se a tudo isto o previsível aumento da massa salarial do Porto, que já era alta. Com o aumento dado a Jackson, e a chegada de jogadores vindos de algumas das principais equipas europeias, é previsível que o défice operacional seja superior em 2014/15 - para todos os efeitos, continuamos num país em crise e em que o esforço financeiro feito pelo Porto no reforço do plantel está em total contra-ciclo com o resto da economia.
A ideia que passa é que, não havendo uma mudança significativa de vida, o clube acabará em breve por ficar com uma carteira de jogadores cuja propriedade será detida maioritariamente por terceiros, o que será um problema para realizar as tais mais-valias que mantém os resultados à tona de água.
A não ser, claro, que se continuem a fazer milagres financeiros como o de Mangala, em que um fundo abdica voluntariamente de uma enorme parcela do quinhão a que teria direito graças ao charme hipnotizador de Pinto da Costa. Se for assim, até podem mandar vir os craques todos de que precisam ficando apenas com 20% do passe, que continuam a ter um modelo de negócio perfeitamente viável.