A dolorosa forma como concedemos o golo do empate frente à Académica parece ter materializado os receios que bastantes sportinguistas tinham sobre a (falta de) competitividade do plantel. Ao longo destes dois dias foram várias as reações explicitamente negativas sobre aquilo a que esta equipa poderá ambicionar, o que é um sinal de evidente intranquilidade numa fatia nada desprezável dos sócios e adeptos do Sporting.
Não me entendam mal, cada um sente os sucessos e insucessos à sua maneira, e apesar de ter gostado dos sinais que a equipa deu no sábado, não tenho legitimidade para dizer que quem não partilha do meu ponto de vista está errado.
Também não tenho dúvidas que a esmagadora maioria dos adeptos mais pessimistas que comparecerão em Alvalade no próximo sábado não deixará de apoiar intensamente a equipa do princípio ao fim do jogo, mas há uma coisa que me preocupa genuinamente: a reação da assistência à prestação de André Carrillo.
Se todos estamos de acordo em relação ao talento puro do peruano, o mesmo não se pode dizer em relação à paciência que resta para responder de forma construtiva a lances menos conseguidos pelo jogador. Quem esteve no estádio no último jogo oficial da época passada lembrar-se-á certamente da monumental vaia que Carrillo ouviu ao ser substituído a poucos minutos do intervalo. Eu, garantidamente, não o esquecerei tão cedo - foi provavelmente o momento mais baixo de todos aqueles que vivi em Alvalade na época passada.
Carrillo até podia ser o pior jogador que alguma vez envergou a camisola verde e branca (e sabemos que está longe de o ser), mas nada justifica que o público sportinguista humilhe um dos seus daquela forma. Que se dediquem vaias destas aos Moutinhos, Hugos Vieiras, Sabrosas, ou dirigentes de clubes visitantes que nos desrespeitaram e prejudicaram deliberadamente no passado, é uma coisa totalmente compreensível. Fazê-lo a um jogador nosso só porque tarda em concretizar o enorme potencial que tem é absolutamente lamentável.
No jogo de sábado em Coimbra, Carrillo esteve diretamente ligado ao golo do empate. No entanto, foi também o jogador em campo que mais fez para trazer os três pontos para casa: jogou, fez jogar, criou lances mágicos e não regateou esforços para recuar em apoio à defesa. Aliás, neste último capítulo, já tinha ficado visível durante a pré-época o esforço de Carrillo para corrigir um dos maiores defeitos que se lhe apontava: o alheamento do jogo quando não tinha a bola nos pés.
O peruano parece estar com vontade para concretizar as expetativas que temos depositadas nele há vários anos, mas nós também temos o nosso papel a cumprir. No sábado, se as coisas não lhe correrem bem no início do jogo, no mínimo temos que o apoiar como a qualquer um dos outros dez que estejam em campo. Num mundo ideal, todos deviam reconhecer o esforço que Carrillo está a fazer por se tornar melhor jogador - recompensando-o com apoio mesmo quando a finta não sai ou quando o remate se desvia do alvo.
Mas se não conseguirem ter estômago para aplaudir uma ou outra asneira que Carrillo possa fazer, POR FAVOR, guardem os assobios e as críticas para o final dos 90 minutos. O miúdo não merece ser julgado e condenado em pleno jogo e o Sporting agradece.
P.S.: durante toda a segunda-feira foram inúmeros os rumores e notícias que dão como certo regresso de Nani ao Sporting. Não me considero uma pessoa pessimista, mas quando a esmola é grande tenho o hábito de desconfiar. Nani seria indiscutivelmente uma grande contratação (mesmo por empréstimo, e mesmo considerando que tem estado longe do seu melhor nos últimos 2 anos) para uma posição em que temos carências evidentes. Mas infelizmente ganha €5M / ano, €20M por Rojo (cuja saída é inevitável) já é muito dinheiro, e pode haver quem ainda tente interferir nas negociações para o afastar de Alvalade, se forem verdadeiras as notícias do interesse do Sporting. E ainda há a dúvida do papel que a Doyen poderá ter em todo este processo.
Não quero fazer o papel de profeta da desgraça, mas devemos ser prudentes em relação a este tipo de notícias. Caso contrário, a alegria que a concretização da sua chegada geraria pode transformar-se em depressão caso um dos muitos possíveis entraves seja impossível de ultrapassar.
(acabei de escrever este texto às 23h30 de segunda, pelo que este comentário já poderá estar desatualizado quando o post for publicado)