Seguramente que o empate alcançado pelo Sporting em Coimbra não foi a estreia que nós esperávamos, e é natural que estejamos desalentados por estarmos a perder pontos logo na primeira jornada, contra um adversário nitidamente inferior.
É normal que procuremos procurar culpados pela forma como acabámos por deixar fugir a vitória ao cair do pano, num jogo que desde os primeiros minutos parecia estar totalmente controlado. Pessoalmente, penso que a vitória não nos escaparia caso a parte do cérebro que zela pelo instinto de auto-preservação de alguns jogadores não tivesse tirado férias. Outros acham que o problema é mais estrutural e que tem a ver com a falta de qualidade de plantel (diretamente ligado ao facto de a direção não ter conseguido contratar jogadores que tivessem qualidade para entrar diretamente no onze), e há também quem culpe Marco Silva pelo sucedido (uns limitando-se a registar que o treinador não mexeu na equipa em tempo útil, outros já sentenciando que Marco Silva é um erro de casting e que vai desfazer tudo aquilo que Leonardo Jardim construiu).
Parece-me que não é justo estarmos a imputar as culpas do empate ao treinador, e muito menos estarmos já a duvidar da sua competência.
Tivesse Carrillo, desgastadíssimo após 90 minutos de grande intensidade e brilhantismo, decidido afastar a bola da área em vez de a colocar em Paulo Oliveira, e não estaríamos a discutir nada disto. Tivéssemos tido a eficácia concretizadora que nos acompanhou em grande parte da época passada, e teríamos saído de Coimbra com uma goleada no bolso. Se não fossemos obrigados, por culpa própria, a jogar em desvantagem numérica durante 25 minutos, e muito provavelmente a história da partida teria sido outra.
Estarmos ao fim de um jogo a concluir que um treinador não serve é absurdamente prematuro, e também não fazem sentido as comparações com o arranque de temporada de Leonardo Jardim - quem quiser fazer algum tipo de comparação, então que compare este jogo com os que fizemos na segunda volta da época passada, e não com o arranque de 2013/14, quando os adversários ainda não nos levavam a sério.
Pode-se discutir que os reforços não servem (o que também é prematuro dizer), mas pelo que vi até agora Marco Silva está a tentar a colocar a equipa a jogar mais à grande, é verdade que correndo mais riscos, mas procurando evitar que o nosso futebol se torne previsível e mastigado.
É claro que podiam ter sido tomadas outras opções após a expulsão, mas não foi por aí que desperdiçámos pontos. Os extremos foram incansáveis no apoio aos laterais, e não seria por tirarmos um extremo para colocar um médio que iríamos impedir que a Académica tentasse explorar os flancos e os cruzamentos para o meio da área quando via os caminhos bloqueados. Para além disso, esses mesmo extremos, em inferioridade numérica, criaram excelentes ocasiões de golo que podiam ter arrumado com o jogo.
Também não foi por Esgaio não estar no banco que o jogo acabou como acabou - e Marco Silva não podia adivinhar que Cédric, um dos jogadores com mais pulmão do onze, se iria lesionar. E Rosell até fez bem a posição - não me lembro de a Académica conseguir criar grandes desequilíbrios pelo nosso flanco direito.
Da mesma forma que achei que devíamos ter muita calma para não entrarmos em euforia após o brilhante arranque do ano passado, também acho que é totalmente prematuro entrarmos em depressão por causa deste empate. Gostei imensamente mais destes 90 minutos do que os 45 minutos da primeira parte com o Gijón, em que tivemos uma equipa amorfa incapaz de desequilibrar no ataque - isso sim, deixou-me preocupado. Estes jogadores, com a vontade que demonstraram em Coimbra, proporcionaram-nos bons momentos de futebol e mandaram totalmente no jogo enquanto estivemos com onze jogadores. De uma forma geral o jogo mostrou bons indicadores, que infelizmente acabaram por ser abafados por erros individuais perfeitamente evitáveis.
Em condições normais, com aquilo que jogámos, esta vitória não nos teria escapado. Isso parece-me um indicador muito relevante que não deve ser menosprezado. Continuo a pensar que Marco Silva é o homem certo no lugar certo. É preciso dar-lhe tempo e não é ao fim de um jogo oficial que se podem tirar quaisquer conclusões definitivas.