Winston Churchill disse um dia que um indivíduo pessimista é aquele que vê dificuldades em todas as oportunidades, e que um otimista é aquele que vê oportunidades em todas as dificuldades. Considero-me uma pessoa otimista, mas confesso que neste momento só consigo ver uma única oportunidade no desastre que ocorreu hoje na Eslovénia. E que oportunidade é essa que consegues ver nesta tragédia, perguntam vocês? Já lá vamos.
Num jogo em que o Sporting foi uma equipa personalizada e dominadora, que inclinou o campo a seu favor através de uma pressão alta sufocante, recuperando inúmeras bolas a meio campo, e empurrando o adversário para a sua área, foi capaz de causar desequilíbrios com alguma facilidade e que se traduziram em mais uma resma de situações de golo que os nosso homens na frente parecem fazer questão em desperdiçar. Foi por isso tremendamente injusta aquela traição dos nossos centrais que, num hara-kiri a dois tempos, entregaram ao puto Zahovic um golo de bandeja ao cair do pano que nos roubou uma vitória que seria um importante reforço moral para os desafios que se seguem.
Com exceção de um período de dez minutos após a meia-hora da primeira parte, a superioridade do Sporting foi tão evidente e completa, que parecia impossível que saíssemos de Maribor sem os três pontos e o cheque de 7 dígitos que tanta falta nos faz. Quando aos 80 minutos Nani puxou dos galões e da perna esquerda para finalmente enfiar a bola na baliza, já nos devíamos a nós próprios uma mão cheia de golos. Até ao final ainda tivemos mais duas ocasiões de golo que podiam ter arrumado definitivamente com a partida mas que, mais uma vez, desperdiçámos. E depois aconteceu aquilo já nos descontos...
Positivo
Exibição personalizada, muito intensa, e com poucas intermitências - foi no geral um excelente jogo do Sporting. A equipa foi extremamente eficaz a não deixar jogar o Maribor. Pressão alta e constante, que terminava quase invariavelmente com a recuperação de bola, muitas vezes ainda no meio campo adversário. No ataque, muito boa circulação de bola, mesmo não estando alguns jogadores ao seu melhor nível, que deram origem a inúmeras ocasiões de golo.
Follow the leader - mais uma vez Nani jogou e fez jogar, puxou pela equipa, pegou no jogo quando tinha que pegar, e marcou um excelente golo que já pecava por escasso. Por vezes pára a bola parecendo indeciso por onde seguir, mas está de olho em todas as movimentações dos companheiros e a bola lá vai parar para os pés de quem está melhor colocado para dar sequência ao lance. Ao fim de quatro jogos já é uma referência incontornável da equipa, e à medida que vai conhecendo melhor os companheiros e os companheiros o vão conhecendo melhor a ele, essa capacidade de marcar a diferença irá aumentar. Temos que estar felizes por podermos contar com um jogador desta classe.
O tanque Slimani - não teve muitas ocasiões de golo, e as que teve levaram perigo para a baliza. Mas foi incansável nas suas ações, desgastou ao limite os centrais adversários e acabou por ativamente ajudar na construção de vários lances de perigo. Não marcou, mas fez um excelente jogo.
Seja bem-vindo, João Mário! - estreou-se em jogos oficiais de forma muito positiva, mostrando-se bastante confortável a pisar terrenos adiantados e a manobrar em espaços apertados. Foi lançado ao intervalo para substituir o apagado André Martins, e poderá ter conquistado a titularidade em Barcelos com aquilo que produziu na segunda parte.
Negativo
Killer instinct procura-se - à semelhança do que já tinha acontecido com o Belenenses (e o Benfica, e o Arouca, e a Académica) voltámos a desperdiçar infantilmente uma série de ocasiões de golo que nos teriam hoje assegurado uma vitória mais que confortável. É verdade que nenhuma dessas ocasiões foi de baliza aberta, mas não é possível que se continue a falhar tanto.
A sombra de William - o nº 14 teve hoje algumas intervenções que fizeram lembrar o William da época passada, mas continua muito incerto no passe e lento a recuperar quando o adversário recupera a bola. Algumas das oportunidades do Maribor surgiram devido ao facto de os seus jogadores terem conseguido receber a bola com demasiada facilidade numa área do terreno que William deveria controlar.
Contribuição ofensiva dos laterais - Jefferson esteve o oposto do que é normal - muito bem a defender mas inofensivo a atacar, insistindo demasiado em sprints que eram facilmente anulados pelos adversários. Cédric começou bem o jogo, mas o entendimento com Carrillo pareceu muito perro em relação ao que é normal. Foi-se apagando ao longo do tempo e ainda teve tempo para uma perda de bola infantil que levou perigo à nossa baliza.
Maurício e Sarr - pior Maurício, que já tinha ameaçado uns minutos antes ao falhar uma interceção na área que podia ter dado o golo do empate ao Maribor. Mas a paragem cerebral sincronizada que tiveram simplesmente não é admissível em alta competição. Se se tratasse um caso isolado, não seria um problema - mas infelizmente este tipo de falhas têm sido demasiado frequentes.
E, voltando à única oportunidade que vejo nesta tremenda desilusão, é que Marco Silva não poderá fechar os olhos ao estado psicológico de Maurício e às falhas de concentração de Sarr. O treinador tem que mexer no centro da defesa, caso contrário os dois centrais serão uma bomba relógio a la Artur enquanto não estabilizarem a cabeça. Estando Rabia lesionado, suponho que seja de lançar Paulo Oliveira e/ou Tobias Figueiredo já no jogo com o Gil Vicente. Vêm aí o Porto e o Chelsea, e será incompreensível se não se começar já a trabalhar uma solução alternativa à atual - e que nos poderá trazer alguns proveitos ao fim de algum tempo.
Fora isso, fora esta frustação de ver uma vitória imensamente merecida a escapar-se por entre os dedos mesmo no final, fica a (para já escassa) satisfação de ver a equipa a praticar mais uma vez bom futebol, o que nos traz boas perspetivas para o futuro. Quando a finalização entrar nos eixos e a defesa estabilizar, claro.