É um orgulho ver a nossa equipa deslocar-se de peito feito a um campo que poucas memórias positivas nos proporcionou nos últimos anos, desafiando abertamente uma equipa habituada a mandar no seu estádio e que está recheada de excelentes jogadores, e no final conseguir assegurar uma vitória absolutamente merecida.
Foi uma chapada de luva branca na legião de moços de recados que não perdem uma oportunidade para denegrir o trabalho que está a ser feito do Sporting, menorizando o talento dos nossos jogadores, o discernimento do nosso treinador e o rumo que foi delineado pelos nossos dirigentes. Foi uma chapada de luva branca em todas aquelas pessoas que, pertencendo à classe dos jornalistas e tendo uma responsabilidade especial com a neutralidade e opinião informada, encontram defeitos em tudo o que é feito na nossa casa, preferindo constantemente destacar o acessório e ignorar o essencial. Foi uma chapada de luva branca em todos aqueles que se mostram enojados pelas palavras do nosso presidente mas que assobiam para o lado perante os atos mais que condenáveis praticados por outros ao longo de décadas.
Sim, eu sei que foi *só* uma vitória, não ganhámos qualquer título, e que o normal seria não estarmos sete anos à espera para saírmos de lá com um sorriso a atravessar-nos a face, mas perante tudo aquilo que foi dito e escrito desde que a época começou, é impossível não ver no resultado de ontem uma espécie de mini-retribuição contra gente que já não faz qualquer esforço para esconder o prazer que têm quando o Sporting não consegue atingir os seus objetivos.
Uma vitória de grande mérito de uma equipa que entrou em campo com a lição muito bem estudada, conhecedora das suas limitações e virtudes, e que sabia tudo aquilo que estava em jogo ontem - ao contrário do treinador adversário.
Positivo
A vitória na cabeça de Marco Silva - o nosso treinador esteve perfeito do princípio ao fim. Teve uma abordagem ao jogo muito pragmática, que contrasta profundamente com o lirismo de Lopetegui. As alterações que fez na equipa inicial compreenderam-se perfeitamente e resultaram bem (dupla de centrais, Jonathan, Capel e Montero), conseguiu armar uma estratégia que expôs e tirou proveito das debilidades do Porto e mexeu bem na equipa ao longo da 2ª parte. Não teve medo de correr riscos e foi recompensado por isso - vencendo a batalha tática em toda a linha. Foi delicioso vê-lo festejar o golo de Carrillo. Ah, e esteve em grande na conferência de imprensa.
Cabeça fria, coração quente - numa partida a eliminar, a equipa apresentou-se de forma bastante prática e fria: muita concentração, jogou-se feio sempre que necessário, havendo o discernimento necessário para congelar o ritmo de jogo na 2ª parte quando o adversário vacilou após o penálti falhado, e também a preocupação de evitar situações que nos pudessem pôr na contingência de ver um jogador expulso por acumulação de amarelos. Uma exibição muito inteligente a que se juntou uma atitude competitiva inexcedível, em que se lutou por todas as bolas divididas como se em cada uma delas estivesse a chave para a eliminatória. Quisemos mais a vitória do que o Porto e soubemos melhor como lá chegar.
Super Patrício to the rescue - protagonista do momento do jogo ao defender um penálti de Jackson - que foi um rombo imenso na moral portista - e ainda sacou um punhado de defesas de grande nível. Está numa forma extraordinária e começam a faltar adjetivos que façam justiça a tudo aquilo que tem feito nesta época. Sem hipóteses no golo sofrido, mas também não era qualquer um que estava isolado à sua frente.
William e o comando que faz recuar 7 segundos no tempo - é uma das funcionalidades que mais aprecio no comando do Meo, mas parece que William tem algo semelhante para utilizar quando está dentro das quatro linhas: a forma como sabe sempre para onde os adversários se dirigem com bola ou, quando o próprio William recupera a bola, a forma como consegue encontrar o trajeto certo que lhe permita manter a bola até decidir soltá-la, faz-me suspeitar que ele já sabe antecipadamente os movimentos de quem o rodeia. Fora de brincadeiras, grande jogo - ao nível daquilo a que nos habituou na época passada.
Ainda e sempre Nani - um remate ao poste a abrir, um grande golo, um passe a rasgar a defesa para Slimani que esteve na origem do 1-3, e mais um jogo em que passeou classe. Começa a ser redundante estar a colocar Nani nos aspetos positivos do jogo. Gigantesco.
O tsunami verde nas bancadas - algo que já começa a ser uma imagem de marca em todos os estádios que o Sporting visita. Os 4000 que estiveram na bancada foram tão grandes quanto os 14 que estiveram lá em baixo dentro de campo.
Negativo
As bolas lançadas para as costas da defesa - bem sei que a defesa alta faz parte da estratégia de manter as linhas mais próximas, de forma a não dar tempo nem espaço para o Porto pensar o jogo, mas este fator tem sido a principal fonte de perigo dos nossos adversários. Ontem não foi diferente, e o golo de Jackson surge precisamente de um lance deste tipo. É verdade que temos Rui Patrício lá atrás, mas seria agradável que o nosso guarda-redes pudesse ter tardes ou noites mais tranquilas. Os nossos corações também ficariam gratos se fossem poupados a tantas situações destas.
É tempo de desfrutar uma vitória que nos escapava há demasiado tempo. Uma equipa com personalidade que, chegando ao estádio mais difícil do país e saindo vencedor de forma totalmente convincente, só pode deixar-nos otimistas em relação ao que o futuro nos reserva. Sabendo que não podemos embandeirar em arco, pois ainda não ganhámos nada e a procissão ainda vai no adro, conquistámos todos o direito de desfrutar deste momento. Segunda-feira será no entanto altura de voltarmos a pôr os pés no chão, porque o Schalke já está aí ao virar da esquina.