Ao longo destes quatro anos e meio de liderança de Rúben Amorim, foram muitos os jogadores que se foram destacando e construindo nome, não só a nível nacional, como também a nível europeu. Alguns tiveram o devido reconhecimento através de prémios individuais, chamadas às respetivas seleções e cobiça de prestigiados emblemas internacionais. Mas existem alguns jogadores que, tendo sido peças fundamentais para a conquista de dois campeonatos no espaço de três anos, continuam a não ter o reconhecimento que merecem por jogarem no clube onde jogam e por terem nascido no país em que nasceram.
Neste meu regresso provisório não quero deixar de lhes prestar uma homenagem especial. Por nenhuma ordem em particular, vamos ao primeiro.
Um centralão de características raras, quase como um quarterback que vê o campo todo e coloca a bola jogável seja a 5, 20 ou 40 metros. Quando tem a bola nos pés - e tanto faz se estiver à saída da área ou nas imediações do meio-campo -, podemos estar a poucos segundos de cheirar o golo na baliza adversária. Defensivamente, poucas vezes permite que os adversários passem por ele e raramente comete erros. Um rapaz correto e discreto que, dentro de campo, não passa despercebido a ninguém - exceção feita, talvez, aos selecionadores da FPF.
Falo, como todos já perceberam, de Gonçalo Inácio.
À semelhança de vários outros jogadores do Sporting num passado recente, teve de provar muito mais do que outros até passar a ser presença assídua nas convocatórias da seleção principal portuguesa. Depois de ter sido uma peça importante na conquista do campeonato nacional de 20/21, ficou fora do lote final dos jogadores da seleção A para o Euro 2020 e dos sub-21 para a fase final do Euro 2021. Se até era aceitável a ausência da seleção A - considerando que levava apenas meia época como titular no Sporting -, o argumento de não querer afetar as rotinas da defesa utilizado por Rui Jorge para o deixar de fora dos sub-21 roçou a surrealidade.
Nas seleções da FPF parece haver critérios para uns e critérios para outros. A inexperiência, por exemplo, não foi um problema na altura de convocar António Silva para o mundial do Qatar ao fim de apenas 22 utilizações no Benfica. Quanto a Gonçalo, teve de se conformar com adiamentos sucessivos nas convocatórias. Quando passou a ser convocado, teve de ouvir que não podia ser titular por não estar habituado a jogar num sistema de 2 centrais. Há sempre uma desculpa qualquer. O que sei é que é absurdo Gonçalo Inácio não ser titular indiscutível na seleção, ao lado de Rúben Dias, seja num sistema de 2 ou 3 centrais. Mas é apenas uma questão de tempo até que isso aconteça.É um dos jogadores de quem Rúben Amorim não abdica, e é fácil entender o motivo de tal fidelidade do melhor treinador português da atualidade. Sejam quais forem as circunstâncias, colocado na esquerda, na direita ou no centro, sabemos que temos ali um jogador de categoria superior que nos deixará sempre mais perto da vitória.
Vai entrar na sexta época da equipa sénior - ainda que na primeira não tenha passado do banco de suplentes - e, apesar deste percurso já bastante respeitável, sente-se que o seu ciclo no Sporting ainda está longe de estar esgotado - tanto do ponto de vista dos adeptos como do próprio jogador. Chegará o momento em que será impossível ceder ao apelo de uma liga de topo, mas, até lá, aproveitemos e desfrutemos do incrível futebol de um miúdo extraordinário que é um de nós.