sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Orçamento do Porto para 2014/15


O Porto prepara-se para apresentar o orçamento para a época de 2014/15. Ainda antes destes números terem sido divulgados, já era óbvio para todos que os dirigentes portistas decidiram fazer uma aposta muito forte para recuperar os êxitos desportivos a que habituaram os seus adeptos, mas agora o nível desse risco fica apresentado de uma forma mais clara.

Em primeiro lugar, saltam à vista os quase €71M que o Porto reserva para os custos com pessoal (vulgo orçamento). Em 2013/14, o Porto teve um orçamento de €49M, o que significa que estaremos perante um aumento de 45% nesta componente de custos. Note-se que nos custos com pessoal não estão incluídos custos com a aquisição de passes de jogadores. Falamos apenas de salários de dirigentes, treinadores, jogadores e outros funcionários.

O Sporting, por exemplo, prevê manter na época de 2014/15 os custos pessoal na ordem dos €25M (igual a 2013/14). Isto significa que o Porto terá um orçamento que se aproxima do triplo daquele de que o Sporting dispõe.

O crescimento galopante dos custos previstos pelo Porto não surpreendem. Por exemplo, ao que se diz Jackson passou a receber €4M brutos anuais quando renovou, o mesmo que Adrián. Outros atletas como Brahimi, Tello, Aboubakar, Marcano, Casemiro ou Oliver, provenientes de grandes equipas europeias ou de mercados que pagam muito bem, não deverão ser jogadores baratos. Junte-se a isso outros salários gordos como devem ser os de Quaresma, Danilo e Alex Sandro, e os de uma administração que, apesar de ter falhado todos os objetivos da época, continua a pagar-se e a premiar-se a peso de ouro, e não é difícil perceber como os custos salariais se poderão empilhar até aos €71M.


Há uma falácia na determinação dos resultados operacionais negativos de €25M. O Porto está a considerar no orçamento de 2014/15 o prémio de participação da Liga dos Campeões referentes a 2014/15 (normalmente contabilizam-no na época desportiva em que garantiram a qualificação, mas não o puderam fazer nas contas de 2013/14 porque não se classificaram diretamente) e 2015/16. Ou seja, na realidade o buraco operacional anual é de €33,5M.

Este orçamento prevê um resultado líquido de €541.000, mas para isso o Porto prevê gerar €66,5M em mais-valias de alienações de passe de jogadores - o que é um valor astronómico, mesmo considerando que as vendas já realizadas de Mangala e Defour serão contabilizadas em 2014/15.

Segundo Fernando Gomes, Mangala (vendido por €40M, €30,5M dos quais ficaram no clube - apesar de a sua percentagem de passe corresponder a apenas €22,6M - a Doyen terá abdicado de €7,9M) e Defour (vendido por €6M) geraram mais-valias de €25M, o que significa que faltará gerar "apenas" €41,5M de mais-valias.

Não será assim tão fácil. As mais-valias correspondem ao valor de venda subtraídos do valor contabilístico do passe, das comissões a intermediários e ao montante que cabe a outros detentores do passe do jogador, acabando por representar uma percentagem mais pequena do que normalmente se imagina.

Para terem uma noção, analisemos as vendas do Porto em 2013/14 e as mais-valias que representaram:
  • Atsu: venda de €3M, que correspondeu a €2M de mais-valias
  • Otamendi: venda de €12M, que correspondeu a €8M de mais-valias
  • Castro: venda de €2,1M, que correspondeu a €1,7M de mais-valias
  • Fernando: venda de €15M, que correspondeu a €5,3M de mais-valias (o jogador, empresário e o intermediário ficaram com 65% da transferência - normal, pois foi fruto de uma renovação feita numa altura em que o jogador já era dono do seu destino)
  • Iturbe: venda de €15M, que correspondeu a €4,7M de mais-valias

Ou seja, num total de €47M de vendas o Porto realizou apenas €21,6M de mais-valias. Neste momento, Jackson, Danilo e Alex Sandro são os únicos jogadores com mercado e cujo passe é detido maioritariamente pelo Porto. Depois de venderem estes, os jogadores de maior mercado que sobram servirão sobretudo para enriquecer terceiros. 

O que certamente não desaparecerá da vida do clube é o enorme desequilíbrio das contas operacionais e os pesados custos financeiros. Esses serão sempre detidos 100% pelo Porto.

Aumento galopante dos custos, um conjunto de jogadores que cada vez mais estão na posse de terceiros, previsões de receitas otimistas e que pressupõem um ano de grande sucesso desportivo - tudo isto numa conjuntura económica de estagnação e em que parceiros como a PT e antigo BES já iniciaram o seu processo de afastamento da indústria de futebol. Não digo que seja um all-in para este ano, mas olhando para um horizonte de três anos parece-me que os riscos que o Porto está a correr nunca foram tão grandes - e que em determinados pontos se equiparam ao que Godinho Lopes fez no Sporting. Se correr mal...