sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

E entretanto, numa galáxia não muito distante...

in publico.pt

... a FIFA corta pela raiz a partilha de passes de jogadores, num processo que ganhou uma enorme visibilidade com o conflito entre o Sporting e a Doyen - a partir do qual a UEFA decidiu não adiar mais uma decisão e forçar a FIFA a fecharem um tema que já se arrastava há mais de seis anos.

O período de transição é afinal ainda mais apertado do que se pensaria inicialmente (falava-se em 3 anos). Os contratos atuais poderão ser cumpridos até ao fim, mas novos contratos estão limitados a um máximo de um ano. E a partir de maio de 2015 deixa-se definitivamente de se poder realizar transferências em que um fundo fica detentor de um passe.

Claro que os fundos irão tentar contornar esta restrição, provavelmente colocando-se exclusivamente num papel de financiador, mas há várias coisas que vão mudar:
  • Os clubes que recorrerem aos fundos enquanto financiadores terão sempre que declarar a totalidade dos valores transacionados (o valor dos passes de Brahimi e Aboubakar para o Porto em vez de ser €3,5M passaria para €16,5M - com o reflexo que isso tem nos custos anuais de amortização de passe), o que torna mais difícil contornar o Fair Play Financeiro.
  • Os valores financiados ficam registados no passivo do clube, à semelhança dos empréstimos bancários e obrigacionistas - ao contrário do que se passa agora, em que há apenas uma omissão do valor que os fundos colocaram, quer ao nível do ativo (valor dos passes) e do passivo (valor do passe pertencente a 3ºs).
  • Os fundos deixam de poder ser proprietários de tantos e tantos jovens jogadores (principalmente na América do Sul), e de lhes controlarem a carreira desde cedo - o que significa que os clubes deixarão de ter a concorrência dos fundos na deteção de jogadores com potencial.
  • Os clubes portugueses terão que ser mais criteriosos nas contratações. Fica mais difícil haver uma grande concentração de talento, é verdade, mas essa política é uma loucura para a realidade nacional pelos elevadíssimos custos salariais que isso implica. Basta olhar para o défice operacional que os grandes apresentam para perceber que esta estratégia não é minimamente sustentável. Gastar apenas aquilo que se tem é um princípio saudável que há muito foi esquecido. Arrisca-se demasiado no futebol português.

Em duas palavras: mais transparência. O que só pode ser uma coisa boa.