segunda-feira, 13 de abril de 2015

Olegário não quer que vença

Mal foi conhecido o onze escolhido por Marco Silva, seria difícil esperar um espetáculo de antologia por parte de uma equipa que deixava de fora três dos seus jogadores mais importantes: Nani, William e Slimani. As opções de Marco Silva são compreensíveis - a gestão física do plantel é uma necessidade -, mas nada fazia prever o péssimo início de partida a que assistimos, digna de um conjunto de 11 indivíduos desconhecidos colocados a jogar juntos pela primeira vez sem qualquer tipo de preparação. Mas progressivamente a equipa lá foi acertando as agulhas e acabou a primeira parte a dominar por completo a partida, alcançando dois golos sem resposta.

Só que, à boa maneira do Sporting 2014/15, o conceito de jogo resolvido não existe, permitindo logo após o reatamento da partida um golo ao adversário. Partida relançada, que deu espaço para o surgimento do furacão Olegário que marcaria de forma incontornável os acontecimentos até ao final. 



Positivo

Mané no meio - não se pode dizer que o rapaz tenha feito uma exibição de encher o olho, mas o que é facto é que Carlos Mané voltou a picar o ponto, acrescentando mais um golo ao seu pecúlio. Com o passar do tempo, parece cada vez mais evidente que é um desperdício tê-lo apenas encostado a uma faixa, onde invariavelmente tem prestações pouco memoráveis. Hoje mais uma vez destacou-se sobretudo pelo que fez no centro do terreno: o golo, num belo gesto técnico, e um par de iniciativas à entrada da área que partiram a defesa do Setúbal. E acabou por ter indiretamente influência no golo de Tanaka, já que era Mané a referência de ataque naquele lance. Aliás, parece mais talhado para ser um 9 do que o próprio japonês.

O renascimento de Miguel Lopes - mais uma assistência e novo jogo competente do número 13 do Sporting. Tem sabido aproveitar o que quer que se esteja a passar com Cédric, justificando a titularidade com uma consistência exibicional que ainda não tinha demonstrado desde que passou a equipar de verde e branco. Muito ativo a apoiar o ataque, como tem sido norma, e mais certo a defender do que é costume.

E o Tanaka já marcou - mais um bom golo, que acaba por ser muito revelador do jogador que é. A qualidade do seu pontapé é notável, mas infelizmente é inversamente proporcional ao à-vontade que demonstra dentro da área como homem mais adiantado. Sendo bastante mais útil fora da área do que lá dentro, isso torna-o um problema num sistema em 4-3-3. Hoje, apesar disso, conseguiu deixar a sua marca.


Negativo

A arbitragem - um desastre. É caso para dizer que o Sporting conseguiu ganhar APESAR de Olegário Benquerença. A expulsão de Venâncio foi correta (devia ter visto vermelho direto em vez de segundo amarelo), mas o árbitro aparentemente ficou de consciência pesada porque quis compensar o Setúbal à primeira oportunidade, expulsando Ewerton de forma inqualificável três minutos depois. Teve um critério de exibição de cartões absolutamente tendencioso - tolerância zero para o Sporting e rédea solta para os setubalenses. O Sporting viu 6 amarelos e 1 vermelho em 17 faltas cometidas (alguns deles tremendamente forçados), o Setúbal viu 1 amarelo e 1 vermelho (com vários por mostrar) em 15 faltas cometidas. Felizmente que a sua carreira está a chegar ao fim - só espero que não se lembrem de o premiar com a final da Taça.

Os primeiros minutos em cada parte - os primeiros dez minutos de jogo foram de uma pobreza exibicional confrangedora. O Setúbal parecia um colosso europeu tal a nossa falta de capacidade para passar o meio-campo com a bola controlada. A oportunidade de Paulo Oliveira pareceu despertar a equipa, que acabou por fazer um resto de primeira parte de bom nível, justificando a confortável vantagem com que saiu para o balneário. Incrivelmente, a entrada para a segunda parte conseguiu ser ainda pior que a primeira...

Segurem a bola, porra! - desta vez a generalidade da equipa soube fazê-lo nos últimos minutos para segurar o resultado, sacando faltas e parando o jogo sempre que havia oportunidade para isso, mas tinha que vir um jogador armado em esperto a tentar ser o herói e que quase deitou tudo a perder. Desta vez foi Jefferson: aos 92 minutos tentou ganhar a linha e cruzar para Slimani, mas entregou ao adversário, que aproveitando o desequilíbrio do Sporting só não marcou por falta de cabeça fria de Lupeta. Marco Silva ficou furioso, e com toda a razão.

Descanso para Adrien, já - a roleta marselhesa que fez foi deliciosa, mas o passe que fez logo de seguida foi a imagem do resto da sua exibição: desinspirada e inconsequente. Foi raro o passe que acertou no último terço do terreno, acumulando disparates atrás de disparates que revelam o mau momento que atravessa. Compensa com esforço e dedicação inexcedíveis, tendo acabado a partida completamente esgotado. É provavelmente o jogador do plantel que mais precisa de descanso.



Vitória justa com uma exibição q.b. recheada de obstáculos auto-infligidos e de origem externa. Não há descanso para o sportinguista.