quarta-feira, 13 de maio de 2015

Charles Le Fenêtre fala sobre a polémica Lopetegui / Jesus

Quem acompanha este espaço certamente lembrar-se-á que escrevi ontem que me parece abusivo considerar que as palavras de João Gabriel tenham qualquer cariz xenófobo. Independentemente do lado da barricada em que os adeptos estão, penso que estaremos todos de acordo que chamar alguém de "basco" num tweet não tem nada a ver com frases do tipo "um imigrante, num país estrangeiro, devia ter mais respeito pelas instituições, pelos valores e pela cultura desse país""não tem respeito pelos portugueses" ou "estamos perante um caso de um imigrante chegar a um país e se confrontar e entrar em conflito com tudo e todos". Enfim, nunca é demais colocarmos as coisas em perspetiva.

A propósito: sabem quem é que também deu a sua opinião sobre a polémica entre Lopetegui e Jesus? Carlos Janela. Vamos ouvir o que ele tem a dizer sobre o assunto:

(obrigado, André!)

Ora bem, deixa cá contar o número de vezes que determinadas palavras foram proferidas por Carlos Janela:


"portugueses" - 3
"portuguesa" - 1
"imigrante" - 2
"estrangeiro" - 3
"país" - 3
"espanhol" - 2

(não incluí nesta contagem a palavra português pois foi usada no âmbito da expressão "futebol português")


Portanto: temos 14 palavras relacionadas com questões de nacionalidade num discurso de aproximadamente 3 minutos. Não está nada mal.

Ou seja, aqui temos uma opinião crítica que assenta sobretudo no facto de se tratar de um cidadão estrangeiro que vem para outro país para espalhar confusão, temperada com palavras como desprezo, conflito, ataque, estranho, culpado, campanha, divergência, desrespeito, agressivo ou cínico.

Não estou a dizer que Carlos Janela seja xenófobo (o título é uma piada apenas), mas convenhamos que no mínimo trata-se de uma abordagem altamente infeliz a um problema que começa e acaba no facto de envolver dois treinadores de clubes rivais. A questão da nacionalidade de um deles é irrelevante. Ou devia ser irrelevante.

Também é interessante ver que a argumentação utilizada por Carlos Janela para atacar Lopetegui - nacionalidade à parte - assentaria que nem uma luva ao próprio treinador que está a tentar defender, já que não faltam a Jesus episódios do mesmo tipo: provocações em pleno campo a treinadores adversários, desrespeito a jornalistas ou até desacatos envolvendo as forças policiais. Mas os amigos são para as ocasiões, como sabemos.

Enfim, ninguém ficará supreendido pela rasteireza da argumentação deste indíviduo depois da longa lista de opiniões extremadas e ressabiadas que ofereceu ao futebol português. Reciclando as suas próprias palavras, só me surpreende como é que ainda há jornalistas que têm a paciência de o interrogar sobre algumas matérias.

P.S.: Também estranho o motivo que leva Carlos Janela sentir-se à vontade para falar de competência e mérito em assuntos relacionados com futebol, quando o ano que passou no Sporting a brincar aos diretores desportivos terminou a um singelo ponto daquela que passaria a ser a pior classificação da história do clube à data.

A obra de Carlos Janela em 1997/98