quarta-feira, 3 de junho de 2015

Época ganha ou época salva?

Época ganha ou época salva? Esta é uma questão muito interessante que seguramente dividirá os sportinguistas. Não sei se essa divisão acontece apenas por questões de interpretação dos resultados obtidos: em alguns casos, a resposta será seguramente dada em função da tomada de posição de cada um face à polémica Bruno de Carvalho / Marco Silva; noutros, será a recusa em aceitar que qualquer época que não termine com a conquista do campeonato possa ser abertamente considerada como positiva, em função da grandiosa história do Sporting Clube de Portugal.

A meu ver, para definirmos se uma época pode ser considerada ou não de sucesso, temos que analisar sobretudo à luz dos resultados e das condições que tivemos para os obter, mas também olhando para a história recente do clube.

Analisando o nosso percurso no campeonato, fica a ideia de que poderíamos ter feito melhor. Não digo que seria obrigatório terminarmos numa posição superior àquela em que terminámos, mas a meu ver tínhamos condições para nos mantermos na luta pelo título durante mais tempo. Se a atitude competitiva da equipa tivesse sido outra naqueles empates no primeiro terço de campeonato (nomeadamente Académica, Belenenses, Paços e Moreirense) e na humilhante derrota em Guimarães, poderíamos ter evitado a perda de pontos suficientes para acompanharmos Benfica e Porto na classificação até às últimas jornadas. O balanço que faço é, portanto, que tivemos uma participação um pouco abaixo das expetativas.

Na Liga dos Campeões tivemos uma participação bastante digna. Acabámos por ser eliminados por uma decisão de arbitragem escandalosa. A vitória em casa com o Schalke, a recuperação de 1-3 para 3-3 em Gelsenkirchen com um jogador a menos, a excelente segunda parte na receção ao Chelsea e as boas exibições com o Maribor deixaram uma imagem bem positiva da equipa na Europa. Uma vez despromovidos à Liga Europa, também fizemos um bom par de jogos contra o Wolfsburgo. Ou seja, acabámos na posição mais previsível em função do pote em que estávamos no sorteio. Na Liga Europa éramos cabeças de série mas houve manifesto azar ao nos ter saído a equipa alemã. Resumindo, tivemos uma participação na linha das expetativas iniciais.

A Taça da Liga, em função dos constrangimentos ditados pela direção, era um não-objetivo. Foi útil apenas para lançar Tobias Figueiredo e para dar minutos de competição aos menos utilizados e jogadores da equipa B. 

A conquista da Taça de Portugal foi, evidentemente, o ponto alto da época. O percurso começou com uma vitória categórica no Dragão, seguindo-se depois um conjunto de jogos bastante acessível até nos qualificarmos para a final. Em alguns deles ainda passámos por alguns sobressaltos, mas com maior ou menor dificuldade acabámos por nos impor. A final com o Braga acabou por ser um desfecho épico para a competição e para a época do Sporting. Creio que superámos as expetativas nesta competição, sobretudo pela vitória alcançada no Dragão.

Perante isto, o que dizer da época na globalidade? Para mim, é uma época ganha. Podemos afirmar à boca cheia que um clube como o Sporting não pode ficar satisfeito apenas com uma Taça de Portugal, mas eu não concordo com isso atendendo às circunstâncias que vivemos. Não só temos o handicap de termos uma aposta desportiva fortemente condicionada pelo acordo com a banca, como também não podemos ignorar o facto de que há sete anos que não ganhávamos nada. O hábito de vitória ajuda a atrair mais títulos e, por outro lado, a falta de hábito de vitória representa um acumular de pressão que nos grandes momentos se tem virado demasiadas vezes contra nós. Esta conquista deixa libertar muito desse vapor, aumentando o nível de confiança dos adeptos e da própria equipa, para além de poder significar um importante passo para o crescimento dos nossos jovens jogadores.

Como é evidente, não podemos continuar a ficar satisfeitos para sempre conquistando apenas a Taça de Portugal. O desafio que se abre agora é outro: consolidar o hábito de ganhar e de estar em todas as decisões até ao final.