segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Rui Vitória dixit

Quanto mais leio ou ouço as palavras de Rui Vitória na flash interview e na conferência de imprensa, mais me repugna a falta de honestidade intelectual da análise totalmente enviesada que fez e a falta de frontalidade do treinador benfiquista em ser incapaz de assumir as responsabilidades pelos resultados enquanto responsável da equipa, recusando-se a responder a quaisquer perguntas relacionadas com as suas opções técnicas e com a estratégia que decidiu usar em Alvalade.

Como tal, parece-me imprescindível fazer uma confrontação entre as palavras de Rui Vitória e aquilo que se passou em campo, sem nos limitarmos apenas aos lances em que os benfiquistas reclamam terem sido prejudicados.


"Começo pelo final, altura em que houve um penálti limpinho, limpinho, que tem de ser marcado."

Aqui tenho que dar razão a Rui Vitória. Efetivamente, a seis minutos do fim do tempo regulamentar, Samaris empurra Slimani dentro da área com os dois braços. Vendo as repetições, o penálti é claro. Jorge Sousa, que poderia não ter uma visibilidade perfeita para o lance, entendeu ser simulação de Slimani e mostrou-lhe o cartão amarelo.



"Se soubessem o que aconteceu viam quem devia ter sido expulso."

Uma frase que assenta que nem uma luva a Jardel, que aos 52' deveria ter visto o segundo amarelo por uma falta sobre Adrien numa jogada de contra-ataque do Sporting.



"Ser bom não é ser bonzinho, não é ser bombom."

Em alguns casos, não se é nem bom nem bonzinho. Veja-se o caso de Eliseu, que por duas vezes chutou a bola contra jogadores do Sporting que estavam no chão. Dois amarelos que poderiam ter sido mostrados. Sobra o bombom em Eliseu.


"Não quero ser comido de cebolada, pois o Benfica merece respeito."

Naldo esteve ausente do dérbi por ter empurrado Lito Vidigal. Cumpriu no sábado o primeiro de dois jogos de castigo, mas ainda corre o risco de sofrer uma suspensão de dois meses. No final do jogo houve trocas acesas de palavras entre os vários intervenientes do jogo, mas Jardel decidiu levar a discussão para um outro nível e empurrou Raúl José. É certo que o nosso treinador adjunto não abrilhantou o momento com um mergulho para a piscina a la Lito Vidigal, mas será que vai aparecer alguma coisa nos relatórios do jogo para serem apreciados pelas instâncias disciplinares da FPF?



"Tenho aqui dois jogadores que acabaram de ir para o hospital."

Aqui Rui Vitória misturou alhos com bugalhos. Falou em modo de queixa, na sequência do penálti que reclamava a seu favor. Os jogadores que foram parar ao hospital lesionaram-se na sequência de lances perfeitamente normais, em que não houve qualquer tipo de maldade ou agressividade excessiva. Mas se Rui Vitória quiser falar em agressividade excessiva, pode sempre olhar para aquilo que os seus jogadores fizeram ao longo dos 120 minutos. Aqui ficam três exemplos:

1. Talisca vira João Mário do avesso numa entrada duríssima a destempo.



2. Sílvio vira Adrien do avesso noutra entrada duríssima a destempo.



3. Samaris faz uma falta violenta com a bola já bem longe de Gelson. Podia ter sido interpretada como agressão ao jogador do Sporting, mas o grego viu apenas cartão amarelo.





"É muito fácil colocar dois jogadores nossos na rua."

Em relação ao jogo de sábado, estamos conversados. Se o árbitro tivesse sido rigoroso, poderiam ter sido mais que dois os jogadores do Benfica expulsos. Mas até é uma queixa engraçada vinda de um treinador que até esta partida ainda não tinha tido nenhuma expulsão nas competições internas. Por outro lado, o Sporting já viu dois jogadores seus serem expulsos no campeonato.

Posteriormente Rui Vitória recuou às partidas anteriores entre Sporting e Benfica, recuperando dois penáltis que ficaram (efetivamente) por assinalar a favor do Benfica (sobre Gaitán na Supertaça e sobre Luisão no campeonato). Mas para ser coerente não pode ver apenas os erros que o prejudicaram, quando existiram vários erros que o beneficiaram nas mesmas partidas: o golo anulado a Teo e a expulsão perdoada a Sílvio na Supertaça, e as expulsões perdoadas a Samaris e Jonas no jogo do campeonato. Recordemos dois desses exemplos.





"Se é para fazer barulho nós também sabemos fazer."

O que quero demonstrar com todos os exemplos que coloquei neste post? Que não foi uma arbitragem à Capela ou à Gomes, em que os erros foram todos para o mesmo lado. Sim, Slimani devia ter sido expulso, admito que o lance perto do fim entre João Pereira e Luisão é duvidoso (mas não acho que seja um penálti claro). Colocar a responsabilidade da derrota no árbitro quando existiram erros para os dois lados é apenas uma forma que Rui Vitória encontrou para não ter que falar na dolorosa verdade: não consegue colocar a equipa a jogar à bola, apesar de ter praticamente o mesmo plantel com que Jesus levou a equipa à vitória no campeonato do ano passado.