António Araújo detém 10% dos direitos económicos de Rafa. Assumindo que o valor da transferência é de €16M, isto significa que o empresário receberá €1,6M pela percentagem que lhe pertence. Mas António Araújo também é o agente de Rafa, o que significa que receberá uma verba adicional nessa qualidade. Se forem os 10% da praxe, receberá mais €1,6M. Mas António Araújo quer também receber pelos serviços de intermediação que terá prestado. António Salvador diz que as negociações com o Benfica foram feitas diretamente entre presidentes, mas António Araújo defende-se dizendo que tem uma procuração assinada pelo Braga para conduzir o processo, pelo que exige mais €1,6M.
A brincar, a brincar, é bem possível que o empresário saque, de uma assentada, quase €5M. Rafa precisará de quase dois anos para receber um valor semelhante, pois o Benfica vai pagar-lhe um salário anual bruto de €3M. Faz algum sentido que o valor dos serviços prestados por um empresário seja superior ao do talento do jogador que representa?
A realidade é que o negócio está neste momento pendurado por causa da ganância de um indivíduo que deveria dar graças a todos os santinhos pelo euromilhões que lhe foi cair nas mãos. É provável que este impasse venha a ser desbloqueado (alguém terá de pagar, obviamente), mas não deixa de ser um castigo irónico para dois dos clubes que mais têm contribuído em Portugal para o crescimento desmedido da força e influência dos empresários nos negócios dos clubes - basta ver a forma como delegam em Jorge Mendes a gestão dos seus plantéis.
Há para aí um garoto que tem andado a alertar contra este mal - não contra os empresários em si, mas contra o poder excessivo que lhes foi sendo cedido pelos clubes. Aquilo que deveria ser uma exceção, é agora a regra. Mas como dá muito trabalho lutar contra os poderes instituídos, deixaram-no sozinho nesse combate. Salvador e Vieira merecem provar do veneno que ajudaram a preparar. O jogador é a única vítima no meio de todo este processo.